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Passando o Natal Na Antártida

O Papai Noel talvez viva no Polo Norte, mas também tem um monte de gente passando as festas lá no ponto mais ao sul do planeta.
​Crédito: ​WikiCommons

O Papai Noel talvez viva no Polo Norte, mas também tem um monte de gente passando as festas lá no ponto mais ao sul do planeta. Conversei com pesquisadores que estão na Estação de Pesquisa Rothera, uma base britânica na Antártida, sobre como é passar o Natal em um continente bem diferente de casa.

Mike Brian, comandante da base, passará seu primeiro Natal em Rothera este ano, estando "no campo", longe da estação, por uns dois anos, anteriormente. Mairi Simms, uma cientista atmosférica, passou o Natal na base no ano passado e irá pra casa mais cedo no ano novo.

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Eles explicaram que seus preparativos para o Natal não são tão diferentes daqueles praticados pelos britânicos em geral. "No final de semana um pessoal se reuniu e decoramos o salão e o refeitório, então tudo já está com cara de festa a essa altura", disse Simms. "Conseguimos umas árvores de natal de mentirinha com um monte de penduricalhos".

No momento são cerca de 70 pessoas na estação, localizada na Ilha de Adelaide, na costa oeste da península da Antártida. Dentre seus habitantes temos cientistas, engenheiros e diversas outras pessoas envolvidas na operação da base e na coordenação de coisas como transporte, entregas e comunicações. Outros pesquisadores estão em campo – acampando em grupos de dois ou quatro até 1600 km de distância da base para conduzirem diversas pesquisas.

No geral, as festividades tem que se encaixar na operação da base. É verão na Antártida agora, claro, e há muito a ser feito enquanto o tempo está bom, então Brian explicou que qualquer atividade festiva deve ser "oportunista". Se o tempo cooperar, aeronaves sairão rumo aos diversos grupos espalhados pelo local mesmo na noite de Natal, o que se traduz em muito trabalho para alguns dos membros da equipe. O trabalho científico também seguirá como exigido, e preparativos para um navio com mantimentos que espera-se para mais adiante na semana precisam ser feitos.

Mas ao menos desta vez, o clima ruim pode ser algo bom, ao menos para os residentes da Rothera que esperam uma folguinha no dia 25. "Do jeito que as coisas estão, parece que vai dar tudo certo, no sentido de que o tempo não estará dos melhores e não haverão condições de voar, e o navio parece que vai atrasar", disse Brian.

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Simms me deu sua última previsão do tempo: nublado mas ainda assim iluminado, com temperaturas por volta dos -2°C e um ventinho gelado. Brian comentou que, sendo este o verão antártico, não existem horas de escuridão. "De fato, a última vez em que o sol se pôs foi em 28 de novembro, então faz um tempinho que a gente não vê um pôr-do-sol", afirmou. "E a última vez que escureceu mesmo foi no começo de outubro, ficou escuro por uns 10 minutos às 2 da manhã".

Mas como eles comemoram o grande dia? Com peru, é claro. O chef da base terá um dia movimentado a sua frente, preparando uma refeição completa, e os pesquisadores confirmaram que couve-de-bruxelas, molho de cranberry e pudim de natal mergulhando em brandy estarão presentes.

Um dos principais desafios é a disponibilidade de ingredientes, já que não se pode simplesmente ir ao mercado na Antártida e comida fresca é rara a não ser quando entregue por uma das aeronaves que visita a base vinda da América do Sul a cada dez dias, mais ou menos. Logo, praticamente tudo é seco, enlatado, ou congelado. "O peru que iremos comer agora provavelmente chegou há um ano atrás, e está congelado deste então", disse Brian. Melhor do que comida espacial de Natal, pelo menos.

O clima na base é o de se juntar para tornar o dia agradável. Um engenheiro de radares, um metereologista e o chef se voluntariam a fazer um quiz de Natal, e Simms reuniu um grupo para cantar canções natalinas no dia 24 de dezembro. A equipe também bateu uma foto natalina (lá em cima) e compartilhou com outras bases ao longo do continente como parte de sua tradição, uma espécie de "olá" sazonal por toda a Antártida. Além do que, ninguém está confinado à base; quando sobra um tempinho, há a possibilidade de dar uma caminhada – "caminhar pelo litoral e ver focas e pinguins e coisas, e icebergs passando" – ou dar uma voltinha de esqui ou snowboard.

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Isso quando não há trabalho a ser feito, é claro. Simms comentou que há aspectos do seu trabalho são contínuos – o clima nunca para – e Brian, é claro, continuará com seus deveres de comandante ao longo dia. "Há certas coisas que teremos que manter funcionando todos os dias", disse.

Quanto aos amigos e família, é possível se comunicar por email e telefone, mas nem sempre pode-se contar com estes meios. "A banda é muito estreita e tem muita gente na base, então a internet é muito muito lenta, além do que tem todo esse trabalho científico rolando", disse Simms. Cortes na energia são comuns também, adicionou. "Por conta do local em que estamos, nossos amigos e familiares só tem que dar um jeito de lidar, assim como a gente."

O navio que deve chegar pouco depois do Natal, porém, talvez traga algumas lembranças festivas de entes queridos em climas mais menos – supondo que eles tenham separado algo com antecedência. "O prazo de postagem para este navio era no começo de stembro, então supondo que tenham sido bem organizados, haverá algo pra gente", disse Brian. "Não acho que vá ter nada pra mim!", riu Simms. Enquanto o correio aéreo chega bem mais rápido à base, qualquer outra coisa que pese mais que uma carta tem que ser enviada via superfície, e o navio tem uma longa jornada à sua frente, parando no meio do caminho para fazer várias coisas.

Para quem está no campo, a vida é ainda mais remota. Eles falam com a base de Rothera via rádio todos os dias, e Brian afirmou que o pessoal ali faz um esforço no dia do Natal para ir até a torre de comunicações e conversar um pouco com quem está do lado de fora.

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Ele relembrou suas próprias experiências em regiões gélidas e afastadas nos dois Natais anteriores. A primeira vez era só ele e um outro cara, um cientista. "Quando fomos lá fora levei um monte de comida congelada e enterrei na neve quando chegamos ao acampamento", explicou – uma coisa em que a Antártida é boa é congelar. "Então com muito improviso, consegui assar dois peitos de frango em um fogãozinho Primus e tínhamos uma garrafa de vinho do porto pro Natal e outra de

Por fim, Brian e Simms pediram que passássemos adiante os votos de Boas Festas e Feliz Natal da equipe da Estação de Pesquisa Rothera, tanto para nossos leitores, quanto seus amigos e familiares, é claro – "a quem sempre lembramos nesta época". Feliz Natal, galera.


Esta matéria foi publicada originalmente em 25 de dezembro de 2013.

Tradução: Thiago "Índio" Silva