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Conheça o Artista Que Está Transformando GIFs de Arte Renascentista em um Livro de Realidade Aumentada

Entrevistamos Scorpion Dagger, um dos maiores artistas de GIFs que esse mundão já viu.

Nos últimos dois anos, James Kerr – mais conhecido como Scorpion Dagger – criou centenas de GIFs que transformam obras de arte renascentistas em animações surreais e irreverentes. Com criações que vão de belas donzelas entornando cerveja a apóstolos tocando guitarra, passando por Jesus esmurrando um robô, Kerr provavelmente é um dos criadores de GIFs mais engraçados da web.

Mas, com um acervo de quase mil imagens, o artista canadense agora leva as suas apropriações bizarras para outro nível, com um livro a ser publicado pela editora Anteism de mais de cem páginas coloridas do seu trabalho. Mas, se o senso de humor original dele é um indicativo, a manifestação física de Scorpion Dagger não vai ser nada convencional – apesar da origem clássica da arte em que ele se baseia.

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Usando o Kickstarter, Kerr está arrecadando fundos para desenvolver um aplicativo que irá deixar todas as imagens do livro em realidade aumentada – dando vida às ilustrações, exatamente como estão no Tumblr dele. “Espero incluir algumas surpresas ali também”, ele disse ao Creators Project. Esta adição tecnológica irá “levá-lo a novos públicos e espaços”, disse Kerr. “Parte disso, também, é que com realidade aumentada há esta ideia que eu acho bastante divertida. Comecei escaneando alguma dessas pinturas de livros, adaptei-as digitalmente, e agora as estou colocando de volta em um livro”.

Com o projeto no Kickstarter chegando em US$ 10.000 –  da sua meta de US$ 54.510 – e faltando 18 dias para atingi-la, o Creators Project quis saber mais sobre a mente de Scorpion Dagger. Procuramos o artista e falamos sobre o começo da sua manipulação de obras de arte renascentistas, o que os artistas originais diriam sobre os GIFs, os seus objetivos fundamentais em “usar essas pinturas antigas para criar um mundo onde esses personagens saem do museu” e, bem, entornar cerveja e curtir um rock.

The Creators Project: Qual foi o primeiro GIF que você fez como Scorpion Dagger? Como o seu trabalho, estilo e humor evoluiu ao longo destes últimos dois anos fazendo GIFS?

James Kerr (vulgo Scorpion Dagger): Tudo começou quando eu estava fazendo um projeto com um amigo em que passávamos uma imagem um para o outro, adicionando elementos a ela no processo. Ele me mandou uma imagem de um cara com um monte de olhos usando uma balaclava, e eu não tinha nenhuma ideia do que fazer com ela.

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Na época, eu estava brincando de fazer animações em vídeo bem curtas, então animei os olhos e mandei a imagem de volta para ele. Ele respondeu dizendo que ela faria mais sentido como GIF, o que me fez pensar que, ao invés de fazer vídeos, eu deveria estar fazendo GIFs. Foi aí que surgiu a ideia para começar a página no Tumblr – eu estava procurando algo novo para fazer, um projeto, e fazer GIFs era muito divertido. Os primeiros GIFs eram bem básicos, mas, à medida que fui aprendendo coisas novas sobre animação, pude trabalhar mais o humor.

De todas as coisas que você podia transformar, o que o atraiu na arte renascentista e na iconografia religiosa?

A principio eu só estava procurando imagens sem direitos autorais! Foi talvez depois de alguns meses de começar a trabalhar como Scorpion Dagger que percebi que sempre voltava à arte renascentista, e comecei a pensar que talvez tivesse alguma coisa ali.

Devagar, desenvolvi esta ideia de usar essas pinturas antigas para criar um mundo onde os personagens na tela deixassem o museu e fossem para este lugar que criei para eles. Na verdade foi um rumo muito natural para mim, porque tenho uma forte inclinação política, e a natureza dessas pinturas se presta perfeitamente para a crítica de coisas como religião e modernidade que eu queria explorar.

Como o livro aconteceu? Você tentou vender a ideia para algumas editoras, ou a Anteism veio até você? 

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O engraçado foi que eu estava pensando em fazer um pequeno livro de gravuras eu mesmo e ver como ia. Algo como dois dias depois de eu baixar um software para fazer livros, um amigo meu me disse que a Anteism queria falar comigo sobre a possibilidade de fazer um livro usando realidade aumentada. Esses caras são muito legais, e fazem coisas muito legais, então a decisão de fazer o livro foi fácil.

Li em várias entrevistas antigas que você estava procurando uma maneira de expandir o meio GIF para novos formatos, tanto pelo lucro quanto pela experiência. Um livro de realidade aumentada é o tipo de expansão que você tinha imaginado?

