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Comemorando Um Ano de Revogação do Aumento da Tarifa Com o MPL

Um ano se passou e o Movimento Passe Livre foi às ruas de São Paulo festejar a data e pedir tarifa zero. Teve black bloc, declaração de amor, barricada, gente pulando fogueira, bandeirinha de São João e, claro, gás lacrimogêneo.

Ontem, a cidade de São Paulo estava tipicamente cinza e fria quando rolava a concentração do “Não vai ter tarifa – ato na Copa pela tarifa zero”, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Praça do Ciclista.

Antes de começar a marchar, troquei ideia com a Mariana Toledo, do MPL, e ela me falou o seguinte: “Temos alguns objetivos. Hoje, 19 de junho, comemoramos um ano de vitória sobre a revogação do aumento da tarifa de transporte. Em segundo lugar, fazemos um ato a favor da tarifa zero – porque só revogar o aumento não é suficiente. O terceiro objetivo é demonstrar apoio às greves que aconteceram nos últimos tempos. E o quarto objetivo é fazer desse ato uma festa popular na Marginal Pinheiros, em contraposição à festa da FIFA. A ideia é que, na nossa, caiba todo mundo”. No segundo grande ato do MPL, ano passado, nossa experiência ao ocupar a Marginal foi horrível. A Tropa de Choque chegou do nada e botou todo mundo para correr. “Fizemos um grande esforço para que a manifestação de hoje ocorresse nesse clima. A polícia disse que podemos fazer a festa na Marginal, mas que se acontecer algum imprevisto, a força policial será acionada”, diz. Ela se refere a um pedido feito pelo Passe Livre para que a polícia não acompanhasse o ato de maneira ostensiva.

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Os black blocs se armam com escudos de madeira. O relógio aponta 16h20 e começamos a andar.

A Fanfarra do M.A.L. mete ficha e todo mundo ali parece meio emocionado. Entramos no túnel sentido Avenida Rebouças.

Lá dentro, o som reverbera e a galera canta o já clássico: “Três, três, três reais não dá. Eu quero passe livre, passe livre já”. Faz um ano que eu acompanho o MPL. Rolou uma saudadinha, viu.

Catracas de papelão ao alto, gente segurando rosas vermelhas. Dentro do túnel, as pessoas cantam, “Ih, tá maneiro. Black bloc é meu parceiro”.

Em dado momento, um black bloc muito novinho vem, pega na minha mão e diz “moça, eu te amo. Vi o vídeo que você fez no ano passado. Eu te amo”. Tem Copa, tem romance em protesto, tem tudo.

O helicóptero da PM sobrevoa a marcha, e esse é o único sinal de polícia que vemos até então.

Pouco depois das 17h, vemos a primeira pedra voando. O alvo é uma agência do Banco do Brasil.

A partir daí, praticamente todas as agências bancárias seguintes da avenida receberiam pedradas e pauladas. O estranho é que vários black blocs gritavam “É P2, é P2”. Perguntei para um deles se as pedras vinham da tática e ele falou “Não sei. Tá estranho”.

Os militantes do MPL não recriminavam as depredações, mas chamavam a galera e a imprensa de volta. “Segue o ato, pessoal, segue o ato.”

Só achei meio cagado quando uma mina de turbante azul do MPL disse no megafone “Pessoal da imprensa, vocês estão incentivando isso”, já que parte dos fotógrafos e jornalistas iam como urubus em cima de quem jogava pedras nas agências. A imprensa é escrota, mas calma lá, galera.

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"Copa é o caralho. Esse estádio tem sangue de operário", dizia o pixo.

Já é noite e chegamos na Marginal.

Em mais uma tacada de mestre, o MPL traz até o ato um carro que vem de ré pela avenida (sei lá como). Não foi possível entender muito bem o que tinha dentro do carro, mas o que aconteceu em seguida foi: catracas de papelão foram enfileiras e queimadas, bandeirinhas de São João pretas e vermelhas decoravam a festa, o Rincón Sapiência subiu num banquinho, pegou um microfone e começou a mandar uns raps.

E, claro, teve gente pulando fogueira.

É tempo de festa junina, amigos.

Tudo parecia calmo. Jornalistas e fotógrafos papeavam, nada de polícia. A festa ia muito bem. Vi até um roqueirão cabeludo tomando uma breja.

De repente, os black blocs começam a sair dos fundos de uma agência com todo tipo de entulho: madeiras, ferros, plásticos.

Era para ser uma barricada, mas os caras fizeram uma verdadeira obra de arte. A curadoria do Masp devia ficar de olho nesse pessoal. Vi talento.

Um fotógrafo amigo nosso chegou junto e avisou: “Parece que a cavalaria está de um lado e a Tropa de Choque do outro. Vamos ficar atentos”. Eu e o Felipe Larozza, fotógrafo da VICE, passamos o trajeto todo de capacete e, nessa hora, decidimos colocar as máscaras de proteção porque, certamente, rolaria um gás lacrimogêneo. E, quando rola gás, fica difícil respirar, abrir o olho, ver qualquer coisa ou pessoa que está na sua frente, pensar e agir –  ou seja, basicamente, existir.

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A meninada do MPL chamou todo mundo para ir embora sentido Largo da Batata, mas os black blocs resolveram ficar e presentear a tal concessionária de onde eles tiraram entulhos com algumas pedradas e pauladas carinhosas.

Mas não era pedrinha não.

Depois que a agência já estava toda zoada, percebi que tinha me perdido do Felipe e resolvi correr atrás do ato, que alcançava o Largo da Batata.

Chegando lá, fui calorosamente recepcionada com bombas de gás estourando pelo caminho. A Tropa de Choque sempre dá as caras.

Esse momento é o literal e famigerado “salve-se quem puder”. Parece um formigueiro estourando.

Você vê gente correndo, olha pra frente e pra trás, só vê fumaça, o olho arde, vira uma puta zona, a polícia, as pessoas.

Cada um correu para um lado e o ato perdeu forças. Perto das 20h, a Marginal voltava a ser liberada para o tráfego. Mas, claro, antes de ir para casa, os black blocs se espalharam pelas ruas de Pinheiros e deixaram rastros de lixo e lixeiras pelas vias.

Siga a Débora Lopes no Twitter (@deboralopes) e veja mais fotos do Felipe Larozza aqui.