Ao soar de apitos e rojões que ecoaram na Praça da República, na cidade de São Paulo, a última apresentação do espetáculo de rua NEGROR despertou os olhares de quem ali cruzava, na tarde de sexta-feira (23). Aos gritos de "Oh mãe?", um lutador negro ensanguentado corria pela praça à procura incessante de sua mãe, mesmo estando aparentemente morto a tiros.Esse atentado performático, conta o ator e diretor da peça Sydnei Santiago, é uma homenagem originalmente criada a partir das histórias de vida das Mães de Maio, associação criada pelas mulheres que tiveram os filhos mortos durante os Crimes de Maio de 2006.
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“Quando estamos falando de extermínio, estamos falando do legado da escravidão em nossas vidas e como o racismo ainda é presente. Porque esses jovens negros que são exterminados são corpos que não despertam comoção, são corpos públicos, corpos matáveis, corpos facilmente substituídos”, retrata Sydnei.Os espectadores acompanharam os passos dos personagens, juntamente ao do locutor que entoava os factoides de um jornal popular. O locutor esbravejava em seu megafone: "Façam as suas apostas" - narrando os números estatísticos que ilustram a violência contra jovens periféricos e os altos índices de mortalidade da população negra no Brasil.
A peça do coletivo Selo Homens de Cor seguiu um trecho da rua Ipiranga à rua Dom José de Barros, fechando o ciclo da temporada com um ato em homenagem aos corpos pretos mortos em decorrência da violência policial.A nova temporada em 2018 passará por outras cidades além de São Paulo, em meados de abril. Saque mais fotos do espetáculo NEGROR: