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Μodă

A Rainha Fashion da RDA

Sybille Bergemann foi um ícone da fotografia de moda da RDA, quando a Alemanha ainda era uma nação dividida. Ainda que não existisse moda. Parece um paradoxo? E é.

Sybille Bergemann foi um ícone da fotografia de moda da RDA, quando a Alemanha ainda era uma nação dividida. Ainda que não existisse moda. Parece um paradoxo? E é. Ela andava com o Helmut Newton, inventava roupas que a Stasi (polícia secreta da Alemanha Oriental) não te deixaria comprar, se tornou a primeira fotógrafa de street fashion do mundo, antes mesmo de street fashion existir, e mais tarde fundou a agência de fotografia Ostkreuz. Conversamos com ela sobre moda, o Muro de Berlim, e vestidos de plásticos.

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VICE: Não tinha nenhuma agência de modelos na RDA, então como você escolhia suas modelos?
Sybille Bergemann: Existiam pouquíssimas modelos profissionais, então eu procurava modelos nas ruas ou fotografava minhas amigas.

E elas tinham uma beleza “comunista” ideal?
As mulheres da RDA queriam ser tão bonitas e arrumadas quanto qualquer outra mulher do mundo. Tentávamos acompanhar as tendências internacionais. Isso não influenciava só nossas roupas, mas cabelos e maquiagem também.

Mas vocês não podiam comprar essas roupas em qualquer lugar na RDA.
Era esse o problema. Na maioria das vezes a gente usava roupas feitas em casa, não roupas de super estilizadas que saiam na Vogue. Dinheiro não tinha importância nenhuma, então tínhamos mais liberdade que hoje em dia. De tempos em tempos também imitávamos roupas alemãs ocidentais. Com anotações “para sua informação” ou “como inspiração.” Isso sempre dava problema porque as mulheres sempre queriam comprar essas roupas.

Existiam normas do governo para o que poderia ser fotografado?
Na verdade não. Basicamente tudo tinha que ser otimista, só isso. A gente vivia reclamando, mas olhando para trás agora, acho que não era tão ruim.

Então não existiam tabus?
Existiam. Só não existiam limites quando se tratava de fotografia. Por outro lado, não tenho uma foto se quer do Muro de Berlim.

Você recebia muitas visitas internacionais na sua casa. Helmut Newton, por exemplo.
Helmut Newton nos visitou nos anos 70 e rodávamos o dia todo no meu Trabi (apelido do carro Trabant). De noite tomávamos vinho que o Newton comprava na Intershop (rede de lojas da RDA). Ele era fascinado por produtos da Alemanha Oriental. Ele queria comprar “revistas” numa loja e o vendedor nem entendeu o que ele queria dizer com isso. Nessa época ele foi atacado por feministas nos Estados Unidos. A gente riu muito disso quando ele nos mostrou as fotos.

Você já foi monitorada pela Stasi?
Tínhamos essa impressão o tempo todo. Ouvíamos barulho no telefone e insultávamos a pessoa que estava na escuta. Se por exemplo, a Eva Windmüller, a mulher do Thomas Höpker, ligava de Nova York e começava a contar livremente sobre a sua vida, eu morria de medo, porque achava que ia ser presa.

Nunca pensava em fugir?
Pensava. Eu queria fugir, mas o Arno Fischer, meu marido, não queria então ficamos em Berlim.