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Drogas

Plantando a Discórdia

Entrevista com o fundador e moderador do Growroom, o primeiro fórum brasileiro sobre o cultivo de maconha.

Tá todo mundo falando de maconha, né? Mas tem bem mais gente querendo discutir a droga além do ilustríssimo ex-tal. Um deles é o Bas (codinome), fundador e moderador do Growroom, o primeiro fórum brasileiro sobre o cultivo de maconha — já com mais de 35 mil pessoas cadastradas — e que hoje milita pela legalização da cannabis. Nessa entrevista ele falou sobre os planos pra fazer da parada uma ONG, dos políticos que eles têm na manga, sobre a legião de advogados voluntários que atua, pelo grupo, na defesa de casos de detidos envolvendo drogas, e também sobre toda essa tentativa de discussão em volta da maconha que tem pipocado por aí em fóruns, simpósios e comissões, só que, de certo modo, sempre viciadas.

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Vice: Tem algum problema se eu te chamar de maconheiro?
Bas: Nenhum. Eu sou um maconheiro. É igual você chamar um viado de viado, saca? Os assumidos não têm problema nenhum. Isso só é um problema quando você não tem essa questão muito bem resolvida. Mas a maconha tá na minha vida. Eu trabalho com isso, então pra mim não é nenhum problema. Apesar de a palavra carregar todo esse estigma, acho que isso tá pra trás. Além de maconheiro eu sou várias outras coisas também. Sou designer, flamenguista…

Você já se viu como um lobista da maconha?
Cara, nunca pensei com esse nome, mas pode ser [risos]. Trabalho pra botar essas coisas pra frente, não sei qual nome eu daria pra isso. Mas talvez eu seja um dos únicos profissionais do Brasil que ‘vivem’ da maconha. Não diretamente, porque não vendo o que é proibido. Mas gosto do negócio, curto fumar um… Só que também me traz dinheiro. Não é só uma coisa nem só outra.

O que levou você a criar o Growroom?
Bom, sou designer. Fazia frilas lá na Alemanha pra pagar meus estudos e tal, mas sempre que eu levava meus layouts pro cliente o cara mudava a porra toda. Eu ficava puto, até que um dia falei, “Porra, tenho que fazer um trabalho que ninguém vai mexer. Que seja meu. Vou fazer sobre o quê?”. Eu curto reggae, aí pensei em fazer um site de reggae. Mas pensei, “não, reggae não”. Foi na época que eu tava começando a cultivar de novo lá na Alemanha, então resolvi fazer alguma coisa sobre cultivo de bagulho. Comecei a pesquisar na internet e não tinha porra nenhuma em português, nada que prestasse. Aí me deparei com um fórum canadense chamado Overgrow, que não existe mais, e achei do caralho! Daí, procurei o Falco, um amigo freakzinho de computador que já manjava de fórum, e colocamos o script no servidor na casa dele. Comecei a ir a feiras que tinham de tudo: material pra plantio, cerveja de maconha, queijo de maconha… E me toquei, “Caralho, brother, olha o mercado que eu achei pra explorar no Brasil”. Porque, pô, de certa forma isso é um mercado também.

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Mas quando você criou o fórum já imaginava que poderia levantar uma ganhar ou foi só por ativismo?
O Growroom começou como uma válvula de escape; como um projeto pessoal totalmente sem ambições só para criar um lugar para se trocar ideias sobre o cultivo. Mas depois de uns meses já tinha umas mil pessoas cadastradas no site. Aí peguei uma revista, vi que ia ter uma feira na Holanda com tudo o que era tipo de material, fui lá e, de repente, acordei e vi que isso era um mercado. Mas, assim, eu não criei pensando nisso. Minha intenção não é ganhar dinheiro, mas discutir tudo isso.

E quantas pessoas estão cadastradas hoje no fórum? Só no twitter já são mais de 3.200 maconheirinhos.
Desde o início já se cadastraram mais ou menos umas 45 mil pessoas, mas hoje em dia tem umas 35 mil, porque de vez em quando a gente faz uma limpa dos usuários inativos. De visitas recebemos uma média de 5 mil por dia, mas tá crescendo.

O site tá hospedado em domínio brasileiro?
Não, tá hospedado fora do Brasil desde o início.

