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Tecnologia

A Missão de Levar Imagens da Primeira Fotógrafa de Guerra Inglesa para Internet

O desconhecido e valioso trabalho de Olive Edis está prestes a ser digitalizado por um museu britânico.
Foto de um campo de batalha em Ypres, na Bélgica, tirada por Olive Edis em 1919. Crédito: Cromer Museum

Poucos conhecem o trabalho pioneiro da fotógrafa inglesa Olive Edis (1876-1955) na primeira metade do século 20. Mas o esquecimento generalizado deve ser questão de tempo. Agora um museu britânico recebeu financiamento de 81 mil libras para criar a primeira exposição interativa de de suas obras. Será a estréia das fotos de Edis na internet.

Olive Edis é considerada a primeira fotógrafa de guerra do Reino Unido. Além de ter sido uma das primeiras a adotar a técnica de coloração de imagens conhecida como autocromo, ela também era uma empreendedora perspicaz que teve papel fundamental na luta a favor dos direitos das mulheres na Inglaterra.

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Alistair Murphy, curador da Coleção Olive Edis do Museu Cromer, me disse que o objetivo do projeto é transferir as duas mil imagens hoje expostas no museu para um site. O financiamento ajudará a equipe do museu a reunir todas as fotografias e diários de Edis — presentes em diferentes museus do Reino Unido — em um só site. Murphy disse que a ideia é que todos possam ver e comentar as imagens, onde quer que estejam.

"Temos muitas fotos e não sabemos quem são algumas das pessoas retratadas. Esperamos que as pessoas da comunidade local e de outros países possam identificá-las", disse Murphy.

Retrato de um pescador de Sheringham tirado por Olive Edis. Crédito: Museu Cromer

Olive Edis nasceu em Norfolk, um condado ao leste da Inglaterra, no ano de 1876. Após a morte de seu pai, Edis construiu um pequeno estúdio fotográfico em Sheringham, uma cidade litorânea no mesmo condado. Retratista por formação, entre 1905 e 1955 Edis fotografou desde nobres e políticos a trabalhadores braçais.

Graças ao seu talento, em 1919 o Museu Imperial da Guerra a contratou para fotografar o impacto da Primeira Guerra Mundial na Europa Setentrional. Edis capturou imagens de diferentes pessoas e cenários — em especial, a experiência das mulheres nas forças armadas.

"Edis foi até a Bélgica e a França com duas mulheres ligadas ao Museu Imperial da Guerra. Elas viajaram pelo norte da França de carro, depois seguiram até a Bélgica, onde Edis retratou não apenas mulheres e soldados, mas também a devastação que a guerra tinha espalhado por toda a Europa", disse Murphy.

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A fotógrafa também teve papel importante na evolução da técnica autocromo – que havia sido patenteada em 1903 pelos pioneiros da fotografia, os Irmãos Lumières. Foi o primeiro processo de coloração de fotografias lançado no mercado antes da criação do filme colorido, na década de 30.

Um autorretrato colorido de Olive Edis. Crédito: Museu Cromer

A técnica, explica Murphy, consistia em fotografar através de um filtro colorido. Para criar o filto, era necessário tingir pequenos grãos de fécula de batata em tons de vermelho, verde e violeta. Em seguida, essa mistura era posta em uma placa de vidro. Os espaços entre os grãos de fécula eram preenchidos com fuligem e a placa era submetida a uma alta pressão antes de receber uma emulsão de brometo de prata. Os pequenos grãos funcionavam como um filtro que permitia "que a luz colorida atravessasse e reagisse com a emulsão."

"As imagens coloridas criadas com essa técnica eram pixalizadas", disse Murphy. "Esse não era um processo de coloração no sentido tradicional; se aumentarmos a imagem, veremos pequenos pontinhos verdes, vermelhos e azuis. De certa forma, essas imagens eram uma versão rudimentar das imagens digitais."

Edis utilizou placas fototográficas de vidro desde o início de sua carreira, em 1905, até o final da década de 30.

"Ela usava câmeras antiquadas com tripés, daquelas que tinham um pano preto que cobria a cabeça do fotógrafo. Essa máquinas utilizavam um negativo preto e branco, mas com um filtro colorido que criava a imagem com cor", explicou.

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Embora a contribuição de Edis para a fotografia seja incontestável, Murphy afirma que o projeto do museu, cuja duração será de quatro anos, terá também como foco o lado humano de Edis.

"Havia várias fotógrafas na época Eduardiana (1901-1910), mas o que diferencia Edis é que ela vivia da sua arte e esse profissionalismo é visível em sua fotos", disse Murphy.

Além de ter sido uma fotógrafa prolífica, Edis também foi uma empreendedora que comandava estúdios em Sheingham, Londres e Farhnam. "Edis era uma mulher independente, que nunca hesitou em entrar em um ramo tradicionalmente masculino", disse Murphy.

Retrato de Nancy Astor, a primeira mulher a ganhar uma cadeira na Câmara dos Comuns, tirado por Olive Edis. Crédito: Museu Cromer

A Primeira Guerra Mundial trouxe várias mudanças, tanto socio-econômicas quanto culturais, para o Reino Unido. Conforme mais homens se uniam ao exército e eram enviados para a a Frente Ocidental, as mulheres tomavam as rédeas do país, firmando seu espaço na economia e na sociedade. Essas mudanças culminaram no movimento sufragista — registrado, é claro, pelas lentes de Edis — e no direito feminino ao voto, conquistado em 1918.

As notáveis figuras femininas britânicas fotografadas por Edis incluem: Elizabeth Garrett Anderson, a primeira mulher a receber um diploma de medicina no Reino Unido; Henrietta Barnett, uma filantropa eminente; e Nancy Astor, a primeira mulher a conseguir uma cadeira na Câmara dos Comuns da Inglaterra.

Edis será lembrada por sua força de caráter e por suas fotos – que oferecem uma incrível visão histórica de todo o povo britânico. "Ela tinha uma capacidade incrível de capturar essas figuras — fossem elas um pescador ou George VI — em momentos de descontração", disse Murphy.

Tradução: Ananda Pieratti