Soulja Boy: "Só não estou morto porque sou influente"
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Soulja Boy: "Só não estou morto porque sou influente"

Em turnê pelo Brasil, falamos com o rapper sobre internet, influência no hip hop, sua vontade de não falar mais sobre política e Cleo Pires.

Em 2007, assisti a um videoclipe muito louco de um menino com calças largas e óculos escuros com as lentes rabiscadas. Depois de pouco tempo, descobri se tratar de um adolescente de 17 anos originário de Chicago, nos EUA, conhecido como Soulja Boy Tell’em. Depois de mais tempo ainda, e de incluir sucessos como "Crank That (Soulja Boy)", "Kiss Me Thru The Phone" (ft. Sammie) e "Pretty Boy Swag" na minha lista de músicas do momento, descobri que DeAndre Cortez havia sido beneficiado com uma coisa, que hoje em dia a maioria dos jovens tem ainda mais domínio: a internet.

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Criando espaço para conteúdos virais, vídeos curtos de dança e músicas com batidas contagiantes, Soulja Boy ganhou o mainstream produzindo sons em um estúdio que ficava na sua própria casa, em Batesville, Mississipi. Morador de bairro periférico, passou a gostar de rap depois de viver oito anos em Atlanta. “Eu sempre fiz música por diversão, nunca pensei em fama ou no rumo que as coisas poderiam tomar”, disse Soulja Boy em uma entrevista por telefone, já com a voz falha devido aos shows que tem feito em mais uma de suas turnês pelo Brasil.

Onze anos depois do lançamento de seu álbum de estreia souljaboytellem.com, que o levou ao topo nos Estados Unidos por sete semanas consecutivas e o fez entrar para a lista Billboard Hot 100, e de apenas alguns meses de sua mixtape King Soulja 8, o rapper de 28 anos, considerado por Kanye West como criador de seu próprio subgênero dentro do hip hop diz sentir que sua iniciativa proporcionou mudanças a si e também a muitos jovens parecidos com ele, além de transformar o modo de se fazer e divulgar música em todos os lugares do mundo.

Para entender melhor as mudanças que Soulja Boy expõe, leia abaixo a entrevista que fizemos com ele:

Noisey: E aí, como estão os shows pelo Brasil? Tem curtido bastante a turnê?
Soulja Boy: A tour tem sido incrível, eu adoro vir para o Brasil. O público daqui é muito maneiro, eu sempre me divirto. Eles sabem como fazer barulho, está sendo ótimo.

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Que bom que você está gostando. Eu vi que a Recayd Mob abriu seu último show em São Paulo. Você já conhecia o grupo?
Sim! Antes de vir para cá esse ano o meu empresário me mostrou algumas músicas do grupo. E olha, é um grupo bom. Eles são enérgicos e fazem trap muito bem, pelo o que eu vi, o show foi bem legal. Eu me considero da velha geração do rap, e essa nova tem mostrado muita evolução. Hoje em dia é muito melhor fazer rap do que era há 10 anos, o cenário está mais generoso.

Me parece mais abrangente.
Eu também acho. Os recursos estão por toda a parte. A internet está aí, você só precisa saber usar direito. Você pode conseguir audiência de todos os lugares do mundo, e isso é muito louco. As redes sociais também ajudam demais, está tudo aí. É muito uma questão de se comprometer a fazer seu trabalho bem feito, entende o que eu quero dizer? Está tudo aí.

Você falou bastante dessa ajuda que as redes sociais dão. Você se considera um ícone da internet? Tipo, um exemplo para os músicos e produtores independentes?
Mas é claro. Eu sou um ícone. Eu mudei o modo de fazer música, você me entende? Cara, eu fui a primeira audiência do YouTube, eu fiz o MySpace atingir outro nível com o meu trabalho. Eu mudei muita coisa no modo de fazer rap, mudei muita coisa no hip hop. Eu fiz muita coisa. Então, sim, eu me considero um ícone para essa nova geração de músicos e produtores independentes.

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Quando começou a fazer música pensou que conseguiria algo tão grandioso?
Pior que não. Eu sempre fiz música por diversão, sabe? Eu estava lá com meus 17 anos, ideias a mil, e tinha acabado de ganhar um estúdio do meu pai, que na verdade era um computador novo. Baixei o Fruit Loops, comecei a fazer umas paradas e aconteceu. Eu não esperava nada disso, não pensava em fama. Simplesmente aconteceu e consegui fazer vários hits com o passar dos anos, mas eu nunca soube se ia dar certo ou não. Só tinha noção que era algo diferente. Acho que nenhum artista sabe. Sei lá, você acha que o Drake previa que God’s Plan seria a número um no mundo? Acho difícil. As coisas só acontecem mesmo.

