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Blu

Quem tem medo de uma exposição de Banksy & Co.?

Como previsto, nem todo mundo ficou feliz.

Banksy, Love in the air, 2003. Estêncil e spray sobre papelão, 66x67,50 cm Collezione C.H., Monaco di Baviera. Imagens:Genus Bononiae

Reunindo obras de Banksy, Invader, Daniele Perra Parian e outros artistas em um único local, foi aberta na última sexta-feira em Bolonha, Itália, uma retrospectiva sobre a influência que as duas maiores ferramentas da street art — o spray e a internet — tiveram sobre o espaço urbano.

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Em uma única semana, pode-se ver o icônico “God Shave the Queen” de Parian, o manisfestante com buquê de flores de Love in the Air de Banksy e outras obras célebres expostas a apenas alguns passos de distância em um percurso que, normalmente, custaria uma fortuna em passagens aéreas. Em cartaz no Palazzo Pepoli, em Bolonha, a exposição Street Art - Banksy & Co.: Art in the Urban Form tem por objetivo “contar um importante capítulo da história de Bolonha e convidar os visitantes a elaborar uma nova maneira de olhar e se relacionar com o espaço urbano” através de 250 obras individuais, segundo divulgado à imprensa. A julgar pelo vídeo abaixo, a própria dimensão da exposição parece algo a ser considerado, com obras famosas espalhadas pelo imenso espaço expositivo ainda em suas paredes e portas originais.

No entanto, muitos consideram a exibição impressionante justamente pelo seu aparante desprezo à comunidade de street art. O curador de Banksy & Co. é o presidente da Academia de Belas Artes de Bolonha e do Banca IMI, Fabio Roversi Monaco, figura poderosa do cenário artístico de Bolonha. A exposição conta ainda com o apoio da Fondazione Cassa di Risparmio e é produzida pelo complexo Genus Bononiae. A participação destes três benfeitores dá à exposição ares da elite milionária – algo que soa como antítese aos ideais de muitas das obras presentes na mostra.

Para completar, diversas obras foram removidas de seus locais de exposição originais — o espaço público — sem permissão ou aprovação dos artistas. O misterioso muralista italiano Blu, que tem várias obras em Banksy & Co., protestou contra a exposição destruindo décadas de produção artística espalhada por Bolonha, com o intuito de evitar que essas obras sejam “preservadas” sem sua permissão. Um post escrito a pedido de Blu, que raramente fala com jornalistas, foi publicado na página da Wu Ming Foundation, revelando o motivo de suas ações:

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Blu, Phetek, spray sobre aço, 280x226 cm, coleção particular

“Depois de denunciar e estigmatizar o grafite e o desenho como vandalismo, depois de oprimir as culturas jovens que os produziram, depois de limparem os lugares que foram os laboratórios desses artistas, agora os poderosos da cidade querem se tornar os salvadores da arte de rua. Tudo isso merecia uma resposta.”

Contudo, outros artistas com obras expostas em Banksy & Co.se posicionam de outra maneira. Em publicação na página Vandalog, o escritor John Fekner, da velha guarda novaiorquina, refuta a atitude de Blu. “Faça você rock, punk, rap ou qualquer outro tipo de música, não existe maneira de impedir que façam alguma adaptação careta da sua música rebelde original”, diz Fekner.

Daniele Perra Parian, Keith Haring, Anarchetiquette - Anônimo, God Shave the Queen, 2004, Escrito e removido de parede, 220x409x10 cm, 2 painéis, Daniele Perra Parian Collection

“Este é o ponto de partida: o que é feito em local público não permanece público. Não há proteção para artistas transgressores. É o risco que se corre quando se é artista de rua. Se você cria murais ilegais, o que prevalece sempre são as leis da rua: 1) Você não pode impedir que um bêbado faça xixi em seu mural em alguma madrugada. 2) Você não pode impedir que uma escavadeira destrua seu trabalho. 3) Você não pode impedir que um esquadrão anti-grafite local se junte para passar uma mão de tinta sobre seu trabalho. 4) Você não pode impedir que um ladrão bem vestido, ou seu capataz, pegue seu trabalho e o coloque em sua casa, sua garagem, em um museu ou no mercado de arte… Se você analisa a situação e destrói sua obra, você está tendo uma atitude exagerada. Corajoso? Sim. Mas isso vai além do espírito original de liberdade e alegria de criar sua obra”, continua Fekner.

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A página Hyperallergic lembra que Banksy um dia já se rebelou contra a máquina do mundo da arte, quando se apropriaram de seu trabalho no Sincura Art Club, em 2014. Na época, Banksy escreveu em sua página: “Não tenho nenhuma relação com essa exposição, e acho nojento que as pessoas possam expor a arte dos muros sem permissão”. O Creators Project, por outro lado, cobriu posteriormente a reação que houve à residência de Banksy em Nova York, da qual pouquíssimas obras permanecem em seus locais originais. Assim, o consumo voraz de sua obra – que inclui filas imensas para tirar selfies com seus trabalhos e os próprios moradores locais cobrando cinco dólares dos turistas para que tirassem essas fotos – parece uma parte integral do trabalho artístico.

Dran, Art of Buffing, 2010, lápis, guache e spray sobre papel colado em tela, 50x61 cm, Collection Jacques et Thierry, Paris

Saiba mais sobre Street Art - Banksy & Co.: Art in the Urban Formem sua página oficial. A exposição fica em cartaz no Palazzo Pepoli, em Bolonha, até 9 de maio, com ingressos a 15 dólares.

Tradução: Flavio Taam