Lembranças dos nossos ex
Foto: Felipe Larozza/VICE

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Lembranças dos nossos ex

Vasculhamos as caixas de lembranças para reviver namoros antigos.

Às vezes sobra uma coisa ou outra do ex na sua casa. Aquela camiseta que ele esqueceu. Um presente de um ano de namoro. Cartas e mais cartas que você recebeu com mil juras de amor. O que acontece com essas coisas quando o amor vai embora? Ou quando você leva aquele pé na bunda? Bom, tem gente que joga tudo pela janela, bota fogo, rasga em milhares de pedacinhos, doa tudo para uma entidade de caridade, picota com uma tesoura e tem gente que guarda lá no fundo do armário ou coloca numa caixinha pra nunca esquecer. Neste Dia dos Namorados, pensando nesses objetos, nós vasculhamos o armário de cinco pessoas para saber como elas guardam essas lembranças de amores passados.

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Foto: Felipe Larozza/ VICE

Para a nossa surpresa, foi muito mais fácil do que a gente imaginava achar personagens que mantém pequenos "caixões" para guardar aquelas recordações do ex ou daquele amor de adolescência – que é aquela idade que a gente gosta de uma sofrência. Bilhetinhos, cartinhas com declarações de amor, alianças, ingressos, fotos, planta… Achamos de tudo durante nossas visitas.

Neste cemitério particular parece até que estamos querendo reviver um recalque antigo ou aquele rancor que guardamos de vez em quando. Só que todo mundo nos mostrou essas lembranças com um arzinho de nostalgia e até aquela melancolia gostosa que bate quando você pensa numa época que nunca mais vai voltar.

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Léo Lopes, 25 anos, estudante de moda

VICE: O que seus exs deixaram aqui pra você?
Léo Lopes: Tive dois exs na vida. Tenho coisas do meu primeiro ex que eu quase casei, morei com ele em Londres por oito meses e a gente veio pro Brasil pra casar. Quando ele veio me visitar deixou uns elefantezinhos de decoração. Ele tinha essa coisa com elefantes e achava que é um animal que traz prosperidade e por isso a casa dele era cheia de elefantes. Ele me deixou uma câmera Lomo que ele não usa mais e eu tenho uma foto dele tirada em uma viagem que fizemos pro interior da Inglaterra. Essa foto sempre ficou na minha carteira desde que a gente terminou e continua aqui em casa. Tudo do meu segundo ex eu devolvi para ele ou o que eu achei dele depois de um tempo doei para morador de rua, mas eu tenho uma samambaia que ele me deu que não tenho coragem de jogar fora porque ela é muito fofa. Qual é a sensação que te vem quando você vê essas coisas?
Hoje essas coisas do meu primeiro ex não me fazem sentir nada. Eu converso até hoje com esse primeiro ex e o que sinto mesmo é algo mais fraternal por ele. Me preocupo com ele, mas não me dá nada mais. Agora a plantinha, como é um término mais ou menos recente de cinco meses atrás é meio estranho ainda olhar para ela. Ainda penso bastante nele então dá uma baqueadinha.

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Você já pensou em tacar a samambaia pela janela?
No começo eu pensei, porque meu relacionamento com esse último ex foi bastante dentro do meu apartamento. Então eu via muito dele aqui dentro, tenho muita memória dele aqui. É até bom que eu tô me mudando agora de apartamento para dar uma restaurada. Mas no começo eu até queria me livrar da planta, só que ela é muito fofa (risos). E cresceu muito também, então fico com dó de jogar fora. Tem coisas suas com seus exs?
Tem uma forma que tentei reavê-la, mas não consegui. Ela é muito barata, custa dez reais, mas é minha. (risos) No começo tentei pegar de volta, mas não tô falando com ele desde que terminamos, então acabei deixando pra lá. Às vezes quando quero fazer um bolo, penso na forma que está faltando e acabo lembrando dele sem querer. Sempre penso "ai que bosta" (risos).