Mesmo assim, não bate umas noias por ter um site desse?
Com certeza! Quem tem cu tem medo, né? [risos] Mas com o tempo a gente conseguiu criar um comportamento correto e mostrar que a nossa proposta não é fazer um site para servir de venda de drogas ou para a apologia a menores, mas sim um espaço no qual as pessoas possam trocar informações de forma responsável. E isso tira um pouco o medo.

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Já teve problema com a polícia ou justiça por causa do site?
Não. Acredito que justamente por esse motivo. As pessoas que entrarem naquele espaço não vão ver ninguém traficando, nem menores de idade.

Tá, então de um projeto pessoal o Growroom virou, como tá lá escrito no site, um grupo que defende os direitos dos maconheiros. Até agora o usuário não tem quase direito nenhum. Como vocês vão mudar isso? Apoiando a legalização, descriminalização ou o quê?
A gente é mais a favor da legalização. Descriminalizar, na verdade, não resolve o problema porque você só está deixando de punir o usuário, mas todo o comércio ilegal continua. Então a gente defende a legalização, o que é diferente de bagunça. A legalização é justamente o que acontece com o cigarro, que você não pode vender a menor, não pode mais ser fumado em ambientes fechados, tem um imposto que você paga que vai pra saúde… Ou seja, tá regulamentado o uso dele, não é a Disneylândia. E com a maconha a gente quer justamente isso também, criar regras pra produção, venda e uso. Pra todo o ciclo. Não adianta nada você descriminalizar e continuar com ela ilegal, a grana indo pra traficante, o comércio ainda sendo um monopólio na mão de pessoas erradas… Então o que a gente tá atrás mesmo é da legalização, que na verdade é a regulamentação dessa droga.

Fazer coisas do tipo “se fumar, não dirija”?
Isso, isso. Exatamente. Muito bem colocado. Queremos regulamentar inclusive isso também, de não poder fumar dirigindo, não poder fumar do lado de crianças… Criar regras pra isso, pra não virar uma bagunça.

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Vocês já têm umas propostas de projeto prontas, pra caso tudo seja legalizado amanhã?
Não, um modelo pronto mesmo a gente não tem. O que a gente tem são várias ideias do que poderia ser feito ou não. Acho que isso é uma parada que tem que ser debatida com a sociedade.

E algum político ou figura em evidência que apóiem vocês? Tem? Gente que realmente esteja engajada com vocês?
Não, na verdade o único que participa é o Renato Cinco, que se candidatou a deputado federal. Ele é o único que realmente participa do Growroom, o que é chato, porque as autoridades que estão envolvidas com esse assunto, como a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, não sabem muito, além de estarem totalmente fechados. A CBDD tá fechada, os partidos políticos não dão abertura nem vêm participar das discussões… Então, na verdade, trabalhando junto a gente não tem nenhum político além dele.

Ainda mais em ano de eleição, que só se falou em crack.
A Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, que é essa da qual o Fernando Henrique e o Rubens César Fernandes, do Viva Rio, fazem parte, foi criada no ano passado, então antes não tinha nada pra gente poder participar. Mas aí ela foi criada com o Popó, Lilia Cabral, Daiane dos Santos – que foi pega no doping… Os ativistas, as pessoas que estão mesmo envolvidas nessa causa – como o povo do Growroom, da Marcha da Maconha e de outras organizações que lidam com a questão de política das drogas – não foram envolvidas nessa comissão. Nem convidadas! Fora que nessa comissão não tem nenhum jovem, e a droga é uma parada que tá muito entre os jovens, que começa na juventude. Depois chamaram o Sérgio Vidal, do Growroom, o Cinco e o pai daquele garoto que estrangulou a namorada por causa do crack, meio que pra tentar costurar um remendo e dizer que estavam incluindo os jovens e os ativistas, mas na verdade a gente não tá envolvido nisso.