Deve ter sido bem chocante pra sua família esse sucesso repentino.
Foi mesmo, mas todo mundo me apoiou. Cara, eu me lembro como o meu pai ficou feliz quando as coisas começaram a acontecer. Minha mãe também sempre me ajudou e torceu muito por mim. A gente era pobre, não tínhamos quase nada. A energia lá de casa estava pra ser cortada quando minha música viralizou na internet. A gente sempre foi do gueto. Isso acontecer com um adolescente que produzia suas coisas de forma independente foi muito surreal pra nós todos.

O que você comprou pra eles com a primeira grana que conseguiu com Crank That (Soulja Boy)?
Uma casa e um carro. E depois comprei uma casa só para mim. E segui fazendo música.

Você já lançou muitos singles e álbuns mesmo. No ano passado foram três álbuns e agora vi que acabou de soltar um EP colaborativo com o Go Yayo. Como foi essa parceria, vocês são muito amigos?
Somos bem próximos. Eu e Yayo fazemos o que precisamos fazer, saca? Tipo, a gente está aí com as nossas carreiras, e decidimos criar o SouljaYayo. Foi muito bom poder fazer esse trabalho com ele, é sempre bom quando nos encontramos pra fazer música. O Yayo é sinistro.

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Tem mais parcerias para acontecer esse ano? Vi no Instagram que você estava fazendo uma sessão de fotos com a Cleo. Seria essa uma possível parceria?
A Cleo? Ah, ela é ótima. Cara, claro que a Cleo representa uma possibilidade de parceria. Ela é uma cantora, eu ouvi algumas músicas dela. Ela é uma celebridade, uma artista. Fiquei sabendo que o pai dela é um cantor muito bom. Enfim, a gente está conversando e eu não posso te falar mais nada sobre isso, ok?

Ok. Falando ainda de lançamento, não faz muito tempo que você soltou a mixtape King Soulja 8 , né?
Sim, lancei em janeiro. Eu gostei muito de fazer essa mixtape. Na verdade, eu sempre gosto. É o que eu faço 24 horas, sete dias por semana. É o que eu faço da vida. Criei esse trabalho da mesma forma que o meu álbum de estreia, o souljaboytellem.com. Me sinto muito abençoado por tudo isso. É um sentimento de missão cumprida muito louco. Sabe quando você para e pensa: “eu que fiz isso?” Então, é mais ou menos assim que me senti quando vi a King Soulja 8 finalizada.

Percebi que essa mixtape tem uma pegada bem mais agressiva do que as outras. Me pareceu um trabalho solo mais maduro. É isso mesmo ou foi impressão minha?
Eu tenho 28 anos, eu cresci. Meu trabalho evoluir e evidenciar esse amadurecimento é normal. Coisa que o tempo proporciona, sabe? Pra mim isso é muito natural.

Entendo. Lembro quando você lançou a música “Let’s be Real” em 2011. Tinha uma letra bem madura e com muita opinião política. Você quer voltar a fazer músicas assim?
Não quero. Sabe, a cena política nos Estados Unidos está pesada demais. Todos os dias o meu povo está morrendo. Eu sei que só não estou morto porque sou influente. Mas se eu não fosse… Eles sempre querem algo que é seu, é como se quisessem um pedaço de você. É muita perseguição. Eu não quero escrever sobre isso, tem muita tragédia acontecendo. No momento eu quero falar sobre festas, dinheiro e mulheres. Quero continuar fazendo música para me divertir e seguir com a minha vida.

A vida do DeAndre e do Soulja Boy são parecidas? Ou sei lá, o Soulja Boy é um tipo de persona, com opiniões e objetivos diferentes?
Nada disso. É tudo uma coisa só. Eu sou o Soulja Boy. Isso sou eu. Comecei quando era criança, entende o que quero dizer? Meu pai me deu um estúdio e simplesmente fluiu. Foi orgânico. Isso aqui é a minha vida, sou eu de verdade. Não existe separação, e nem discrepâncias. Só tem um Soulja Boy.

Agenda de shows do Soulja Boy no Brasil

7/4 @ Bulls Club - São Paulo
13/4 @ Lounge 037 - Pará de Minas (MG)
13/4 @ Hangar 677 - BH
14/4 @ Boituva Hall - Boituva
15/4 @ Sagae Eventos - Bauru (SP)

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