O som pode ser ouvido já há alguns metros de distância. Os tambores dão eco pelas ruas do centro da capital mineira e para quem não conhece, a chegada é épica. A praia mineira está ali, no coração de concreto de Belo Horizonte - a Praça da Estação. É ali - onde a cidade começou e por onde tudo chegou a essa terra de montanhas - que os mineiros criaram a sua própria praia.
Falta areia, mas sobram biquínis, brincadeiras, filtro solar, catuaba do amor, banhos de fonte e já houve até um surfista. Tudo isso embalado pelos tambores dos percussionistas e carnavalescos da cidade e com um histórico político e de luta. Combinação essa que impulsionou uma nova vida ao baixo centro da cidade, deu fôlego ao carnaval belo-horizontino e mostrou uma vocação dos mineiros a ocupar a cidade. "Praia, Prapraia, Prapraia da Estação", gritam os praianos comemorando o seu mais novo ponto de encontro do verão.
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A história da praia começou em janeiro de 2010, como uma reação a um decreto municipal, no qual o então prefeito Marcio Lacerda proibiu eventos na Praça da Estação. Logo após a assinatura do decreto, algumas pessoas começaram a se movimentar e questionar a decisão. Já que Minas não tem mar, as pessoas foram para a praça se banhar. Mesmo com cunho político, a praia se tornou icônica e tem agregado, cada vez mais, as pessoas da cidade. Ali de tudo acontece: a ambulante que vai de biquíni trabalhar, crianças brincando na fonte, amigos fazendo piqueniques, e há quem leve também o seu som.
Parece impossível pensar que Belo Horizonte abandone o bar e vá para a praia, mas é verdade. Completando seis anos de existência, a última edição aglomerou centenas de pessoa e já foi uma espécie de abertura para o Carnaval de 2016. O batuque nunca para e demonstra que o evento já é cultural para a cidade. Não existe mais Belo Horizonte sem Praia da Estação e ela parece que veio para ficar. O que antes se limitava aos sábados do verão, hoje já acontece quase durante todo o ano. É oficial: Minas Gerais agora tem mar. Mar de gente, mar de folia, mar da estação.
Em sua edição de aniversário, no último dia 09 de janeiro, foi possível reviver cada momento dos últimos seis anos. A fonte foi ligada durante o dia, houve a tradicional vaquinha para o caminhão pipa e os batuqueiros animaram a festa. A bebida oficial também não podia faltar e foi com o Catuçaí (um mix de catuaba com açaí) que a galera se embriagou. É magia pura, é praia no cimento e é excitação coletiva. Relembrando o que criou a praça, os banhistas cantaram:"Ei Lacerda, seu decreto é uma merda. Ei polícia, a praia é uma delícia". Delicia mesmo.
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Foto: Lincon Zarbietti