Fragilidade masculina na moda e na publicidade
Todas as fotos por: Alberto Thomaz

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Μodă

Estes caras falam sobre a fragilidade masculina na moda e na publicidade

Jovens criadores da Zona Leste de SP transcendem a narrativa do homem-herói-sem-defeitos.

Frágil é um projeto que mistura moda, vivências e intimidades. Vinni Tex, 29, começou a se questionar sobre a fragilidade masculina depois de sua puberdade. Assim que o conheci, ele já me alertou que “tinha carinha de 12 anos”, e que sentia-se inseguro por isso. Ele é um dos membros do coletivo MOOC, diretamente da Zona Leste de São Paulo. Pelas andanças nas quebradas de sua vizinhança tentou se encontrar através da arte e do afeto como homem negro.

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Quando tinha seis anos de idade, seu pai foi vítima da Doença de Chagas. Depois de sua morte, Tex e seus dois irmãos mais velhos foram criados pela mãe.

Sua vida de moleque negro e periférico – dentre tantos outros comuns no bairro da Penha – fez com que questionasse a sua identidade de fato. A partir dos grafites que admirava, com 13 anos começou a desenhar e se entender como uma pessoa que poderia ir além das ideias e brincadeiras de rua.

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Foto: Alberto Thomaz

Foi então que três anos depois, Swizz Beatz, marido de Alicia Keys e rapper americano, o descobriu através do Twitter e de seus rabiscos. Ele queria conhecer ilustradores brasileiros e de periferia para um projeto. “Foi a primeira vez que eu pensei: ‘Nossa eu posso ganhar grana com isso’”, completa o artista.

Thiago Pereira, 20, sua dupla no projeto, se sentia frustrado pela cena publicitária da época pela falta de representatividade e pelo racismo escancarado no mercado. Na época de sua adolescência, era fã do grupo MOOC, ao qual Vinni pertence até hoje. Segundo Thiago, ele viu ali uma prova de que “não estava louco”. “Às vezes parece que é prepotência porque não tem ninguém que fala sobre isso. [Eles] não entendem essa necessidade de ver como potência.”

Thiago foi fruto do relacionamento entre um homem negro e uma mulher não branca. Ambos saíram do nordeste para buscar uma vida melhor na metrópole paulista. Da Zona Leste, foi para o interior de São Paulo. E por essa mudança, começou a se identificar como negro, e sentir falta dos privilégios que lhe faltara. “Foi aí que eu entendi São Paulo e me liguei que morava numa região desfavorecida da minha cidade.”

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Já na faculdade, precisou de algum lugar pra morar perto do centro de São Paulo. Depois de sua mudança, um quarto ficou disponível enquanto Vinni estava procurando algum lugar pra ficar pelos mesmos motivos de Thiago.

Entraram em contato pelo Instagram, e hoje, moram juntos. A parceria de roommate fez com que juntassem suas vivências, dúvidas e questões para criar o projeto Frágil.

“A gente percebeu que quando um preto tá pensando e um outro preto agrega não é que vai ser a mesma ideia, são novas questões para se debater”

O projeto, que existe desde fevereiro, traz a fragilidade masculina no campo da psicologia, metafísica e semiótica, para que as pessoas percebam a necessidade do cuidado com o próximo. “Viemos com esse propósito de linguagem para educar a partir da estética de avisos e sinalizações.”

“Quando juntamos todos esses elementos estamos dizendo que precisa se tomar cuidado com o perigo e que esse perigo é, ainda assim, esse ser humano quando a gente não percebe o que ele é capaz de fazer e o que ele realmente é”, explica a dupla de designers.

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Foto: Alberto Thomaz

Para eles, é preciso discutir o impacto social e psicológico dentro da perspectiva da fragilidade masculina, que muitas vezes se forma através da brutalidade. A proposta quer atingir, de fato, o futuro na educação de quem está sendo formado hoje. “Nós encontramos uma maneira de contorcer o comportamento jovem, pois não estamos discutindo os comportamentos que giram em torno da masculinidade”, justifica Thiago.

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A perspectiva através da linguagem que coloca o homem para assinar os cheques, defender a nação e ser linha de frente das grandes revoluções só coloca a mentalidade dos meninos em uma situação longe de ser a natural. E o Frágil trata de uma narrativa que precisa ser pautada como uma política pública e necessária. “A gente quer que isso seja implementado no futuro, para mudar a mentalidade de todos”, completam.

Os caras já trabalharam para as marcas Lab Fantasma e Converse, ocupando um lugar que estava em falta no mercado publicitário.

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Foto inédita do projeto cedida para a VICE Brasil. Foto: Alberto Thomaz

Eles aplicam a ideia da caixa de papelão – objeto que é responsável por carregar materiais frágeis –, os símbolos de seta para cima e frases de “cuidado frágil” para inverter todo o sentido das marcas que os procuram.

Nas intervenções, quebram logos, viram de cabeça pra baixo, e conseguem humanizar o institucional. “Quando você mexe em uma imagem muito comum para as pessoas, elas estranham e as questões são levantadas e viradas para ela”, justificam.

A maneira de usar a semiótica, a estética e o estranho para abordar a fragilidade masculina é a única forma eficiente de se falar sobre. A intervenção no grande mercado capital, promovendo o debate e o diálogo efetivo em prol da educação dos meninos que estão crescendo se dá, por enquanto e somente, através da comunicação e dos espaços de influência.

Saque mais fotos do projeto Frágil abaixo e neste link da Fort Magazine.

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Foto: Alberto Thomaz

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Foto: Alberto Thomaz

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Foto: Alberto Thomaz

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