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Por exemplo, uma parada super importante de se falar é que agora do simpósio sobre a criação de uma agência reguladora da cannabis medicinal que rolou em São Paulo em maio. O Growroom se preocupou com esse simpósio porque a programação dele foi toda feita por doutores e autoridades. Não têm pacientes ou representantes da sociedade civil participando dessa discussão, sendo que no final das contas qualquer decisão tomada por essa agência vai influenciar a vida dos pacientes e da sociedade. Mas em momento algum essas pessoas estão participando, dando opinião de como devem funcionar as coisas. De repente eles podem muito bem decidir que o modelo de uso medicinal da cannabis no Brasil vai ser através de THC sintetizado, que são remédios que estão nas mãos da indústria farmacêutica. Então acaba que você não resolve o problema, só passa o lucro pra outras mãos. Não estou dizendo que esses médicos estão mesmo envolvidos.

E também eu não acredito muito que as coisas vão andar pelo Legislativo, na verdade. Acho muito difícil você conseguir passar uma lei sobre drogas em um Congresso cheio de lobby. Acho que seria muito mais fácil a gente ter casos e levar até o Supremo, como foi na Argentina, sabe? Batalhar assim, fazer barulho, chamar imprensa… Fazer esse trabalho que a gente tá fazendo mesmo, criando revista, promovendo debate… Parece melhor do que esperar o Legislativo votar alguma coisa.

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Vocês têm certa retaguarda, certo? Advogados e gente que ajuda nos casos como o do Zé Pretinho ou daquele outro cara preso no Sul…
Temos gente em Brasília, Salvador, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. Com os anos, o Growroom conseguiu juntar uma rede de pessoas que estão dispostas a ajudar na causa. É o que aconteceu, por exemplo, no caso do Zé Pretinho, que é o Fábio. Ele é uma pessoa humilde do subúrbio do Rio, super do bem, daimista… A gente ajudou, mesmo ele não fazendo parte do Growroom, porque ouvimos depoimentos dizendo que ele não estava traficando, que plantava porque tinha uma relação espiritual com a planta. Se tivermos indícios de que é uma pessoa correta, a tendência é querer ajudar. A gente não vai defender uma pessoa que esteja fazendo uma plantação enorme, pra uso comercial, porque não estamos aí pra defender tráfico. No caso do Fábio, a gente conseguiu que o juiz afrouxasse a pena de traficante para a de usuário, e em dois dias conseguimos liberar ele. No Sul, onde está tendo esse caso que você também falou, o Alexandre – que tinha câncer no pescoço – começou a cultivar depois que um médico disse que, se ele estivesse morando nos Estados Unidos, Canadá ou Holanda, prescreveria cannabis pra ajudar no tratamento da quimioterapia. Ele tinha muitos enjôos, não conseguia engolir nada, ficava com um gosto horrível na boca… Aí ele começou a fumar e viu que a cannabis realmente ajudava. Mas foi preso. Agora ele está disposto a levar o caso dele até o Supremo.

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Então esse é o caso mais importante que vocês têm agora?
Esse é um caso com bastante chance porque ele está disposto a levar essa questão, entendeu? É um leading case, como se diz no jargão. O Fábio, por exemplo, acho que não tá disposto. Ele aceitou essa transação, do tráfico para usuário, e não vai querer levar a coisa pra frente. Já esse outro quer, até porque a questão dele é mais séria. Ele está defendendo um uso medicinal, e, se ele ganha isso, vai abrir um precedente pra várias outras pessoas poderem se beneficiar disso.

Todos esses advogados que você diz são pagos?
Não, são totalmente voluntários. A gente tá vendo uma forma agora de formalizar o Growroom, fazer dele uma ONG mesmo, e com o tempo ter associados o suficiente para poder estar pagando esses advogados que estão ajudando, mesmo que uma quantia simbólica, pra ter uma organização maior.

Virar ONG, é? Aí dá pra conseguir grana com o governo.
Sim, com certeza. A gente tentaria arrumar projetos com o Ministério da Saúde para a redução de danos, que envolve um monte de coisas, do tipo ajudar as pessoas a cultivarem, informar de que não se deve fumar em qualquer tipo de papel, conscientizar de quando não é aconselhável consumir, ajudar pessoas que tiverem problemas… A ideia é formalizar melhor pra ter mais recursos pra poder se organizar, fazer as ações, articular com políticos e participar mais das coisas.

Vocês são a favor da legalização tanto para o uso medicinal quanto para o recreativo?
Sim. A maconha também é usada recreativamente.

