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Notas de um Cara na Líbia VIII - Fazendo um Picnic em Benghazi

Os líbios e eu brincamos sobre entrar em um hotel: “Eles estão depois de Ajdabiya”, gritaríamos enquanto todo mundo saia correndo. “Primeiro de abril!”

Sexta-feira, 1º de abril de 2011

Benghazi, Líbia — O mullah agradeceu Allah pelos EUA, França e Turquia. Ele rezou pela bênção de Allah. As mulheres ajoelharam e rezaram no seu lado da praça. Os homens repetiram “Allahu Akbar”do outro lado. Fui andando entre as pessoas sob um céu cinza e uma leve garoa.

Tirei algumas fotos e a garoa virou chuva. Um moleque chamado Salim, escoteiro, me guiou pelo prédio. Vimos algumas salas e procuramos por uma janela desocupada de onde eu poderia tirar fotos com firmeza – minha lente angular é difícil de ser usada a distância.

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As pessoas se uniram com uma única finalidade, o que me deixou mais humilde. Me perguntei se os traficantes ainda estavam vendendo nas ruas de Al-Majorey, se a pequena criança negra ainda estava agarrada ao seu cobertor em seu quarto completamente verde em Ajdabiya. Me lembrei que a revolução continua forte desde 17 de fevereiro. As escolas estão fechadas indefinidamente. As empresas também. Homens líbios de todo o mundo estão voltando em massa para lutar. Muitos deles morreram, e muitos mais vão morrer. O resto está fazendo nada – assustado e entediado.

Depois das rezas compramos suprimentos para uma almoço em família com alguns amigos líbios e esperamos nosso pneu ser consertado. Um Toyota Hilux – um carro onipresente por aqui – passou com dois negros vendados na caçamba. Um terceiro homem estava sentado ao lado deles, a coronha da sua AK-47 era visível.

“Qual você acha que é o plano da OTAN?”, um amigo me perguntou no almoço. Comemos grãos-de-bico de curry, macarrão, pimentões recheados com arroz, couscous, batatas recheadas de com carne moída, chá, e doces. Faziam muitas perguntas: por que o ocidente faz tudo meia-boca? Por que as pessoas continuam a morrer em Misrata? Iraque = Afeganistão = Líbia? O debate é a maravilha ou a frustração da democracia? “Essa proteção a civis da OTAN falhou miseravelmente”, um amigo falou. Não discuti. Benghazi estava segura; que se dane o resto da Líbia.

Os líbios e eu brincamos sobre entrar em um hotel: “Eles estão depois de Ajdabiya”, gritaríamos enquanto todo mundo saia correndo. “Primeiro de abril!”

Mais jornalistas fizeram check-in no hotel. Fez a internet piorar ainda mais. Uma equipe de jornalistas de TV abarrotaram o elevador junto comigo, ignorando a mim e outro cara enquanto nos espremiam na parede. Eles falavam alto e seguravam a porta do elevador enquanto discutiam o assunto mais importante do mundo: carregar baterias. Me senti pouco indulgente. Então percebi: era o Geraldo Rivera e sua equipe. Seu cabelo é grande como de um Muppet. Surpreendentemente, os últimos dois caras que saíram do elevador me agradeceram.

A linha vermelha é em Benghazi. Isso já é certo. Assisti a BBC para saber das novidades. Todo o contexto da televisão é inútil. Esse lugar e seu conflito precisam de vídeos longos. Como jornalista há coisa demais para ser vista aqui. Como alguém pode dar justiça a esse lugar, a essa época e a essas pessoas? A esperança ébria da semana passada, dos rebeldes empurrando cada vez mais para o oeste, se foi. O quase-terror da retirada de volta a Benghazi também se foi. A esmagadora espera por ajuda – por uma resolução – é tudo o que sobrou.