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Música

Discos: Spectral Park

Enchidos e música até combinam.

Spectral Park

Crash Symbols

6/10

Não sei ao certo onde fui buscar esta tendência, mas dou por mim muitas vezes a fazer comparações entre enchidos e a música que me inspira mais desconfiança. Entre os muitos casos inseridos nessa regra, gostaria por exemplo de ressalvar que os Hype Williams sempre me soaram a Boards of Canada no lugar de uma salsicha plástica, que passa o dia a rodar num expositor da feira, e que os RTX parecem os Royal Trux transformados num chouriço rançoso. Por sorte ou azar, Luke Donovan e as canções que faz enquanto Spectral Park ficam a uma curta distância de entrar para a galeria de “música que gosto de comparar a enchidos”.

E assim acontece muito por causa da voz esganiçada de Luke Donovan ser incrivelmente semelhante à de Spencer Krug, nos seus discos de Sunset Rubdown, que por sua vez também não se acanham de aproveitar muita da teatralidade de um David Bowie em viagens a Marte. Da mesma maneira que Spencer Krug é um tipo capaz de montar uma canção com pés e cabeça, também este Luke Donovan — uma espécie de Mr. Hyde do primeiro — refaz competentemente o puzzle da canção pop aproveitando tantas peças do lixo (

Spectral Park

foi literalmente feito com discos encontrados no lixo) como da nova produção suja pós-Ariel Pink. Ainda bem para ele, porque só assim escapou de ser comparado a uma farinheira a apodrecer numa estrada psicadélica há mais de duas semanas.