FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Kinky: Subversão dos Dois Lados da Fronteira

Rock, dance, samba, eletrônica, funk e techno são alguns dos gêneros que entram no repertório da banda mexicana cujo som está povoando os comerciais norte-americanos.
Photo credit: Danika Vargas

"Se você quer zuar depois do show, dê uma passada no ônibus da turnê do Kinky", Wayne Coyne, vocalista do Flaming Lips, disse sobre a banda em quase todas as noites da gig de estreia da Kinky nos Estados Unidos. Levando em conta a porta maltrapilha do ônibus da banda mexicana, é uma frase mais engraçada em retrospectiva, mas o Cohen falou o que todos nós já sabemos: Kinky será a maior e mais influente banda de Monterrey do movimento musical "Avanzada Regia".

Publicidade

Um show do Kinky é incomparável: suado, rápido, sujo e divertido. Meio rave, meio show de punk, meio festa de 15 anos, o show deles tem uma pegada berlinense, levanta Ibiza e depois se entrega a Tijuana. É o maior híbrido de eletrônica e ao vivo visto atualmente.

Camuflada sob as palmeiras, a base de operações da Kinky, em Los Angeles, fica apenas a alguns passos de distância do centro de Beverly Hills. Bem longe de suas raízes mexicanas, os integrantes da banda agora moram em um oásis em meio a sofisticados cafés. Em uma tarde de fevereiro, nós conversamos com o tecladista Ulises Lozano e com o guitarrista Carlos Chairez.

Chairez e Lozano // Crédito: Danika Vargas

Para você entender qual que é da banda, aí vai uma breve introdução: formada em 1998 em Monterey, no México, o foco do Kinky era expandir o conceito do que era considerado dance e do que era música folk. "Monterrey é uma cidade repleta de jovens", Ulises fala sobre sua cidade natal. "É uma cidade universitária que é tanto industrial quanto moderna". Imagine Atenas, na Geórgia, porém mais descolada, mais cheia de tequila e menos focada em rock que toca nas rádios.

A banda já percorreu um longo caminho desde que bradou o seu mantra: "Vamos apenas fazer umas merdas loucas e uns bits de eletrônica com guitarra", que o Carlos diz ter sido a fonte de inspiração deles no início. Com mais de cinco discos nas costas, a banda já tem história. Com letras em inglês ou espanhol, os consumidores americanos os têm devorado. "Quando era criança, nunca achei que fosse conseguir tocar música disco, o que é incrível e um testamento do que somos capazes de fazer como uma banda", diz Carlos meio acanhado sobre o que o grupo já foi capaz de conquistar. Música latina-folk-disco-eletrônica. A última palavra em termos de globalização.

Publicidade

A contradição à norma pulsa nas veias do grupo desde o início. A turnê Unlimited Sunshine, a viagem de estreia que os caras do Kinky dividiram com o Cohen do Flaming Lips, contava com o que pode ser descrito simplesmente como "um leque de astros": Modest Mouse, Cake, De La Soul, e, como o próprio Ulises os descreve: "um grupo de interioranos formado por dez semi músicos e semi mecânicos que atendia pelo nome de The Hackensaw Boys". A banda se lembra de ter perdido seu grupo heterogêneo em Wyoming e ter que pedir carona para conseguir voltar à turnê.

Kinky ao vivo // Crédito: Miguel Laguna

Parte do sucesso da Kinky pode ser atribuído ao posicionamento natural e perspicaz de suas faixas na mídia americana. Durante os tempos mais primórdios, quando várias bandas licenciavam suas músicas para comerciais e clipes toscos e nada a ver, os caras da Kinky viram nisso uma oportunidade.

"Temos um jeito natural de fazer música que é muito visual", Ulises relembra. "Criativamente falando, nunca mudamos nossa música para filmes ou comerciais. Naquela época alguns músicos eram contra usar suas faixas em comerciais, mas achamos que era uma boa oportunidade para chegar até pessoas que não sabiam nada sobre a gente de forma natural e não-conformista."

Licenciamento é algo traçoeiro - mas é possível tirar uma casquinha se você souber tomar as decisões certas. Uma jogada errada e você vai associar para sempre a "Who Are You?" do The Who a CSI, David Caruso e óculos de sol. O Kinky usou a mídia desde o início, o que deu um empurrão na sua carreira até chegar ao que é hoje em dia. Uma música deve complementar, e não dominar os visuais. Alavancar é o segredo. Basta olhar os milhares de lugares em que a sua música tem aparecido na cultura americana: em um grande comercial corporativo (Nissan)? Sim. No videogame número um no mundo inteiro (FIFA 2006)? Sim. Num filme massa com o Denzel Washington (Chamas da Vingança)? Sim. Na famosa série de TV para adolescentes de 15 anos (Gossip Girl)? Também.

Publicidade

Seu disco "MTV Unplugged", o Kinky Unplugged, lançado em fevereiro de 2015, foi uma espécie de largada para o grupo. Conhecidos por se aventurarem constantemente com equipamentos eletrônicos, as exigências que a MTV fez à banda realmente os incentivou a repensar e renovar seu processo de gravação. Produzido pelo Phil Vinall, que já trabalhou com um antenadão das bandas britânicas, incluindo o Placebo, o álbum levou um ano e meio para ficar pronto. Computadores estavam fora de cena e foram substituídos por itens como tábuas de lavar (washboards) e pneus velhos de bicicleta.

"A MTV nos instruiu a não usar paradas eletrônicas, saca, nenhum computador, iPad ou sintetizadores esquisitos. É como se tivesse um corpo da polícia da MTV na nossa cola o tempo todo checando tudo antes de começarmos a produzir uma faixa. Chamávamos a estrutura para a gravação ao vivo do "MTV Unplugged" de nosso "kit lixo", porque consistia em coisas recicladas e fazer som com o que algumas pessoas consideraria ser lixo", Ulises diz, rindo, sobre o processo de gravação.

O disco conta com reformulações de números antigos, novas faixas e covers de músicas folk mexicanas famosas. Tanto o Ulises como o Carlos concordam que a severidade da reorganização fez com que se tornassem um grupo melhor e mais coerente, constatando que foi importante para a banda fazer algo completamente novo, e não repetir sons ultrapassados. Kinky está sempre em processo de subversão - deles mesmos, de tradições latinas e das expectativas americanas, e com isso teceram uma identidade totalmente única.

Kinky está no Facebook // SoundCloud // Twitter

Tradução: Stefania Cannone