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Ciclos

Medindo a frequência cardíaca no trânsito de São Paulo

Passamos um dia medindo nossa frequência cardíaca para mostrar como transportes alternativos podem fazer bem pra saúde e melhorar a mobilidade de uma cidade.

Fotos e gifs por Guilherme Santana/VICE.

'Esta matéria faz parte do projeto Ciclos, uma série sobre mobilidade urbana feita pela VICE em parceria com o Itaú.'

344 km de congestionamento. Foi esse o recorde histórico de trânsito registrado em São Paulo no dia 23 de maio de 2014. A quantidade de carros na rua, porém, não atrapalha apenas a nossa locomoção. Em uma pesquisa de 2008, o Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas comprovou que a concentração de gases tóxicos foi  responsável pelo aumento da ocorrência de ataques cardíacos, registrando um crescimento entre 7% e 12% por causa dos níveis de poluentes na atmosfera da cidade.

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De maneira mais abrangente, não quer dizer que você ficando nervoso, seu coração acelerando, você vá ter mais chances de ter um piripaque. A lógica das doenças cardíacas relacionadas ao trânsito e à poluição tem mais a ver com estilos de vida (sedentários, claro) que com a velocidade que seu coração bate. Quem explica é o cardiologista Sérgio Mesnik, o médico que leu o resultado do Holter que mediu os batimentos cardíacos de nós, autoras do texto.

Segundo Mesnik, o coração é feito para bater, inclusive mais rápido. "O stress no trânsito pode afetar aqueles que já têm propensão à doença cardíaca, isso associado a um modo de vida não saudável", pontua o especialista.

E, bom, ser saudável numa cidade com altos níveis de poluição é mais um dos desafios diários. De acordo com a OMS, a capital paulista ultrapassa e muito o nível de poluição do ar sugerido pela organização. Os limites estabelecidos pela entidade apontam que as pessoas não deveriam ser submetidas a concentrações de poluentes no ar acima de 20µg/m³ (microgramas por metro cúbico), em média, por ano. O índice atribuído pela OMS à capital foi de 35 µg/m³, referente a medições de 2012.

GIF por Guilherme Santana/VICE.

O que fazer pra se ajudar? Escolher a bike e o transporte público como opção de locomoção pode ajudar não só o seu coração como também a mobilidade na própria cidade. Isso porque as tais partículas poluentes resultam principalmente do processo de combustão de veículos. A população da cidade, que em 2016 já era estimada pelo IBGE em 12.038.175, convive com mais de oito milhões de veículos motorizados — sendo mais de cinco milhões somente automóveis. Quer dizer, já existe mais de um carro a cada  dois habitantes da cidade.

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Não raro vemos especialistas em trânsito afirmando que, se toda a frota de carros da capital resolvesse sair da garagem ao mesmo tempo, as ruas seriam tomadas por automóveis e tudo ficaria paralisado dramaticamente. Sendo assim, como lidar?

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Sou uma assalariada que diariamente usa o transporte público para ir e voltar do trabalho. Meu percurso de seis quilômetros — 12 km, pensando em ida e volta — é feito com ajuda de dois ônibus e pequenas caminhadas. Em dias bons, gasto no total cerca de duas horas de casa até o trabalho — um tempo pouco acima da média de 1h44 gastos por paulistanos diariamente no trânsito da cidade.

Meu coração, enquanto estive com o aparelho do holter — uma série de ventosas grudadas ao peito que medem a variação dos batimentos cardíacos durante 24h —, variou de 55 a 130 bpm (batidas por minuto). Na minha vida um tanto sedentária, o pico de aceleração do dia (em que não pratiquei esporte) aconteceu justamente enquanto corria atrás do ônibus.

O ônibus, aliás, ainda que não diretamente, pode ser um aliado da minha saúde não porque corro atrás dele, mas porque, ao utilizar o transporte público, contribuo com menos um transporte individual na rua e, portanto, ajudo na diminuição da emissão de gases poluentes.

De acordo com o cardiologista Sérgio Mesnik, "pessoas com doenças cardíacas, ao ficarem estressadas no trânsito, por exemplo, podem contribuir potencialmente para um infarto".

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Foto por Guilherme Santana/VICE.

Trabalho no home office e faço exercícios com regularidade. Já andei mais de bicicleta, hoje em dia pego uma bike para me locomover caso não esteja muito quente ou se estiver fazendo exercício à vera — porque sou uma dessas pessoas que suam em bicas e chegam derretidas nos lugares.

Nas 24h em que usei o holter, dei uma andadinha de bike de Perdizes a Pinheiros por locais em que a ciclovia funciona bem. À noite, joguei handball, que foi quando o aparelho registrou o pico de 179 bpm por conta desse mui emocionante esporte, repleto de corridas explosivas.

O clima, no dia do holter, estava aprazível – o termômetro na av. Sumaré dizia, naquelas concordância, "ar BOA" (ou seria BOA ar?) –, enfim, não era um daqueles dias em que andar de bike arde os olhos, o nariz e um pouco da alma.

O Dr. Mesnik explicou para mim que os números do holter mostraram que tudo estava dentro do esperado. Meu coração está funcionando bem, atestou o cardiologista, apesar de fumar e tomar um goró com certa frequência. Para o médico, preciso parar com essa palhaçada, pois são fatores de risco a médio/longo prazo.

GIF por Guilherme Santana/VICE.

A combinação trânsito e stress, conforme esclareceu o médico, pode sobrecarregar o coração, especialmente naquelas pessoas que já sofrem com pressão alta, diabetes, obesidade – dentre outros fatores. "O stress do trânsito pode levar uma pessoa que já tem uma tendência a ter um ataque cardíaco", esclareceu.

Então, já sabe: não tem remédio. Para manter a saúde em ordem tem que se exercitar e se seus hábitos ainda ajudarem no quesito mobilidade da cidade, melhor ainda.

Acesse o site www.projetociclos.com.br  e assista ao documentário sobre mobilidade urbana que fizemos em parceira com o Itaú.