Jeannette Montgomery Barron capturou a energia da cena artística da Nova York dos anos 80

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Jeannette Montgomery Barron capturou a energia da cena artística da Nova York dos anos 80

Armada com sua Hasselblad 2 ¼, a fotógrafa passou a capturar a cena artística de Nova York dos anos 1980, pois estava fascinada com a energia dos indivíduos que viriam a definir o período.

A fotógrafa Jeannette Montgomey Barron se mudou de Atlanta para Nova York em 1979. Depois de se formar no International Center of Photography, ela, armada com sua Hasselblad 2 ¼, passou a capturar a cena artística de Nova York, pois estava fascinada com a energia dos indivíduos – Jean-Michel Basquiat, Robert Mapplethorpe, Cindy Sherman, Julian Schnabel, Andy Warhol, William S. Burroughs, Bianca Jagger, Willem Dafoe – que viriam a definir o período.

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"Mas eu não ia a um monte de festas", ela diz. "Meu objetivo era apenas conseguir as imagens. Eu realmente queria registrar essas pessoas: era como um jogo para mim."

Embora ela diga que "todo mundo estava fotografando as mesmas pessoas na mesma área do centro", seu trabalho – que, em sua austeridade monocromática, tem ecos de Peter Hujar, fotógrafo contemporâneo de Barron – resistiu ao teste do tempo como um documento importante da Nova York dos anos 80, em que músicos, pintores, escritores, estilistas, cineastas, editores, atores, modelos e fotógrafos trabalhavam e se divertiam juntos, fazendo suas próprias regras e moldando a cultura criativa que conhecemos hoje.

Claro, morar e trabalhar como artista na cidade hoje é uma história completamente diferente. "Você sempre romantiza o passado, mas realmente acho que era um ambiente diferente", frisa Barron. "Nova York era um lugar onde você podia viver e trabalhar como artista. Tudo mudou. É muito difícil hoje, a não ser que você seja superfamoso, e é por isso que muita gente acaba em Los Angeles."

O método de Barron sempre foi nunca tomar muito tempo do tema. Ela não se impunha, era relaxada, e os resultados – seja para a Cosmopolitan ou a Comme des Garçons – são uma lição marcante do uso do tema e da sombra. My Years in the 1980s New York Art Scene é a mais recente coleção do trabalho de Barron. Seu livro anterior, Scene, já mostrava seus famosos retratos, mas essa nova publicação vai além, com folhas de contato, gravuras e lembranças da época. Falamos com ela sobre a história por trás de suas fotos mais famosas.

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JEAN-MICHEL BASQUIAT E ANDY WARHOL

(Imagem acima) "O galerista Bruno Bischofberger me chamou e disse: 'Fotografe o Andy e Jean-Michel, estou fazendo uma exposição das pinturas deles'. Jean-Michel estava muito chapado. Quer dizer, ele fumava baseados enormes. Andy estava deslumbrado com ele. No final dos retratos, pedi que eles assinassem o formulário de autorização. Jean-Michel estava sendo legalista, acrescentando algo extra no dele, e o Andy disse: 'Ah, Jean-Michel, que ideia ótima: vou fazer isso também'. Isso não foi na Factory original, na Union Square – fui até [lá] uma vez, era uma bagunça de lixo que Andy tinha trazido para lá e não sabia o que fazer. A Factory na 33rd Street era muito racional e profissional. Você não ia chegar lá e ver alguém deitado no chão – aquilo eram negócios."

CINDY SHERMAN

"Vi a Cindy numa festa dois meses atrás, e ela é tão tímida que não acredito que a consegui fotografar. Ela provavelmente se arrepende disso. Recentemente, eu estava passando pelas mensagens da minha secretária eletrônica velha e topei com uma da manhã em que a fotografei. Algumas horas antes do encontro, ela deixou uma mensagem dizendo: 'Oi, é a Cindy. Na verdade, hoje não é um bom dia; então, talvez você pudesse vir outra hora. Se você não receber essa mensagem, então pode vir'. Recebi a mensagem, mas fui até lá como se não tivesse ouvido."

BIANCA JAGGER

"Era impossível conseguir uma boa foto dela. Ela era completamente angulosa, uma mulher linda. A fotografia era um trabalho para a Cosmopolitan alemã, e, depois disso, fiquei amiga dela. Almoçávamos juntas, fazíamos compras, comíamos comida macrobiótica e deixávamos as pessoas esperando. Ela estava três horas atrasada para nossa sessão naquele dia – típico dela na época –, e, quando 'Old Man' do Neil Young tocou no rádio, ela começou a chorar."

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WILLIAM S. BURROUGHS

"Era o aniversário dele. Ele estava fazendo 71 anos, e um amigo meu, Howard Brookner, tinha feito um documentário sobre ele; então, arranjamos a sessão. Isso não foi no Bunker – era em outro lugar. Entrei e vi espingardas em cima da mesa, e isso meio que me assustou, tenho que admitir. Pensei: 'Vou tirar as fotos e dar o fora daqui!'. Eu não sabia que as espingardas estavam cheias de tinta para as famosas pinturas de tiro de espingarda dele."

ROBERT MAPPLETHORPE

"O Robert morreu um pouco depois que essa foto foi tirada. Fotografar outro fotógrafo, principalmente um que você admira, é muito intimidador. Fiquei pensando: 'O que eu faço? Sei que vou estragar tudo. Vou esquecer alguma coisa, esquecer o filme'. O que eu já tinha feito antes. Algumas pessoas usavam a parte de trás de Polaroids, mas nunca fiz isso. Ele me acalmou imediatamente (tínhamos amigos em comum) e foi muito inquisitivo sobre o meu trabalho. No final da sessão, ele me ofereceu um copo de leite achocolatado e um baseado. Ele adorava leite achocolatado. Os anos 80 foram uma época muito triste – foi assustador, ninguém sabia o que estava acontecendo. Quando ouvi falar sobre AIDS pela primeira vez, era o "câncer gay" – era assim que isso era chamado. Você via esses caras na rua e sabia que eles iam morrer. Foi muito, muito triste. Perdi vários amigos."

WILLEM DEFOE

"Willem é um grande amigo meu. Já o fotografei várias vezes, mas esse é um still de um filme que meu irmão e Kathryn Bigelow dirigiram: The Loveless. É um filme de motoqueiros e de baixo orçamento para a época. Era o primeiro papel principal do Willem. Depois, ele fez Platoon e se tornou um astro. Willem é um cara incrível. Ele não é durão – essa é só a cara dele."

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JULIAN SCHNABEL

"Ele foi muito gentil comigo. Nos encontramos na Barney's, que, na época, era uma loja pequena. Eu estava sempre no estúdio dele e, dessa vez, acho que eu tinha levado umas impressões para que ele assinasse para mim – era uma coisa que eu fazia as pessoas fazerem na época. Ele escreveu 'Para Jeannette, seu fã, Julian', o que não acho que ele faria hoje. Julian é um cara muito inteligente. É incrível como ele entendeu todas essas permutações em sua carreira. Ele tem um grande estilo."

DENNIS HOPPER E MATT DILLON

"Esse foi outro trabalho para a Comme des Garçons. Era 1991, e eles me pediram para fotografá-los. Ninguém queria voar nessa época; então, eu disse 'Sim, mas só se vocês me colocarem num voo Swissair', que era uma companhia aérea neutra. Eles aceitaram, e foi ótimo. Fotografar dois astros do cinema usando camisetas caras não é um dia ruim de trabalho. Matt Dillon é um doce. Dennis Hopper gosta de agitar as coisas e te provocar um pouco. Ele se diverte com isso."

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