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Μodă

O General de Milão

Encontramos com o Michele--também conhecido como Il Generale, ou Miguel e também como Michael--antes de ele passear com os seus cachorros, Leo e Anibel, e pedimos que vestisse para a gente algumas de suas produções atuais.

Fotos por Lele Saveri

Divisão Motorizada de Voluntários Estrangeiros da Alemanha

Como você talvez saiba, ou não, Milão é cortada por trilhos de bondes laranjas (ou verdes) que levam as pessoas de um lado ao outro da cidade. Essas antiguidades circulam desde os anos 20 e são supercharmosas. O interior dos bondes é feito de madeira e eles têm pequenos candelabros pitorescos pendurados no teto. O bonde número 29 é um dos mais famosos da cidade, porque a) corta a cidade, num arco que passa ao redor do centro, b) está sempre cheio de jovens atraentes, uma vez que passa por diversas agências de modelos, e c) é o meio de transporte preferido de Il Generale. Il Generale é um homem de 50 anos de idade que os felizardos usuários do bonde podem ver um dia vestido de escriba do Egito Antigo e outro de soldado da infantaria do Exército imperial alemão. Algumas vezes ele aparece até mesmo embrulhado em um daqueles uniformes de samurai que fazem a pessoa parecer um camarão enfezado. E por que ele se veste dessa maneira, talvez você se pergunte, com razão. E nós respondemos com outra pergunta, por que é que você se veste desse jeito sem graça? Você acha que não está vestindo uma fantasia também? Encontramos com o Michele—também conhecido como Il Generale, ou Miguel e também como Michael—antes de ele passear com os seus cachorros, Leo e Anibel, e pedimos que vestisse para a gente algumas de suas produções atuais. Aparentemente, ele muda de estilo toda semana—ele estava numa semana “militar”. Vice: Oi Michele. Me conta o que você faz.
Michele: Eu cuido de cachorros e sou um ragazzo-immagine [na Itália, ragazzo-immagine é um jovem bonito que é pago por organizadores de eventos e relações públicas para ir a festas]. Ganho 30 euros por noite, e tenho que ir vestido com uniforme militar ou com uma roupa étnica. Como começou a sua paixão por essas fantasias?
Começou quando fui cumprir um ano de serviço militar obrigatório nas Forças Armadas italianas, especificamente na Marinha. Eu discutia muito com os oficiais porque eu não conseguia cumprir as ordens. Como assim?
Bom, para começar, não era permitido customizar os uniformes, e cada vez que eu tirava uma folga eles gritavam comigo porque eu insistia em usar minhas roupas civis. Eles me diziam que eu me vestia como um hippie só porque eu queria usar ternos cor de terra camuflados e eles exigiam que eu usasse apenas o uniforme original da Marinha. Fora isso, quando eu era criança eu era louco por caubóis, e na minha adolescência eu era obcecado por artes marciais. Eu usava umas camisetas no estilo do Bruce Lee e espadrilhas e ia brincar de luta na rua com os meus primos—tipo “AH!”, “OOH!”, “OH!”. Também tive minha fase glamurosa. Pintei meu cabelo de vermelho e usava saltos plataforma enormes. Eu tava numa fase David Bowie. Você curtia o estilo ou o som dele?
O som era bacana, mas eu sempre tive mais interesse nas suas roupas. Você era adolescente nos anos 70, um período da história italiana em que as pessoas te julgavam socialmente e politicamente pelas roupas que você usava.
Sim. Eram tempos revolucionários e eu queria fazer a minha parte. Mas eu não era ligado à política. Eu apenas gostava de roupas—as jaquetas de esquimó dos comunistas e por baixo as camisas dos fascistas ricos. Os meus amigos não sabiam como me classificar porque um dia eu estava vestido de fascista e no outro de comunista. No fim, também eram uniformes. Eram mais informais, mas ainda assim eram uniformes. Como você decide o que vai vestir de manhã?
Tenho fases. Semanas temáticas. Posso me vestir de turco, de general da SS, ou usar um traje do Egito Antigo, ou de um fariseu da antiga Jerusalém, soldado da brigada francesa etc. Às vezes decido baseado em datas especiais. No dia 25 de abril sempre me visto de soviético. As pessoas mexem muito com você por causa das suas escolhas excêntricas de roupas?
Eu saía com uma garota que disse que se eu quisesse alguma coisa mais séria com ela eu teria que mudar o meu estilo. Me senti reprimido, mas não mudei. Muita gente zoa comigo na rua, mas também me elogiam bastante. As pessoas me chamam de “o transformista”.

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Forças Especiais Antiterroristas Alemãs

Quantas roupas você tem na sua coleção?
Centenas. Às vezes é só mudar alguns detalhes para ter um visual completamente novo. Compro coisas em feiras e brechós e customizo. Gosto de acompanhar as tendências da moda, mas nunca sem colocar a minha cara nas coisas. E como você se mantém informado?
Principalmente com documentários que vejo na TV e através de documentos históricos. Eu reparei que quando você muda de roupa você também fala uma língua diferente. Tipo, ontem, você estava vestindo um uniforme do Exército alemão e me disse “auf wiedersehen” quando fomos embora.
Eu procuro interpretar o visual. O meu grande sonho é ser ator. Tentei me inscrever para ser extra na ópera, mas a fila era grande demais e eu voltei para casa. As pessoas não estavam nem aí para as roupas, só queriam um trabalho fácil. Qual personagem histórico você considera mais estiloso?
Eu amo os cavaleiros do Renascimento italiano, como Ettore Fieramosca e Bartolomeo Colleoni. Mas a armadura é pesada demais. Você também teria de descolar um cavalo.
Também gosto dos hussardos, com todo aquele ouro. E de ninjas, mesmo sendo assassinos. Tem algum personagem que você não consegue interpretar?
Tenho dificuldade com os japoneses. Sou um cara grande, e eles são todos pequenos. Não sou um samurai muito convincente. Por que você está de moicano esses dias?
Ultimamente tenho curtido o visual de veteranos do Vietnã, tipo Taxi Driver. É um penteado tático. Me conte a coisa mais engraçada que aconteceu com você recentemente.
Eu estava num parque aqui em Milão e um cara tinha perdido o cachorro dele. Eu tentei me aproximar, para ajudar, mas ele começou a gritar: “Sai fora, viado! Não preciso de você”. Eu estava usando uma roupa medieval, um tipo de collant. Isso não é engraçado. Que cara imbecil.
É. E um dia eu estava em um outro parque e um grupo de brasileiros estava brigando. Eu estava vestido de ChiPs e um deles correu em minha direção gritando: “Socorro, polícia!”. Isso acontece muito. Quando uso minhas roupas de policial os traficantes do parque fogem quando me veem. Você usa roupas comuns em alguma situação?
Só em casa. Uso agasalho. Mas eu jamais sairia de casa vestido daquele jeito!

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Guarda Civil Espanhol

Patrulha Rodoviária Norte-americana

Polícia de Chicago

Decima Flottiglia MAS (unidade de mergulhadores da Marinha Real Italiana, criada durante o regime fascista).