Guerrilha tricô

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Guerrilha tricô

Sem limite de idade.

Em 2005, no Texas (onde mais?), Magda Sayeg cobria a maçaneta da loja da sua porta com uma peça de tricô, dando origem ao que, hoje em dia, é conhecido como “Tricô Urbano”, arte de rua em versão colecção Outono/Inverno. Desde então, o movimento tem-se espalhando pelo mundo: Estados Unidos, Bali e chegou, recentemente, a Guimarães. Quem o trouxe foi Julia Kiessig que já tricotava em Berlim, num grupo que se chamava “Tricô Urbano” (

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Paniskstriken) e que integrou um movimento global de “guerrilha tricô”. Veio para trabalhar na Capital da Cultura e acabou a cobrir elementos urbanos da cidade com o seu tricô, com o Tricontar, arrastando consigo algumas avozinhas vimaranenses que, qual Bansky ou MaisMenos, produziram peças para intervir em elementos urbanos vimaranenses. VICE: Sabes que em português “fazer tricô” tem um duplo sentido?
Julia Kiessig: Sei, sei. A ideia é essa. Jogo com essa ideia. Há uma coisa que se chama “terapia do tricô”, que é isso mesmo. Acontece em prisões nos Estados Unidos, por exemplo! O que é o Tricontar?
Significa tricotar e contar histórias. Mistura as duas coisas. Que é o que acontece quando as mulheres se juntavam para fazer tricô e contam factos sobre a sua vida. Não é apenas um projecto de arte de rua. É também um projecto social. O que fazemos são peças de tricô para colocar na rua. Grafiti de tricô. Grafiti suave. Neste projecto, então, o processo é mais importante que o objecto.
Para mim, o processo é sempre o mais importante. Em tudo o que faço. Participar, intervir na cidade é o mais importante. É algo a que tens direito. Como desenvolves o projecto?
Neste momento, sou só eu. Mas, em Ovar, onde estou agora, somos 15 mulheres, todas muito entusiasmadas. Em Guimarães, no início, erámos sete jovens. Fomos colocando coisas na rua, eram umas dez, inicialmente. Agora, restam apenas quatro. Hoje em dia, trabalho, muitas vezes, com a Fraterna. Trabalhamos devagarinho, porque é gente mais velha. Onde podemos ver o teu trabalho?
A maior peça está ao pé do shopping, ao pé do tanque das lavadeiras. Disseste que, no início, eram dez. O que foi acontecendo às outras? Vandalismo?
Sim e não. É muito complexo. Não há muita arte de rua aqui. É uma novidade, por isso  as pessoas aborrecem-se com isso. Numa reunião com pessoas da câmara, disseram-me que o património não pode ser tapado. Podia fazer tudo fora do centro histórico, mas aqui não. E eu quero que se veja e aqui é onde melhor se vê, por isso foi à revelia. O truque é colocar fora do alcance das pessoas. Acho que também há gente a tirar porque não temos licença oficial para colocar. Com a Capital Europeia, não achas que houve uma sensibilização das pessoas neste sentido? Para a arte, em geral?
Do que eu vi este ano, há muita arte, mas daquele tipo [de arte] em que se compra o bilhete e vais a um sítio consumir. Há algumas coisas como a “Outra voz”, onde há a participação de todos e se aprende, mas não vi muita ligação entre o povo e a arte. A arte é sempre uma coisa de intelectual e separada. Elitista. Às vezes, convidam o “povo” para fazer coisas de forma gratuita, e isso parece-me um abuso. De Guimarães, passaste agora para Ovar…
É uma história engraçada. Quando fizemos o segundo Tricontar, deixei a bicicleta na rua “vestida” de tricô. Estava com cadeado, durante dois dias. E deixei etiquetas, para que quem passa possa pegar em informação e pesquisar. Resultado: roubaram-me a bicicleta, mas o Rafa pegou na informação e convidou-me a participar num projecto para a sua associação, La Fin Terrible. Vais continuar a espalhar o teu tricô por aí?
Em Janeiro, deixo Guimarães. Aqui não consigo ganhar dinheiro.

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