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Sou Garçonete, Não Prostituta

Fomos até o Maid Cafe NY conversar com uma atendente que se veste de criada e chama os clientes de "mestre".

Criadas do café, página do Facebook do Maid Cafe NY.

A cultura japonesa pode proporcionar experiências bem bizarras, como spas de vinho ou degustação de golfinho enquanto se brinca com golfinhos num parque aquático. Então, não é surpresa que restaurantes de cosplay, estabelecimentos temáticos nos quais os atendentes usam fantasias, façam tanto sucesso. Os cafés de criadas são uma ramificação dos restaurantes de cosplay onde japonesas se vestem como criadas e chamam os clientes homens de “mestre”, fornecendo, assim, uma experiência íntima. Tóquio criou o primeiro café de criadas em 2001, que se tornou a representação mais popular da categoria, com uma clientela formada por fanáticos por videogame e nerds de anime.

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Na última década, os restaurantes de cosplay se expandiram numa variedade imensa de temas, como cafés de gordinhas e cafés de mordomos. Mas quando o primeiro café de cosplay de Nova York, o Maid Cafe NY, abriu no verão passado, o estabelecimento foi recebido com uma erupção de impressões desconfortáveis da mídia. Apesar das intenções aparentemente inocentes do café, ele estaria perpetuando estereótipos e fetichizando as mulheres asiáticas.

Eu queria saber como é ter que chamar estranhos de “mestre” no meio de desenhos fofinhos de filhotes e servir omeletes com ketchup ao mesmo tempo, então, decidi visitar o estabelecimento em Chinatown e passar algum tempo com essas criadas. Jamie Capdevilla-Santiago, uma das garçonetes “criadas” do Maid Cafe NY, acha que está na hora de as pessoas se acalmarem a respeito do tratamento recebido por elas e suas colegas no trabalho. Ela acredita que, mesmo que alguns clientes achem que ela é uma prostituta, o café está simplesmente passando por uma ajuste cultural na Grande Maçã.

Jaime Capdevilla-Santiago no Maid Cafe NY.

VICE: Por que este lugar é diferente de um café normal?
Jaime: Porque damos ao cliente a ilusão de que ele é parte da realeza, de que ele está em seu próprio castelo com suas criadas.

E o que exatamente uma criada faz aqui?
Primeiro, dizemos “Okaerinasaimase, goshujinsama!” quando o cliente entra, o que significa “Bem-vindo à sua casa, mestre”. Temos que lembrar de tratá-lo de acordo com o tema. Isso inclui tirar fotos com ele, se ele pedir, fazendo coraçãozinho com as mãos. Também servimos comida em forma de coração, ou desenhamos cachorros ou gatos com molho na comida antes de servi-la. Pessoalmente, mudo meu jeito de andar para algo mais rebolado e fofo.

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Como você acha que a clientela recebe esse conceito?
Cerca de 80% dos nossos clientes apreciam a cultura japonesa, então eles sabem o que é um café de criadas e procuram isso mesmo. Os outros 20% acham que isso não é socialmente correto e ficam imaginando por que garotas como eu se colocam numa situação dessas. Eu sei que muitas pessoas ligam isso a clubes de striptease ou algo sexual, mas não é nada disso. É tudo uma questão de fofura.

Fofura?
Se uma mulher adulta é fofa, as pessoas geralmente dizem coisas como “Ah, ela é uma vadia”, ou “Ela está sendo imatura”. Partes diferentes do mundo têm opiniões diferentes sobre isso. No Japão, é mais desejável que uma pessoa – especialmente a mulher – seja considerada fofa.

Como são os clientes?
No começo, todo mundo estava meio desconfortável, mesmo as pessoas que gostam de cultura japonesa. Como nossa recepção é em japonês, e os cumprimentamos dizemos isso sempre que alguém passa pela porta, as pessoas ficavam meio assustadas. Algumas pessoas ouviam isso, davam meia volta e iam embora.

Você já passou por alguma interação inapropriada com algum cliente?
Uma vez, eu estava distribuindo panfletos na frente da loja com uma das outras criadas, e um cara chegou perto dela – violando completamente o espaço pessoal dela – e disse “Quanto custa pra você ir pra casa comigo?”. É muito chato quando as pessoas pensam que você é prostituta ou tentam fazer coisas inapropriadas como erguer sua saia.

Você acha que alguns clientes pensam que você é prostituta?
Quando perguntamos o nome dos clientes para escrever no pedido, alguns pedem para que coloquemos nossos telefones ou nosso preço. Em geral, explicamos que não somos prostitutas e que não é assim que as coisas funcionam aqui.

Você recebe tratamento de mestre de suas colegas quando vem aqui nos dias de folga?
Ah, não. Elas só entregam minha comida e dizem: “Pronto, aqui está”. Elas nem dizem oi. Elas só dizem: “O que você vai querer?”.