Você curte guardar essas lembranças?
Depende da situação. Com o meu primeiro ex eu queria ter essas recordações dele, até porque ele não morava aqui e eu tinha pouca coisa dele aqui comigo. Agora com o outro eu achei melhor não ter porque às vezes ainda dói muito de ter isso perto de mim. Dá até um pouco de rancor. É bom passar um tempo para esquecer e futuramente conseguir ter uma relação saudável com a pessoa de novo.

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Erica Gonsales, 41 anos, jornalista e publicitária

VICE: Por que você guardou essas memórias?
Erica Gonsales: Cara, eu sempre escrevi muito e numa época escrevia muita carta já que não tinha e-mail. Tudo mundo escrevia bastante bilhete, carta. Quando eu estava fazendo faculdade de jornalismo todo mundo também escrevia bastante coisa, jornalista né. Mas eu também escrevi muita carta e poesia para quem era meu casinho. Trocava carta, escrevia um texto para dar de presente e ai eu fui guardando tudo isso e um dia eu peguei e organizei tudo. Mas tem coisa desde meu primeiro namorado. Não ia jogar fora, né? Você já pensou de jogar tudo fora num momento de raiva ou botar fogo?
Não. Sinto te decepcionar. (risos) Talvez você ache um personagem que faça isso.

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Você acha importante guardar essas recordações?
Acho, tanto é que guardei tudo com o maior carinho numas caixinhas bonitinhas, com tudo embrulhado e amarrado com uma fitinha. É muito legal você olhar depois esse tipo de coisa. Eu tava no Riviera um tempinho atrás e peguei um livro para ler no balcão que era uma troca de cartas entre a Simone de Beauvoir e o Nelson Algren, amantes há quase 20 anos. Achei aquilo muito louco. O cara guardou pelo menos 15 anos de cartas dela. Você preserva uma puta história. Além de uma história de amor, você preserva as memórias de uma época, de um contexto político-social de todo que está acontecendo. Tudo pode ser guardando. Sou muito ligada nisso. O que você sente quando revisita essas memórias?
Em geral é sempre nostalgia, mas sempre fico feliz quando revejo essas lembranças. Tristeza nunca senti. Mesmo com aquele ex escrotão?
Cara, não vem muita tristeza de ex escroto. Pelo menos não nas coisas que tenho guardadas, aí fica para outras memórias que não são palpáveis. Algum ex tem uma caixinha com coisas suas guardadas por aí?
(risos). Alguns sim. Um sei que tem porque ele me falou que tem porque sempre escrevi muita coisa. Só sei desse, mas sei lá, pode ser que sim.

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Heigor Martins, 23 anos, produtor

VICE: O que você tem aí para mostrar para a gente?
Heigor Martins: Tenho cartas e algumas lembranças aqui que não sei exatamente se são dos meus três últimos relacionamentos. Mas nessas coisas tenho lembranças dos meus 15 a 21 anos. Foram três relacionamentos bem diferentes e fui guardando tudo porque não tive muita coragem de jogar fora, além de ter um certo carinho independentemente da conclusão que chegou de alguns desses relacionamentos. Então acabei guardando tudo e quando soube da ideia dessa entrevista pensei que finalmente tudo isso teria uma utilidade.

O que você sente que vê essas lembranças?
Estranhamento. Porque eu não me reconheço em muitos pontos da minha personalidade na época dessas coisas. Não é um estranhamento ruim e nem bom, é um misto de saudade com o não-reconhecimento já que as coisas mudaram muito de um tempo para cá. É diferente.

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Você pensa em jogar fora essas coisas?
Não. Já pensei antes, principalmente no curso de outros relacionamentos. Só que na hora de me questionar sempre pensava que era melhor guardar tudo isso, porque não é por causa de uma outra pessoa que vou invalidar tudo aquilo que passei anteriormente. Hoje, neste momento sendo solteiro há dois anos não vi nenhum motivo para jogar fora e nem tenho essa previsão. A não ser que eu faça uma mudança de casa.

Você acha que suas ex-namoradas guardam lembranças suas?
Cara, a primeira sim. A segunda não sei. Digo, ela não tem cartinhas porque pertences meus ela tem porque furtou. E a terceira não sei também, porque eu a magoei muito no final do relacionamento. Talvez todas tenham alguma coisinha minha. Acho que apesar dos problemas foram boas experiências e não foi nada muito caótico em absoluto para ninguém.