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E das outras drogas?
Algumas pessoas do Growroom são. Outras não. Eu particularmente sou, mas o Growroom em si defende a legalização da cannabis. A gente não milita pela legalização de outras drogas, mas acreditamos que esse seria o caminho correto. A gente é a favor sim da legalização de todas as drogas, mas num primeiro instante acreditamos que a maconha é uma forma mais estratégica. Até porque a maconha é a droga ilegal mais usada no mundo. É muita gente que usa, e isso já seria um grande começo. Acredito que existam muito mais pessoas que usem maconha que cocaína, e essas pessoas usam a cannabis muito mais regularmente do que a cocaína.

E desde quando você planta?
Cara, quando comecei a fumar eu tinha um amigo alemão que era o maior hiponga. Lá na casa dele era totalmente legalizado, então a gente ia sempre pra casa dele. Na Alemanha eles já tinham plantado várias vezes porque lá essa cultura é muito mais difundida, e aí eles me mostraram como fazia e eu comecei a tentar. Isso foi mais ou menos na época da ECO 92, aquela conferência de meio ambiente. Nessa conferência eu ganhei umas sementinhas de um pinheiro canadense, ou alguma uma merda assim, e levei aquilo pra casa. Comecei a plantar aquelas sementes e comecei a plantar o bagulho também. O parapeito da minha janela era cheio de vasinhos com as plantas. No final das contas o pinheiro canadense morreu e ficaram todas as outras plantas ali, e eu falava pros meus pais que aquilo era o pinheiro canadense. Eles nunca desconfiaram. Então desde 1992 eu planto, mas era um lance mais nas coxas, não conhecia as técnicas, não sabia os lances… Não tinha muita informação, então as plantas não iam pra frente. Mas aí em 1997 comecei a assinar a High Times, fui pra Alemanha pela primeira vez, trouxe umas sementes boas, vi que tinha lâmpada, comecei a me informar mais sobre o assunto e aí eu tive uma colheita que deu pra fumar. Alguns anos mais tarde, fui pra Alemanha pra morar e aprendi muito mais, porque tive acesso a lojas onde vendiam toda a parafernália pra você plantar. Depois comecei o Growroom.

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Você compra? Mesmo plantando?
Na verdade, cara, cultivar também não é completamente certo. Tem gente que nunca vai poder cultivar porque não tem dinheiro, não tem espaço, não tem saco… E aí? Essa pessoa nunca vai poder fumar? A gente não defende que só quem cultiva pode usar. Isso é uma alternativa, mas na verdade o que tá errado é a lei. Só que a lei poderia ajudar muito mais a sociedade se fosse mais correta e atualizada.

Mas plantar é crime, né?
Às mesmas leis se submetem as pessoas que cultivam pequena quantidade de substância psicoativa. No artigo 28 daLei 11.343, o primeiro parágrafo fala da posse. Todo mundo hoje em dia sabe que se você for pego com um baseado ou pequena quantidade não vai mais preso. Mas, na verdade, ainda é um crime. Ainda está no Código Penal, não está descriminalizado. Embaixo tem as três penalidades possíveis pra quem comete aquele crime. Apesar de não ter cadeia, você tem sim uma punição, que é comparecer perante o juiz, prestar serviço comunitário, ou então frequentar um programa de reabilitação. É a mesma coisa pras pessoas que plantarem pequena quantidade. O escroto é que não fala o que é uma pequena quantidade. Essa lei tá errada. Essas métricas que nego tá tentando fazer pra botar na lei, tão querendo falar agora de quantas plantas, quantos gramas ou quantos metros quadrados cada um pode manter, mas eu acho que qualquer métrica dessas é furada porque uma pessoa pode muito bem ter 100 plantas e não vender uma migalha, assim como pode ter uma pessoa com uma planta só, mas que venda tudo. O que as pessoas têm que ver é se aquela pessoa realmente estava traficando. Por que eu posso trazer sei lá quantos engradados de cerveja pra casa, mas não posso ter 50 plantas de cannabis? Porra, não posso querer plantar várias de uma vez pra depois ficar seis meses sem cultivar? Se eu for pego com 100 plantas eu vou ser traficante só por causa disso? Sem contar que as plantas têm fases, não dão flor toda hora.

