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Música

O Alex D'Alva Teixeira é o nosso Príncipe de Bel-Air

Falámos com o Alex, um gajo que transpira estilo.

Encontrei-me, no outro dia, com o Alex D’Alva Teixeira e com um rapaz que toca com ele, o Vítor Hugo Azevedo. O Alex lançou agora um EP chamado Não é Um Projeto. Se ele diz, é porque deve ser uma coisa a sério. O disco, pelos vistos, anda a bater muito. Resolvi ir ver se estava tudo a correr bem com ele. VICE: Tu fazes mesmo muitas cenas…
Alex: Muitas cenas? Sim, estás em muitos projectos. Como é que isso tudo começou?
Era um miúdo que gostava de música e de desenhar. Comecei a crescer e a experimentar essas coisas todas, com os meus amigos. Isso e as pessoas que conheço levaram-me a estar onde estou agora. Passei por muitas etapas: tive uma banda de garagem, os eXcers; toquei nos Cast a Fire — que era uma cena mais hardcore — e em alguns concertos do Tiago Guillul. Foi fixe. Mas vamos falar da cena principal, que és tu sozinho. Precisavas de um tempo a sós, é isso?
[Risos] Não, não. Aconteceu naturalmente. Tinha a minha primeira banda e tinha composto umas canções. Entretanto, conheci o Ben [Monteiro], que pertencia a uma banda da qual era fã e fomos mantendo contacto porque eu organizava festivais, íamos tocando juntos. Quando a minha banda acabou, ele desafiou-me a gravar as canções que escrevia e a editar em nome próprio. Foi assim que surgiu o teu disco Não é Um Projeto, na FlorCaveira?
Sim, nós já eramos amigos da FlorCaveira, mas fizemos o EP sem saber que eles o iriam lançar. O Vítor tocava com os Iconoclasts e convidei-o a tocar comigo. Fomos fazendo o disco, tentando sempre suscitar o interesse deles em editar o disco. Conseguimos. Diz-me uma cena: essa coisa de serem todos da mesma igreja. É um plano para conquistar Portugal, não é? Ou vocês foram todos criados geneticamente para fazerem música fixe?
Não faço ideia. Mas tenho uma visão muito própria — acho que se tenho talento, foi-me atribuído, é nisso que acredito. Se tenho talento e faço música boa, acho que não é uma cena que surge por acaso: foi um dom. Achas que ser religioso influencia muito a tua música?
Não gosto muito que digam que sou religioso. Não influencia porque não faço música com uma agenda religiosa. Faço música como a que tu fazes, de uma maneira tão natural como os outros músicos. Só influencia na medida em que faz parte de mim. Porque é que escolheste cantar em português? Tinhas más notas a inglês?
Não me queiras ouvir cantar em inglês, o meu sotaque é mau [risos]. Também nem toda a gente tem de cantar em inglês, não é? Claro, não te posso obrigar. Ah, quero fazer-te uma pergunta clássica do programa Muita Loco: onde é que foste buscar tanto estilo?
[Risos] Ehhh, não sei. O estilo deve vir das minhas origens brasileiras e africanas. Acho que tenho muita influência dos meus pais, que vieram de países tropicais. Sou uma esponja — estou sempre a absorver música nova e sinto uma atracção por imagem e por estética. Cresci a ver a MTV e o The Fresh Prince of Bel-Air. Ah, dá para ver no videoclip.
O “Três tempos”? Nós tivemos pouquíssimo tempo para fazer esse vídeo, porque queríamos ter o EP pronto. Tinham três tempos?
Foi basicamente isso, tivemos apenas dois dias para fazer o vídeo. O single era para ser outra canção, mas o Ben pensou que seria melhor ser esta porque o ecrã foi dividido em três e aparecem três Alexes. E, realmente, faz sentido, porque visto-me assim… Estiloso?
Pá, se tu dizes, obrigado. Se reparares são só uns jeans e umas t-shirts, não há truques. É como me visto. Basicamente, filmou-se tudo num dia e no dia seguinte estivemos a editar. Como as coisas se atrasaram foi tudo feito em três tempos — três Alexes em três dias diferentes. Parece que foi o nosso número chave. Não queres participar num programa, o Ídolos? Acho que tinhas hipóteses.
[Muitos risos] Só não fui porque tenho preguiça de ficar na fila. Pois, mas pensa nisso. Não achas que música portuguesa sempre teve uma má conotação? É fixe as coisas estarem a mudar e haver umas bandas por aí a safarem-se.
Acho que essas bandas sempre existiram, mas sinto que a música portuguesa está sempre a melhorar. Há cada vez mais bandas e projectos interessantes.
Vítor: Não concordo. Não me parece que a música antigamente fosse má e que agora seja boa. Acho que Portugal sempre gerou boas músicas e boas bandas. Estou a falar só de conotações.
Sim, mas é igual. Se calhar, há uns anos era menos cool ouvir música portuguesa do que é hoje, se calhar agora é moda. Tu vês um festival como o Bons Sons, que tem muita qualidade. As pessoas ouvem, finalmente as pessoas ouvem. E o pessoal está a curtir o teu disco?
Alex: As pessoas estão a gostar. Sabia que algumas pessoas iriam gostar do EP, não esperava era que seria tanta gente. Noto que é muito mais fácil falar com a malta na internet, porque há muita gente diferente a curtir o que faço. Isso é fixe. E não só: também nos concertos o feedback tem sido bastante positivo. Qual foi a actuação mais altamente que deste?
Até agora? Paredes de Coura, foi brutal! Foi um dos concertos mais punk que já tocámos. Então?
Iam destruindo os pedais duplos do Vítor e o palco todo. Grande parte da plateia subiu para o palco e estávamos com medo que ele se fosse desfazer. Foi num coreto e agarraram-me em cima do palco, andei a fazer crowdsurfing. Foi um bocado surreal, porque geralmente isso é feito lá fora, mas eu estava em cima das pessoas e do palco. E acho que és designer também.
Sim. Isso influencia a tua música, não é? Até tens uma música que se chama Diz-me (design).
Sim, influencia como área criativa. As metodologias são parecidas. Há uma parte dessa música em que digo que a vida é uma coisa um bocado assustadora quando estás a começar algo nova. Na música e no design, inicio tudo como um papel novo, do zero. Estava a perguntar, porque um amigo meu está agora a criar uma empresa e precisa de um logótipo. Não paga, mas dá para o portefólio. É na boa?
[Risos] Podemos falar sobre isso… Fotografia por Vera Marmelo