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O Rio não cumpriu suas promessas ambientais para as Olimpíadas

Os organizadores disseram que 80% do esgoto produzido ao redor da Baía de Guanabara seria tratado até o início dos Jogos. Até aqui, dizem as fontes oficiais, rolou apenas 48%.
Vazamento de esgoto na praia da Barra da Tijuca, próxima do Parque Olímpico (foto por Marcelo Sayao/EPA).

Estes deveriam ser os Jogos Verdes para um Planeta Azul. Em vez disso, três dias antes do começo das Olimpíadas do Rio de Janeiro, está claro que as autoridades da cidade e do estado não conseguiram cumprir nenhuma das ambiciosas metas ambientais que se propuseram ao assumir o evento em 2009.

"Os benefícios ambientais eram um dos legados mais propagandeados e priorizados", disse David Zee, professor de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Parece que essas metas acabaram ficando em último lugar."

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Essas promessas não cumpridas significam, por exemplo, uma grande quantidade de esgoto não-tratado ainda fluindo para a Baía da Guanabara, onde parte das competições aquáticas das Olimpíadas irão acontecer.

Os organizadores dos Jogos disseram que 80% do esgoto produzido pelas nove milhões de pessoas que vivem ao redor da baía estaria sendo tratado quando o evento começasse. Agora, as fontes oficiais admitem que a nova usina de tratamento vai limpar apenas 48% do esgoto. Alguns, inclusive, dizem que os números reais são bem menores.

Vários competidores internacionais relataram passar mal e sofrer infecções depois de entrar na água da baía meses atrás, e histórias de atletas desconfortáveis em competir em águas fétidas continuam até hoje.

LEIA: "As águas poluídas do Rio e a inevitável mancha nas Olimpíadas 2016"

"Eles [os atletas] devem ter total confiança que o Rio 2016, o Comitê Olímpico Internacional e as autoridades brasileiras vão colocar a saúde deles em primeiro lugar", disse Richard Budgett, chefe da equipe médica do COI esta semana, tentando afastar o receio dos esportistas. "Tenho certeza de que a água estará em condições boas o suficiente para garantir uma competição segura."

As Olimpíadas do Rio também não conseguiram despoluir a Lagoa de Jacarepaguá, que cerca o Parque Olímpico.

Planos de dragar o fundo da lagoa foram suspensos depois que a Promotoria Federal identificou irregularidades no processo de licitação e outros problemas processuais, como a falta de um estudo de impacto ambiental.

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Aí, em agosto passado, cerca de uma tonelada de peixes mortos foram removidos da lagoa. Os peixes teriam morrido porque ventos fortes perturbaram décadas de poluentes no fundo da lagoa, que liberaram toxinas no principal corpo d'água.

Zee, biólogo marinho, enfatiza que mesmo que a lagoa não vá hospedar nenhum evento olímpico, ela fica perto da Vila Olímpica onde os atletas devem ficar.

"A decomposição do esgoto e material orgânico pode produzir gás sulfeto. Ventos fortes podem perturbar o fundo da lagoa e liberar o gás", disse o biólogo. "Isso pode causar náusea e dor de cabeça, se você for exposto [aos gases] por um longo período."

LEIA: "Como as Olimpíadas ajudaram o Brasil a aumentar seu aparato de vigilância social"

Parece que as autoridades do Rio também desistiram da promessa de plantar 24 milhões de árvores para compensar as emissões de carbono causadas pelos Jogos. Faltando poucos dias para o evento, eles plantaram apenas 5,5 milhões.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, negou que as Olimpíadas fracassaram em deixar um legado ambiental. Recentemente ele citou o controverso campo de golfe, construído numa área de proteção ambiental, como prova das melhorias.

Paes também considera o tratamento de esgoto não terminado na Baía da Guanabara um sucesso relativo, já que o tratamento de esgoto melhorou de 15 para 50%, mesmo que o objetivo de 80% na melhora da água da Baía ainda esteja longe. "Isso é uma melhoria de 30%", disse Paes. "Você não pode dizer que nada foi feito."

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"Apenas 18% dos 125 projetos de mobilidade urbana prometidos para o torneio estão em operação atualmente."

A incapacidade do Rio 2016 de cumprir as metas ambientais lembra outras promessas desfeitas deixadas pela Copa do Mundo 2014 no país. Segundo a NTU (Associação Nacional de Empresas de Transporte Público), apenas 18% dos 125 projetos de mobilidade urbana prometidos para o torneio estão em operação atualmente.

O caso também ecoa a decepção com outras Olimpíadas.

Os Jogos de Londres de 2012, por exemplo, conseguiram reduzir as emissões de gases poluentes durante a construção e melhoraram a rede de transporte público da cidade. Mesmo assim, um relatório da WWK-UK e BioRegional criticou o evento por não cumprir as metas de energia renovável. Ambientalistas também dizem que o trabalho de construção das Olimpíadas de Inverno de Sóchi, na Rússia, prejudicou seriamente os ecossistemas naturais da região.

Ainda assim, as Olimpíadas do Rio realmente trouxeram algumas melhorias para o transporte público — mesmo que a extensão da linha oeste do metrô, inaugurada semana passada, só esteja aberta para pessoas credenciadas, como atletas, funcionários dos Jogos e espectadores durante o evento.

De toda forma, já é inquestionável que os Jogos do Rio estão incomensuravelmente longe de cumprir as metas ambientais grandiosas propostas quando o Brasil garantiu sua vaga como país-sede.

"Hoje em dia, as propostas olímpicas vêm lotadas dos chamados projetos de legado, que brilham aos olhos", diz Jules Boykoff, autor de Power Games: A Political History of the Olympics. "Mas o Rio 2016 será os Jogos mais greenwash de todos os tempos."

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Tradução: Marina Schnoor

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