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É fácil plantar?
Cara, eu costumo falar o seguinte: plantar é igual a você fazer um macarrão, saca?

Tem quem faça al dente e quem faça todo empapado?
Exatamente. Você pode comer um carbonara maravilhoso ou você pode comer um miojo, entendeu? Mas os dois você tá fazendo, os dois você tá comendo. E hoje em dia a gente já tem informações suficientes que permitem a uma pessoa com um pouquinho de vontade estudar e conseguir fazer sua primeira colheita. Aí depois que a pessoa faz a primeira colheita, continuando, vai aperfeiçoando, e aí vai melhorando cada vez até chegar no carbonara.

Quantos gramas dá cada planta?
Depende. Plantas outdoors são bem maiores, então quando você planta indoor você tem que ter mais plantas pra colher mais. Cada plantada dentro de casa dá, em média, de sete a 15 g. Mas tem umas outdoors que podem dar, sei lá, um quilo de fumo. Não existe muito uma medição pra isso. Vai depender do vaso, da iluminação, do tempo… Demora uns três meses pra crescer.

Por que vale a pena plantar?
Por vários motivos. Não é tão difícil você convencer uma pessoa sobre isso, basta ela não ser hipócrita. O cultivo só tem vantagens. Na vida tudo tem vantagens e desvantagens, mas acho que o cultivo é uma coisa que tem só vantagens. Porque, porra, você primeiro consegue fumar uma erva de qualidade, sabe o que tá fumando… Não é cocô de vaca, não tá fumando amônia, não tá fumando galho, nem fungo, mofo ou sei lá o quê. Depois porque você não tem que estar em contato com traficantes que podem te oferecer drogas mais pesadas, não tem que ir numa quebrada onde você pode chegar lá e na hora o bicho pegar, ter um tiroteio e você tomar uma bala perdida… Polícia extorquindo… Você quebra aquele argumento do capitão Nascimento de que o culpado do tráfico é o usuário. A culpada é a lei. Então, sabe, o cultivo é bom pra sociedade, bom pra você… Só tem vantagem.

Quanto custa o equipamento todo pra um plantio?
Pra começar, você pode plantar outdoor. Se você tivesse um quintal com chão de terra não teria custo nenhum. Era só jogar a semente, dar água, Sol e pronto. No máximo vai ter um gasto com fertilizante, que também pode ser substituído por húmus de minhoca ou compostagem. Agora, se for fazer um cultivo indoor vai ter que investir em vasos, lâmpadas, terra, ventilador, transformador, fertilizante… Aí, sei lá, vai de uns R$ 500 até… Pode gastar R$ 3 mil, R$ 5 mil…

Dá pra ter bicho em casa plantando maconha? E se eles comerem? Você provavelmente teria problemas com as associações protetoras dos animais.
Tenho dois cachorros. Um já comeu! [risos] Ele ficou mal, meio lesado, se mijando… Já passei uns perrengues assim, mas depois passa e ele fica de boa. Acho até que aprende depois, porque nunca mais comeram.

Acha que a legalização vai rolar logo menos?
Acho que vai. De cinco a dez anos. Eu fui pra uma conferência nos Estados Unidos que fez umas previsões de quantos estados teriam maconha medicinal regulamentada em 2012, 2015 e pra frente. A coisa é impressionante. Tá acontecendo.

A Marcha da Maconha é a ação política mais visível de vocês, mas você ainda acha que ela funciona?
Assim, eu nunca vou dizer que se tudo for legalizado foi por causa da Marcha da Maconha. O mais importante da Marcha não é ela em si, mas todo o debate que é criado quando ela se aproxima. Jornalistas escrevem sobre, começam debates sobre, as pessoas discutem… Enfim, tudo isso que rola em volta antes de acontecer a Marcha, acho que isso tudo é muito mais importante que o evento em si. A Marcha em si é meio que uma festa de algumas horas na qual as pessoas que estão ali manifestam sua opinião. Mas o mais importante é o debate que rola em torno disso. Nunca vai ser legalizado porque fizemos uma marcha com cinco mil maconheiros.

ENTREVISTA POR BRUNO B. SORAGGI
FOTOS: ARQUIVO GROWROOM