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Cinema por Puro Tesão

Azedo. Grosso. Algumas vezes turrão. Mas dentro de um set de filmagem, um profissional dedicado e obstinado.

Azedo. Grosso. Algumas vezes turrão. Mas dentro de um set de filmagem, um profissional dedicado e obstinado. O cineasta e diretor de fotografia Pio Zamuner (1935-2012) criou uma mitologia em torno de si próprio. Italiano de nascimento, fez história dentro da Boca do Lixo, pólo cinematográfico do centro de São Paulo. Zamuner fotografou mais de 40 longas-metragens e dirigiu os doze últimos filmes do comediante Mazzaropi. Mas morreu completamente esquecido em janeiro deste ano. O cineasta Thiago Mendonça resolveu realizar um documentário sobre o realizador. O resultado é Piove, il film di Pio, curta-metragem que será exibido em São Paulo e Rio de Janeiro no festival É Tudo Verdade. Mendonça conversou com a Vice.

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VICE: Como surgiu a ideia de você fazer um filme sobre o Pio?
Thiago Mendonça: Eu conheci o Pio muito tempo antes de fazer esse filme. Criamos uma amizade porque eu passei a frequentar a Boca. Ficávamos horas conversando no bar que ele frequentava. O Pio vivia um universo muito próprio dele. Ficava relembrando os antigos sets de filmagem durante horas. Na realidade, o curta começou de uma aposta. Fiz uma aposta que se eu fizesse um filme com o Pio, ele que iria começar a dirigir. E isso realmente aconteceu.

Quer dizer que o filme além de seu, acaba sendo do próprio Pio?
Com certeza. O filme é um pouco o retrato de uma amizade, de duas gerações do cinema brasileiro. Duas pessoas de lugares diferentes, mas uma mesma paixão. Foi um trabalho todo feito na raça, no peito. As latas pra cópia final vieram do prêmio que o meu amigo Adirley Queiroz (cineasta, diretor do documentário A Cidade É Uma Só?) ganhou esse ano no Festival de Tiradentes. Portanto, o curta acaba sendo um trabalho em que se mistura amizade com vontade. É simbólico na vontade de falar da paixão pelo cinema e em relembrar o passado. O Pio era uma pessoa que praticamente vivia nesse passado, cercado de fantasmas. É um trabalho muito honesto.

Antes de dirigir esse documentário sobre o Pio, você fez sobre outro sobre o jornalista e cartunista Minami Keizi (Minami Em Close Up, em 2009). Você pretende fazer mais trabalhos sobre figuras esquecidas de São Paulo?
Tudo o que moveu vivência do centro de São Paulo. Sou uma pessoa que cresci e vivo nessa região da cidade. Infelizmente, muitos estão tentando derrubar a memória do local. O centro é uma região com uma história riquíssima. A memória do cinema, do samba, da malandragem e da prostituição paulistana me interessam muito. Tive o privilégio de conviver com baluartes importantes como Pio Zamuner, Minami Keizi e o Hélio Bagunça (sambista paulistano). Todos infelizmente já faleceram. A cultura popular do centro de São Paulo é muito forte. Não escolhi fazer esses filmes. Eles aconteceram.

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Você acredita que esse filme pode colaborar na memória da figura do Pio e do próprio cinema paulista?
Não espero isso. Todos sabemos que a circulação de um curta-metragem é muito complicada. Não acredito que eu consiga preservar a memória. Esse trabalho acaba sendo mais um retrato da vontade de fazer filmes. De duas pessoas de diferentes gerações que possuem uma mesma paixão. Não a paixão de usar a sétima arte para aparecer e ficar famoso. Mas sim a necessidade de se fazer cinema por puro tesão. Isso eu me identifico muito com o Pio. Não sei se o curta fala tanto sobre ele. Mas sim sobre quem ama fazer filmes. Foi isso que eu tentei retratar.

Piove, Il film di Pio será exibido no É Tudo Verdade 2012:

25/03, domingo- Cinesesc (São Paulo) às 19h

27/03, terça- Espaço Unibanco de Cinema Botafogo (Rio de Janeiro) às 19h

28/03, quarta- Espaço Unibanco de Cinema Botafogo (Rio de Janeiro) às 14h

01/04, domingo- Museu da Imagem e do Som (São Paulo) às 16h