A Estranha Beleza das Salas de Estar Romenas

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A Estranha Beleza das Salas de Estar Romenas

Bibelôs de porcelana, carpetes de acrílico nas paredes, ícones religiosos e parafernália comunista decoravam toda casa pós-soviética de respeito, com ramificações impressionantes e muitas vezes enlouquecedoras.

Regimes opressores costumam impor certas modas a seu povo. Da proibição dos sutiãs pelo Al-Shabaab ao último mandato de corte de cabelo de Kim Jong Un, pode-se dizer que, ao menos do ponto de vista estético, uma pitada de fascismo não é a pior coisa do mundo. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre o regime de Ceaușescu e seu efeito nas salas de estar da Romênia. Bibelôs de porcelana, carpetes de acrílico nas paredes, ícones religiosos e parafernália comunista decoravam toda casa pós-soviética de respeito, com ramificações impressionantes e muitas vezes enlouquecedoras.

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O artista romeno Claudiu Cobilanschi passou o último ano colecionando fotografias de salas de estar romenas de bom gosto e agora ele está expondo-as num Museu de Salas de Estar on-line. Cresci cercado por estátuas de plástico de Buda e esculturas africanas falsas de madeira, então, entrei em contato com Claudiu para bater um papo.

VICE: Como você teve a ideia para esse projeto?
Claudiu Cobilanschi: Salas de estar me fascinam. Quando entrava na casa de amigos, eu passava horas observando as decorações – admirando as toalhinhas de mesa bordadas à mão e todas as lembranças estranhas. Em casa, tínhamos uma estante embaixo da televisão onde minha mãe colocava ritualmente suas melhores estatuetas de vidro e cerâmica: um coelho, cachorros, uma cesta vazia. Estive trabalhando nessa ideia há mais de um ano, mas isso tomou a forma de um museu online nos últimos 10 dias.

Eu sei que você também queria organizar visitas guiadas a essas salas. Como você teria feito isso?
Teria sido o melhor passeio de Bucareste. Mas as pessoas ficavam nervosas – a obsessão por propriedade privada as roía e elas tinham medo que o fato de pessoas entrando em suas casas se transformasse em paranoia. Mas teriam sido passeios pitorescos, nos quais você conheceria as salas enquanto comia azeitonas e tomava café com os anfitriões. Banqueteando-se com a visão do universo proibido dos romenos.

Por que você acha que esse projeto é necessário?
Suspeito que falte senso de humor a meus compatriotas, mesmo gostando de dizer que somos brincalhões. Acho que é útil tentar acordar memórias perdidas, nos reposicionar quanto à nossa criação urbana.

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Quantas fotos você tirou e qual seu critério de seleção?
São aproximadamente 70 fotografias no Museu das Salas de Estar. Mas minha coleção continua crescendo e também tenho recebido contribuições de fãs, o que é incrível. Além disso, não posso dar a você nenhuma informação sobre esses espaços, porque a ideia do projeto veio muito depois de eu ter feito as fotos. No momento, estou repensando meu critério de seleção, o que significa que estou aberto a outros pontos de vista.

O ditador romeno Nicolae Ceaușescu conferindo uma sala de estar. Foto enviada por um fã do projeto.

Qual foi a sala de estar que mais impressionou você?
Na época em que as crianças liam Júlio Verne, um amigo meu de Bucareste me convidou para ir à casa dele. Ele tinha uma coleção gigante de cactos na sala e na varanda ao lado. Ele tomava conta deles direitinho e tinha dioramas de areia para eles. Ele tinha feito até uma instalação de iluminação especial. A sala de estar do Florin me fascinava porque, comparada com a sala de estar onde cresci, tratava-se de outro universo.

Você conheceu pessoas estranhas enquanto fazia as fotos?
Todo mundo é estranho de um jeito ou de outro. Um vizinho aposentado tinha transformado sua sala de estar numa oficina de eletrônicos – ele tinha lâmpadas e tomadas por toda parte. Poucas pessoas que moram em apartamentos têm garagem, então, elas usam o maior espaço disponível na casa como oficina.

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Ouvi dizer que você quer publicar um livro sobre salas de estar romenas.
Não seria meu primeiro livro como artista e posso publicar assim que eu quiser. Espero desenvolver melhor a maneira como olhamos para essas cápsulas do tempo que chamamos de sala de estar.