Este tipo recria tragédias com miúdos

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Este tipo recria tragédias com miúdos

Brincando com coisas sérias.

O Jonathan Hobin é um fotógrafo canadiano cujo o mais recente trabalho conta com uma data de miúdos que recriam algumas das notícias mais brutais dos últimos anos, desde a morte de JonBenet Ramsey, passando pelo atentado às Torres Gémeas ou até às ameaças de uma guerra nuclear. À primeira vista, é difícil perceber se os miúdos nas fotos entendem o significado daquilo que estão a representar, ou se para eles, tudo não passa de uma brincadeira. Mesmo assim, muitas foram as pessoas

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que não curtiram a ideia, várias vezes descrita como doentia e de mau gosto. Até os pais das crianças já foram criticados por permitir que os seus filhos participassem nisto.  Depois da polémica, liguei ao Jonathan para saber um pouco mais sobre as críticas que recebeu, a maneira como os miúdos absorvem as notícias e sobre a crítica que este trabalho tenta fazer aos meios de comunicação sociais ocidentais. Afinal, nós todos somos, ou não, miúdos a tentarem ser adultos? Ah, já agora, o Jonathan também foi suficientemente fixe para nos mostrar fotos exclusivas e que ainda não tinha publicado.  VICE: Que tipo de resposta recebeste dos miúdos que aparecerem nas tuas fotos?
Jonathan Hobin: No geral, divertiram-se muito. Tinham autorização para fazerem coisas que normalmente se lhes nega — até podiam comportar-se como loucos, se quisessem. O mais engraçado é que os miúdos fazem de conta que se matam a toda a hora. Mesmo quando brincam com pistolas de água, estão a fingir que se matam. É algo que se vê a toda a hora. Faço uma referência directa a tudo aquilo que se ensina aos miúdos e isso incomoda as pessoas. Regra geral, que pensam os pais?
Nunca fotografei um miúdo sem antes ter falado claramente com os seus país sobre as minhas intenções e aquilo que espero das fotografias. Algumas pessoas pensam que estes pais estão a ganhar bom dinheiro ou que estão à procura de fama à custa dos seus filhos. Acho que as maioria destes pais são pessoas bem formadas, que entendem os argumentos e acreditam que as fotos retratam um ponto de vista válido e, por isso, querem participar dele.  Houve uma situação com a fotografia da JonBenet Ramsey, uma miúda foi vítima de um ataque sexual e assassinato. Tivemos muito cuidado com esta fotografia. A miúda não entendia o que se estava a passar, mas a mãe estava claramente preocupada sobre se devia ir em frente. Acho que, neste caso, qualquer pai teria dúvidas.   Os miúdos entendem o que estão a representar?
Às vezes os miúdos não percebem à primeira. Apesar de só terem três ou quatro anos, viram as Torres Gémeas e disseram: “Eu seguro o avião, foi aqui que ele chocou contra o edifício.” A mãe ficou admirada. Estes símbolos estão no nosso subconsciente. Estão tão inseridos na nossa cultura que, provavelmente por isso, são reconhecidos de forma tão imediata. Mas há outras imagens importantes como a do ataque com ácidos. A esses miúdos, disse-lhes: “São pessoas que estão à briga. Para aleijar uma pessoa tens que atirar esse líquido.” Tens que lhes falar com termos que eles entendam. Acreditem que eles entendem que é uma pessoa a magoar outra — é essa a conclusão geral. Não podes falar-lhes de coisas mais específicas, como a cultura ou a religião, é muito difícil que percebam temáticas mais complexas. Mas tenho a certeza que no caminho para casa surgem conversas muito interessantes com os teus pais. Achas que as fotos são chocantes?
Não, não acho. Fiquei surpreendido com as reacções das pessoas. Recebi respostas muito diversas, desde pessoas que me enviaram presentes, a pessoas que me enviaram mails a destilar ódio, algumas chegaram a fazer-me ameaças de morte. Como estou muito próximo deste trabalho, é difícil julgá-lo. Faço o que faço, simplesmente isso. Acho que as fotos falam sobre os media estadunidenses. És canadiano, mas escolheste forcar-te mais no conteúdos norte-americanos. Porquê? 
É interessante que digas isso, mas acho que também se podia dizer que é um comentário canadiano sobre como os media estadunidenses têm sido agressivos contra nós. Os meios de comunicação norte-americanos, em particular, estão a criar uma imagem sensacionalista em torno das notícias. A forma como as notícias são apresentadas têm a mesma lógica que o trailer de um filme — como se a notícia fosse ficção. Normalmente escolhem uma história e criam uma narrativa, por isso é que te contam que há sempre um vilão, uma vítima e, talvez, um lugar exótico. É como se vissem uma notícia e a adaptassem a um filme para depois ta apresentarem. Há uma linha, que não é clara, que separa o entretenimento da notícia. Acho que estas fotos retratam sobretudo isso.

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