FYI.

This story is over 5 years old.

Tonic

Por que casais brigam mais quando fazem menos sexo

Os hormônios são só parte dessa história.
Imagem: divulgação

Matéria originalmente publicada no Tonic.

Provavelmente já aconteceu com você: num relacionamento, o sexo é ótimo, aí – por uma razão ou outra – a fonte seca. No começo você provavelmente é compreensivo; talvez seu parceiro esteja estressado com o trabalho. Mas aí você começa a ficar um pouco mais irritado. Ressentido. Até puto. Logo, você está pronto para brigar – o tipo de briga que começa com “Só acho engraçado que…” e acaba com alguém explodindo e acabando no sofá da sala que você já queria trocar porque é impossível dormir nele. E aqui está você, rangendo os dentes, imaginando onde deu tudo errado.

Publicidade

Essa reação? Bastante comum. A raiva? É válida. Mas o que realmente acontece? Alguns afirmam que ficar muito puto da sua cara quando você não faz sexo vem da falta dos químicos do “bem-estar” – dopamina, oxitocina, todas aquelas endorfinas – que as transas liberam no seu cérebro. Essa é uma parte, mas não conta a história toda. Sem querer ser grosso aqui, mas todo mundo sabe que aquele autoamor putaço no banho não vai compensar o fato de que a pessoa que você ama não está disposta a partir pro lado físico, independente de quanta dopamina uma punheta ou siririca libere na sua cabeça.

“Para muitos casais – se não a maioria – sexo representa um meio significativo de conexão íntima, em termos físicos, claro, mas também emocionais”, diz Amanda Gesselman, psicóloga social e cientista pesquisadora do Kinsey Institute. “Mesmo não sendo uma correlação perfeita, satisfação com nossas vidas sexuais tende a se ligar com quão felizes estamos no relacionamento em geral. Não é surpresa então que quando o desejo do parceiro começa a cair – talvez por stress, depressão, cansaço ou porque a frequência do sexo tende a cair mesmo conforme um relacionamento progride – interpretamos isso como um sinal de que algo está errado.”

Como nossa mente é capaz de feitos incríveis, como transformar preocupações válidas em uma montanha de ansiedade, a falta de sexo pode ser interpretada de maneira incorreta. “A pessoa pode interpretar essa queda no desejo como sinal de que o parceiro não a acha mais atraente, não gosta mais de fazer sexo com ela, ou não quer mais estar com ela, mesmo se nada disso for verdade”, diz Gesselman.

Publicidade

Mas como todo mundo sabe, uma coisa não precisa ser verdade para te fazer perder o sono. E como pedir sexo te coloca numa posição vulnerável – sim, mesmo se vocês estão juntos há anos – ser rejeitado pode ativar inseguranças que você já carregava de um relacionamento para outro. E isso desencadeia toda a raiva e irritação. Mas não há razão para se criticar por causa disso, porque essa ativação geralmente está fora do seu controle consciente. Na verdade, isso volta até sua infância, quando você aprendeu a se ligar aos outros criando laços com seus pais.

“Há diferenças individuais bem documentadas em estilo de ligação, por isso o modo como a pessoa se liga ao parceiro pode variar”, diz Gesselman. “Algumas pessoas têm uma ligação mais ansiosa com o parceiro, o que significa que tendem a precisar de um pouco mais de validação para se sentirem seguras. Algumas pesquisas mostraram que pessoas com estilos de ligação mais ansiosa – que se preocupam mais com se o parceiro pode deixá-las, que precisam de mais validação – têm mais chance de ver o sexo como um tipo de medida da estabilidade do relacionamento.”

“Para essas pessoas, o parceiro não querer sexo pode ser muito perturbador, porque elas colocam mais peso no sexo como um marcador de segurança”, ela acrescenta. Vanessa Marin, uma terapeuta de Los Angeles, concorda. Ela vê esse problema com frequência em seu consultório e mesmo insistindo que é comum, ela também diz que a intensidade dos sentimentos que surgem quando o sexo está na mesa muitas vezes surpreende.

Publicidade

“Alguns casais parecem pensar que o sexo é só sexo”, diz Marin, “mas é muito mais que isso. Seu parceiro não toma a iniciativa só porque quer ter um orgasmo. Claro, essa é a parte divertida do sexo, mas na verdade é mais sobre dar prioridade ao outro e ao relacionamento sobre milhões de coisas que disputam nossa atenção. Se seu parceiro dispensa o sexo porque está trabalhando em e-mails ou só vegetando na frente da TV, isso manda uma mensagem de que há coisas mais importantes que passar tempo com você”.

E aqui vem um problema maior: quando você está puto e não quer falar sobre isso, seu parceiro nota. E a tensão que vai crescendo? Marin diz que isso pode broxar o parceiro, criando um ciclo negativo que ela já viu muitas vezes. Mas falar sobre esses sentimentos também não é fácil. “Não estamos equipados para falar sobre esses sentimentos de rejeição e lidar com eles”, diz ela, “então deixamos a tensão crescer dentro de nós e mexer com todos esses outros sentimentos antigos de rejeição. Isso te leva de volta para a escola e ser escolhido por último pro time de queimada”.

Então o que você pode fazer se não está transando e começa a se sentir irritado? Tudo depende da comunicação, não importa quão constrangedora e desconfortável seja. Em seu consultório, diz Marin, ela trabalha ajudando casais a entender que eles não estão trabalhando para nunca serem rejeitados na hora do sexo, mas para ser capaz de entender e processar os sentimentos que vêm com a rejeição. Isso, por sua vez, permite que os parceiros falem claramente sobre seus desejos. Isso significa brigar menos e passar mais tempo juntos. E muito menos ressentimento.

Redefinir o que o sexo significa para vocês como casal também é útil para cortar sentimentos de rejeição e ressentimento. “Muitos casais tendem a considerar coito o padrão”, diz Marin. “Você precisa criar um cardápio maior. Tem muitos jeitos de fazer sexo, mas acabamos perdendo a criatividade e passamos a fazer a mesma coisa de sempre.” Então se seu parceiro recusar o sexo porque está entediado com a coisa toda – às vezes demora demais, sabe? – então talvez seja hora de considerar o coito só uma parte da experiência que visa aproximar vocês.

“E se uma pessoa fizer sexo oral na outra?”, pergunta Marin. “E se uma pessoa falar putarias enquanto a outra se masturba? E se vocês assistirem pornô juntos? Tem muitas outras coisas que você pode fazer, e quando você percebe que há uma grande variedade de coisas para escolher e o tipo de esforço que cada uma exige, fica muito mais fácil dizer 'OK, não estou com vontade de fazer nada pra mim agora, mas posso falar umas putarias, ficar nu enquanto você se masturba, te fazer uma punheta rápida ou só deitar do seu lado'.”

Mais uma coisa que pode ajudar? Ver a vida sexual como algo que exige tempo e esforço em vez de algo que simplesmente acontece quando você está com a pessoa certa. Segundo uma nova pesquisa da Universidade de Toronto, pessoas que veem suas vidas sexuais como um processo de desenvolvimento tendem a se sentir melhor em trabalhar essas questões dentro do relacionamento. Então, da próxima vez que seu parceiro dispensar o sexo, se permita sentir todos esses sentimentos, mas não os prenda. Tente algo novo – e sim, incluindo falar sobre isso.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.