Eu tinha acabado de vender a ideia de uma exposição de RA para um museu aqui em Montreal, e eles pediram que eu voltasse com alguns exemplos. Me encontrei com algumas pessoas que trabalham com este tipo de tecnologia, mas achei os preços exagerados, então parte do plano, com o livro, é que esperamos desenvolver nosso próprio aplicativo de RA, que tanto eu quanto a Anteism possamos usar no futuro.

Para mim, não tem tanto a ver com lucrar com o meu trabalho, mas mais com levá-lo para novos espaços e públicos. Parte também é que, com a RA, há esta ideia que eu comecei escaneando algumas dessas pinturas de livros, as transformei digitalmente e agora as estou colocando de volta em um livro, que eu acho bastante divertida.

Quanto da arte que está no livro é nova? Tem muita coisa do seu Tumblr?

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Vai ter bastante coisa nova, que provavelmente nunca vai ir para o site, mas a maior parte vem do Tumblr. Mas a maioria dessas imagens vai ser ampliada, expandida e melhorada. O Tumblr tinha antes um sistema de upload que era muito frustrante, porque limitava muito a duração e o tamanho do GIF, então muitos dos GIFs da página não estão exatamente como eu queria. Cortei muita coisa no passado, e adoraria poder mostrar agora como eu queria que eles tivessem ficado originalmente.

Toda a arte no livro vai ser transformada em RA?

Toda ela. Espero usar a RA em algumas surpresinhas ali também.

Você pode falar um pouco mais do livro? Como ele é organizado – tem capítulos, é dividido em temas/categorias?

Não tem capítulos no sentido formal, mas vamos tentar organizá-lo de um jeito que tenha algum diálogo ou continuidade entre as imagens.

Li em outras entrevistas que o seu método para fazer os GIFs é bem simples. Você pode falar mais disso?

É tudo digital. Às vezes eu escaneio imagens de livros de arte que tenho em casa, mas cortar, colar e animar, é tudo no Photoshop. Normalmente o que acontece é eu chegar com uma ideia para um GIF e fazer os personagens se mexerem cortando coisas como corpos, cabeças, braços e pernas de várias pinturas. Muitas vezes eu preciso ajustar o balanço de cor para que tudo combine (minha namorada me ajuda nesta parte, porque eu sou meio daltônico – às vezes a estranheza de partes do corpo que não combinam acaba passando). Tendo feito isso, faço o fundo dos GIFs e outros detalhes que vão ali.

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O processo de animação é bastante simples – faço todos eles em animação por quadros (no Photoshop) e a cada quadro novo algo se mexe um pouquinho. É muito similar ao processo tradicional de animação. No primeiro quadro, por exemplo, o braço está ao lado do corpo, no segundo quadro está um pouco mais para cima, no terceiro quadro um pouco mais etc. Cada posição do braço é representada por uma camada que é ligada e desligada a medida que você passa pelos quadros. Se alguém quer ver como é feito processo, tem uns vídeos muito bons no Youtube que explicam, feitos por pessoas que são melhores em explicar coisas do que eu.

Você disse que tem uma pasta no seu computador cheia de imagens que achou na internet. Você tem uma coleção de partes de corpos recortadas também?

Não sei se isso é assustador, mas…

Como você imagina que os pintores originais reagiriam ao seu trabalho?

Acho que alguns iriam curtir. Se você olhar as pinturas de Lucas Cranach, o Velho, por exemplo, ele quase parece estar se divertindo com elas. Quase como se ele estivesse louco para subverter os objetos retratados na obra dele. Gosto de imaginar que alguns desses pintores eram meio punks, e que se não fosse pela ameaça de ser excomungado ou coisa pior, teriam ido muito mais longe. Talvez seja apenas a minha interpretação de algumas dessas obras, mas às vezes é possível ver nelas um pouco de rebeldia.

Você vai continuar o seu trabalho como Scorpion Dagger depois de o livro ser publicado? Ou esta é a conclusão lógica do seu alter ego artístico?

Boa pergunta! Achei que pararia depois do primeiro ano, mas continuo me apaixonando cada vez mais por fazer GIFs (no geral). Quem sabe? Eu não pretendo fazer isso para sempre, e acredito que é bom se despedir enquanto você ainda é bem-vindo, mas talvez eu não seja a melhor pessoa para julgar isso. Está muito divertido agora, e eu acho que ainda tenho coisas a dizer.

Para apoiar o livro de realidade aumentada do Scorpion Dagger, vá ao Kickstarter.

E para ver mais do trabalho incrível de James Kerr, visite o hilário Tumblr dele.

Tradução: Fernanda Botta