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Júlia Barcha, 25 anos, estudante de artes visuais

VICE: Por que você guardou essas recordações?
Júlia Barcha: Eu tenho uma caixinha de recordações e eu guardo muitas coisas. Guardo bilhetes de várias pessoas que me deram presentes, guardo vela de aniversário e acabei guardando várias coisas do meu ex. O bichinho de pelúcia eu guardei porque adoro bichinhos e foi um presente muito carinhoso. A coleira eu não consegui me livrar porque parecia desrespeitoso jogar fora. Foi uma coisa que meu ex me deu de coração.

Ele te deu a coleira para ser seu submisso?
Isso. A gente tinha um lance de pet e ele era o cachorro (risos).

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Qual é o primeiro sentimento que vem quando você resgata esses objetos?
É um sentimento de carinho, mas eu não me sinto mais associada com essas coisas. Ele é uma pessoa que gostei antigamente e apesar de saber que isso foi importante eu não me sinto mais próxima disso. É mais uma recordação de algo que ficou no tempo. É como se fosse uma foto do que eu era antigamente.

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Você já pensou em jogar fora?
Já, mas eu sou tão lixeira, guardo tanta coisa sem importância que não vou jogar isso fora. Eu sou muito acumuladora.

Faz tempo esse relacionamento?
Mais ou menos, conheci ele na internet quando tinha uns 13, 14 anos num fórum de videogame. A gente teve um relacionamento na internet de adolescente mesmo. Ele era de São Paulo, mas na época que nos conhecemos ele morava em Recife. Ele tinha um projeto de voltar a amorar em São Paulo, mas como eu não falo mais com ele nem sei se ele está aqui ou não. Eu conversei com ele durante toda a minha adolescência, ele veio me visitar e a última vez que o vi foi em 2013. Só que eu não aguentava mais essa situação e falei "chega, sai da minha casa". Ficaram só as recordações.

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Tamiris Hilário, 28 anos, coordenadora de criação e direção de arte

VICE: O que você tem aí para mostrar para a gente?
Tamiris Hilário: Trouxe um guardanapo que foi um start do meu primeiro pedido de namoro e um cachorrinho de pelúcia que veio junto com esse pedido. Eu tinha 16 para 17 anos na época.

Você já pensou em jogar essas lembranças fora?
Não. Engraçado é que eu lembro que sofri muito com esse término. Era aquele primeiro amor que você ama muito. Sofri, mas nunca me passou pela cabeça de me desfazer dessas coisas. Acho que senti mais a tristeza da perda do que raiva propriamente dita que me fizesse abrir mão dessas coisinhas.

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Como você se sentiu quando teve que revisitar essas memórias para a nossa reportagem?
Nossa, foi uma sensação bem engraçada. Porque eu falei que tinha esse guardanapo, mas não esperava ser chamada para dar entrevista. E foi essa coisa de reconstruir uma história. Foi isso o que aconteceu. Então fui relembrando onde eu conheci esse meu primeiro namorado, fui lembrando de amigos, pensei na fulana que andava comigo na época e depois perdi o contato. Você percebe então que vários elementos e personagens também retornam na sua vida. Lembro que na época da escola eram vários casais e acho que hoje em dia ninguém mais deve estar junto (risos). Talvez nem se falem mais, enfim. Foi uma sensação mega gostosa de poder reconstruir cenas, pessoas e lugares que fui e nem sei que existem mais. Foi uma nostalgia gostosinha para mim,

E seu primeiro ex deve guardar objetos seus?
É super engraçado, porque no ano passado eu estava numa padaria e vi esse meu primeiro namoradinho lá. Fazia exatamente dez anos desde que a gente namorou. Falei para a gente conversar e fui super legal. Não sei se ele tem uma caixinha física porque acho que homem tem menos apego, mas foi uma conversa boa. A gente não imaginava como a gente estaria dez anos depois. Acho que ele ficou um pouco de vergonha, porque a gente terminou por causa de uma mancada dele, mas foi tudo bem.

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