Essa Mina Pode Acabar Com a Sua Cara

Rondi Scott é uma mina super descolada que ganha a vida frequentando sets de filmagem e fazendo com que as pessoas pareçam mortas, praticamente mortas ou, às vezes, simplesmente alguém sexualmente irresponsável cheio de herpes. Ela é maquiadora de efeitos especiais e, se fosse sua amiga, poderia fazer você parecer um moribundo ensaguentado a hora que quisesse. Vice: Há quanto tempo você trabalha com maquiagem?
Rondi Scott: Eu mexo com látex e deixo olhos roxos desde o colegial.

Você só faz maquiagens de efeitos especiais ou também curte fazer maquiagem de beleza?
Eu gosto de tudo.

E como entrou para esse ramo? Fazer herpes falsas e feridas ensanguentadas não parece ser um sonho de infância muito comum.
Nada a ver! Meu feriado favorito sempre foi o Halloween. Eu gastava um tempão com minhas fantasias e ajudando meus amigos, mas nunca tinha parado pra pensar que poderia ganhar dinheiro com isso.

E dá uma grana boa?
Depende. Os filmes não são tão lucrativos quanto a publicidade. Mas é legal fazer um pouco dos dois.

Você fez algum curso pra isso? Do tipo Curso Básico de Apêndices Corporais Nojentos?
Só por curiosidade, eu tive uma aula, mas não aprendi muito com ela. Fui melhorando minhas habilidades mesmo como assistente e pelo método de tentativas e erros.

Que tipo de maquiagem você usa? Existem marcas especiais de materiais para esses trabalhos mais pesados ou produtos como MAC, por exemplo, servem?
Geralmente os produtos que usamos são criados por maquiadores que sabiam o que queriam, mas não conseguiam encontrar no mercado, então resolveram desenvolver eles mesmos. Existem várias marcas diferentes de maquiagens para efeitos especiais, como a clássica Skin Illustrator, uma tinta para a pele à base de álcool que dura um dia inteiro.

Em que tipos de filme você trabalha? São filmes independentes de baixo orçamento ou mega produções?
Meu primeiro filme foi Sinédoque, Nova York, de Charlie Kaufman, seguido de Sex and the City. Neles só fiz assistência, mas pude aprender como me comportar nos e como lidar com celebridades. A maioria dos trabalhos que faço como chefe de departamento de maquiagem são independentes, o que é muito legal por causa da liberdade de criação.

São dois filmes muito diferentes de se trabalhar. Dá para comparar?
Foram experiências completamente diferentes. Sinédoque, Nova York foi uma ótima experiência como primeiro trabalho. Phillip Seymour Hoffman envelhece 50 anos no decorrer do filme. Eles tinham um cara muito bom, Mike Marino, que esculpiu, customizou e aplicou todas as próteses. Foi com ele que aprendi a maioria das coisas de efeitos especiais que sei agora. Também fui uma das três artistas que criou uma tatuagem de corpo inteiro em uma atriz. Tivemos que fazer aquilo três vezes para cenas diferentes. Levamos 24 horas, ao longo de dois dias, para concluir o projeto. Ficou linda, mas ela mal aparece no filme. Isso acontece muito… Você trabalha por horas em algo que acaba aparecendo por 30 segundos na tela.

E Sex and the City?
Foi bem diferente. Um bando de paparazzi ficava ao lado dos trailers e em volta do set. Foi muito invasivo. As atrizes foram todas muito simpáticas, mas eu passei a maior parte do tempo com Sarah Jessica Parker, já que eu era a assistente da maquiadora dela. Ela é uma pessoal incrível… Inteligente e super alto astral.

Sério? As atrizes não eram egocêntricas e mimadas?
E quem não é? Acho que isso é uma afirmação muito generalizada, mas acho que depende do como você trata as pessoas.

Você conhece o jargão cinematográfico?
Claro. Se alguém entrar em um set sem familiaridade com o ambiente vai ficar completamente perdido.

Então me diz uma coisa, e aqueles caras que aparecem nos créditos finais, os continuistas e os contra-regra? Que porra eles fazem?
Eu sei o que eles fazem, mas normalmente eles só flertam com a mulherada do set.

Pelo menos eles fazem alguma coisa útil. E o quão legal é o seu trabalho?
Bom, estou respondendo esta entrevista da Sérvia e vou para Sarajevo este fim de semana. Então é bem radical.

Que tipo de maquiagem você tem feito aí? Eu não imagino uma história de amor com belos batons vermelhos e olhos esfumaçados.
Beleza definitivamente não está envolvida neste projeto. Eu passo a maior parte do tempo deixando as pessoas sujas. Tenho um baleado no olho e outro homem mutilado por uma mina terrestre. A OTAN ajudou bastante por aqui. Vários já tem cicatrizes horríveis e tem partes do corpo amputadas por causa da guerra, o que facilitou o meu trabalho.

Que mais você já criou?
Bom, eu tive que vestir um cara de um jeito que parecesse que ele não tinha as duas pernas. Tinha sangue por todos os lados. Gosto de fazer ferimentos diferentes. Cesarianas mal costuradas, gargantas cortadas e ferimentos de facadas são alguns dos mais comuns. Eu também entro em sites como rotten.com que servem de referência para me inspirar.

Quanto tempo demora para você criar esses efeitos especiais?
Depende. Às vezes fico um tempão criando uma aplicação, outras faço no local mesmo e leva só meia hora para ser aplicada. Depende muito do efeito. Mas eu posso quebrar um nariz em mais ou menos dois minutos.

Você às vezes fica com aflição quando os ferimentos ficam muito reais?
Com certeza! Eu tenho que prevenir as pessoas antes que elas olhem meu portifólio.

Se eu quiser me vingar fazendo parecer que fui esfaqueado ou quase morto, quão difícil seria para recriar esses efeitos com materiais domésticos?
Sangue caseiro é fácil de fazer. Você começa com xarope de milho e corante comestível, adiciona um pouco de cola para cílios e algodão, e tem uma boa dose de vingança sangrenta.