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A Marcha Contra as Mudanças Climáticas Vai Fazer Diferença?

Protestar contra as mudanças climáticas vai fazer diferença para as elites globais, que vão se reunir para outra importantíssima reunião de cúpula sobre o assunto?

Todas as fotos por Matt Taylor. 

No domingo, mais de 300 mil pessoas se juntaram à People Climate March em Manhattan. Foi o maior protesto ambiental da história, uma amostra diversa e frenética de força e, nesse sentido, um sucesso espetacular. Mas a pergunta que pairava sobre o evento continua: todo esse som e fúria vão fazer diferença para as elites globais, que vão se reunir para outra importantíssima reunião de cúpula sobre mudanças climáticas nesta terça-feira?

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Liderados por uma procissão de povos indígenas, os ativistas começaram a marcha um pouco antes das 11h30. Além dos típicos hippies com flor no cabelo, garotos negros e hispânicos de todo o país estavam presentes. Pontuado pelas mortes de Eric Garner em Nova York e de Michael Brown em Missouri, o verão da brutalidade policial nos EUA esteve sempre presente com as legiões de manifestantes gritando os nomes dos rapazes assassinados de tempos em tempos.

O evento foi essencialmente uma grande festa. Carros alegóricos elaborados desciam lentamente a rua cercados por ativistas com cartazes exigindo ação e bandas marciais. Dentro da multidão, alguns radicais estavam convencidos de que os líderes do movimento ambiental estavam enganados se achavam que as emissões de carbono podem ser reduzidas - e os piores efeitos do aquecimento global evitados - sem uma remodelagem dramática da economia global.

"Temos que reconhecer que este é um evento absolutamente histórico", disse Kshama Swant, vereadora socialista indiana-americana de Seattle, cuja marca radical de política tem feito ondas no Noroeste Pacífico e em todo o país. "Mas você não pode confiar nas pessoas que estão no comando da cúpula do clima, porque elas são submissas às corporações petroleiras, ao lobby do petróleo. Toda essa riqueza do petróleo, do carvão, tudo está nas mãos de algumas centenas de pessoas que não têm incentivo para investir em energia renovável."

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A ocasião teve um toque extra de urgência quando cientistas do Global Carbon Project divulgaram, no mesmo dia, que as emissões de gases-estufa no mundo escalaram outros 2,3% para uma nova alta recorde em 2013. Então, enquanto os líderes mundiais se preparavam para discutir um (possível) acordo climático na conferência de Paris do ano que vem, eles seriam lembrados do que está em jogo e quão importante é essa questão. Pelo menos era o que todos esperavam.

Ativistas de esquerda, como Kshama Sawant (centro) do Partido Socialista Alternativo, formavam uma minoria franca na marcha. 

De uma perspectiva puramente numérica, os organizadores não podiam esperar mais.

"Completamente inacreditável", me relatou Bill McKibbern, um ambientalista mais conhecido por sua oposição agressiva ao oleoduto Keystone XL, sobre o número de pessoas presentes. "Muito, muito mais do que esperávamos. Não só o maior protesto contra as mudanças climáticas da história, mas claramente a maior manifestação política de qualquer tipo no país em muitos anos. Isso significa que as mudanças climáticas estão no topo da agenda."

Sim, muitos líderes políticos norte-americanos começaram agora a levar a ameaça de elevação do nível dos mares e do clima extremo mais a sério. A EPA (a Agência de Proteção Ambiental americana) finalmente definiu novas regras para usinas a carvão em junho, o que deve cortar uma fatia das emissões de carbono norte-americanas. A administração do prefeito de Nova York, Bill de Blasio - que compareceu à marcha -, anunciou, no domingo, novos planos para cortar as emissões locais em 80% até 2050. Por outro lado, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o presidente russo Vladimir Putin e o presidente chinês Xi Jinping não vão participar da reunião de cúpula na terça-feira, sinalizando que alguns dos poluidores mais poderosos do mundo não ligam muito para as mudanças climáticas, independente de quantas de pessoas saiam às ruas de Nova York.

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Então, mesmo que os ambientalistas insistam que esse foi um momento seminal para o movimento, eles sabem que o impacto imediato disso provavelmente será negligenciado.

"Nada vai acontecer" na reunião de cúpula da ONU, me garantiu McKibben. "Aquilo é uma luta entre profissionais. Esse não é o objetivo da marcha. Estamos injetando pressão no sistema. Quanto mais pressão injetarmos, uma hora eles terão que fazer algo para liberar isso."

Claro, a demonstração de apoio entre classes raciais e sociais - sindicatos, por exemplo, que ficavam fora da questão do clima no passado, estavam todos presentes no domingo - será notada pelos políticos eleitos e pelo público em geral. Mas, entrevistando os ativistas, que pareciam estar se divertindo muito, eu continuava tropeçando no problema mais sistemático do capitalismo global que Sawant levantou. Enquanto oligarcas da energia continuarem dominando nosso sistema político, as massas continuarão a ser vistas como irrelevantes, mesmo com demonstrações inspiradoras como essa. Os participantes com quem falei acreditavam que os americanos mais jovens estavam se tornando mais abertos à ideia do socialismo - ativistas esperavam que o que antes era apenas uma nota de rodapé na história seja cada vez mais visto como a única escapatória desse caos. (Se os jovens norte-americanos que não participam de marchas da esquerda em Nova York consideram o socialismo uma opção ou não, é uma pergunta que fica para outra hora.)

Depois que a manifestação tomou a 34th Street, a marcha virou uma festa de rua com b-boys e rappers de lugares como o Arizona se revezando no microfone e declamando sua poética contra os ultrajes do verão. Gritos de "Foda-se a Polícia!" explodiram em algum momento, um sinal de que a marcha talvez tenha sido impulsionada por um antiautoritarismo que vai além das mudanças climáticas. Dos jovens negros sendo baleados nas ruas a emissores de carbono que lucram com a destruição contínua do nosso meio ambiente, há muitos motivos para se estar com raiva atualmente. Mas se as pessoas no comando vão notar - ou se importar - com toda essa indignação justa, aí é outra história.

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Tradução: Marina Schnoor