Sebastião Teixeira (à direita, de t-shirt às riscas), é Miramar.Não há nada pior do que entrevistas a músicos. O tortuoso debate entre quem não sabe o que perguntar e quem não tem nada para dizer, repetido todas as semanas em jornais que os miúdos ainda compram para saber que discos sacar.Esta não é uma entrevista dessas. É pior. É a mais irrelevante de todas as conversas irrelevantes e uma homenagem ao mais sofrível de todos os subgéneros jornalísticos. E começa, claro, como mandam as regras, com uma introdução melosa:Miramar. O que mira Miramar? Para onde se movem os olhos curiosos de uma das mais recentes descobertas da música de dança portuguesa? E o que é isso de música de dança portuguesa? Neste país de pés de chumbo, há ainda quem nos queira dar baile? Miramar é Sebastião Teixeira, o miramaroto que quer pôr Portugal a dançar. Será que consegue?VICE: Olá Sebastião.Miramar:Olá.Posso tratar-te por tu, não posso?Pode, sim.Quem é Miramar?Os Miramar, enquanto projecto musical, sou eu, Sebastião, mas é impossível não contar com todas as pessoas que colaboraram comigo a tantos e tão diferentes níveis para ajudar este projecto a ganhar vida. Este disco sai por uma editora discográfica independente chamadaDuro, que é minha e dos meus dois melhores amigos, Duarte e Rodrigo. Sem eles, nada disto seria possível.Se não fosses músico, o que gostarias de ter sido?Infelizmente, neste país não há apoios para os artistas e é difícil viver disto. Acho mesmo que há uma crise de valores. Às vezes chego a pensar se sou realmente músico, também porque acho que a carreira de um músico faz-se em consonância com a sua própria vida e eu ainda só tenho 32 anos.O que é para ti a música? Que papel desempenha na tua vida?Para mim a música tem um papel importante: fantasiar que um dia vou conseguir fazer uma coisa sem grande esforço, mas com muito prazer. Ganhar relativamente bem e ser admirado por outros humanos.De que maneira é que certas bandas te influenciaram?Sinceramente, acredito que se não as tivesse conhecido, nunca teria pensado em fazer música.De zero a dez, qual é o teu número preferido?O primeiro é o nove, porque é o meu dia de anos. E o segundo o sete, porque é o mês dos meus anos.Que discos levarias para uma ilha deserta?Bach. Muito Bach. Está lá tudo.Porquê cantar em inglês?E por que não? Pode ser que no próximo disco me apeteça cantar em latim, por exemplo. E aí, fazias-me essa pergunta na mesma?Dori me, interimo, ayapare, dorime?Ameno. Ameno latire.E projectos para o futuro?Tentar levar o nome Miramar o mais longe possível, além fronteiras. Acredito na qualidade da produção nacional e acho que este é também um caminho válido no combate à crise.De que maneira é que a tua música pode ajudar Portugal neste momento difícil que o país atravessa?Se as pessoas prestarem atenção às minhas letras vão ver que lá está tudo para sermos como os países nórdicos. Eles pagam muito impostos, mas têm muito retorno — é uma sociedade muito evoluída e justa.Fala-me do teu processo criativo.Componho ansiosamente esboços muito manhosos, geralmente em casa e de cuecas. Depois, o Duarte Ornelas, que é o produtor, torna-os em canções incríveis.Quando é que sai o teu primeiro longa-duração?Se tudo correr de feição, lá para Setembro.O vídeo matou a estrela da rádio. Estás disposto a correr o risco de ser uma estrela da rádio agora que saiu o primeiro single?Não, até porque sinto que não teria talento para ser apresentador de rádio.Tens medo da morte?Não da minha… Tenho medo da morte dos que amo.
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