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Personagem negro de 'Sombras da Guerra' é um marco no universo de Senhor dos Anéis

Baranor também deve aparecer em "Desolação de Mordor", uma futura expansão do game.
Baranor, o novo personagem de 'Sombras da Guerra'. Imagem: Monolith/Reprodução

Os jogos da série Terra-média mostram um lado sombrio do universo d'OSenhor dos Anéis, expondo a crueldade da guerra e a desumanização de todos aqueles que se envolvem com ela. Essa narrativa mórbida raramente tem espaço nas adaptações pro cinema feitas pra família, o que torna ainda mais especial a liberdade que os desenvolvedores da Monolight tem em adaptar o material original pros games.

"Todo mundo do estúdio é muito fã de Tolkien, então levamos muito a sério a criação de novas histórias", disse Andy Salisbury, community manager da Monolith, que veio ao Brasil para promover o novo Terra-média: Sombras da Guerra. "Temos até mesmo uma especialista em Tolkien que trabalha com a gente, a Janet Croft, que nos ajuda a criar tudo, para que possamos criar o melhor jogo possível e que ele seja fiel a esse universo."

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"Como a nossa história se passa entre O Hobbit e A Sociedade do Anel, a gente sabe sobre os heróis e vilões dessa época", contou, "Ao mesmo tempo, tem muito o que se falar sobre esse período, tem muitas oportunidades".

Quem assistiu ao trailer de Sombras da Guerra, pode não ter percebido uma das novidades mais importantes do jogo: um personagem negro entre um mar de orcs e homens brancos.

"O nome dele é Baranor, ele é um dos personagens da história principal", disse Andy. Apesar de ser o primeiro personagem que não é branco com um certa importância numa história d'O Senhor do Anéis, a Monolith quase não deu informações sobre o personagem até agora. "Ele terá um DLC próprio em 'Desolação de Mordor' [tradução livre], em que você vai saber tudo sobre a sua história." Até então, só se sabia o nome dessa expansão e que ela estava inclusa no Season Pass do jogo.

Baranor é importante não só para essa história, mas para todo o universo d'O Senhor do Anéis. Na segunda edição d' A Sociedade do Anel, Tolkien disse que detestava que fizessem comparações entre a sua história e os acontecimentos do mundo, ou seus personagens com figuras históricas reais. Mesmo assim, é impossível não sacar que as forças por trás de toda a narrativa d'O Senhor dos Anéis não sejam baseadas no que acontece na nossa sociedade. Não surpreendentemente, a obra de Tolkien foi acusada de ser racista por estudiosos e críticos, como o jornalista John Yatt em um artigo no The Guardian.

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A crítica não é à toa. A vasta maioria dos personagens humanos desse universo são brancos e de olhos claros, e os únicos negros, representados pela massa sem rosto dos Haradrim, estão do lado do grande vilão da história. Talvez Tolkien não conseguisse enxergar a problematização óbvia dos seus livros – talvez ser um britânico caucasiano vivendo no pós-guerra tenha algo a ver com isso? –, mas esses problemas raciais certamente destoam do novo momento de progressão social que dá o tom à indústria dos games atual.

"Eu não tenho certeza se encaramos [a criação de Baranor] como uma escolha, mas foi uma escolha fácil de se fazer", explicou Andy quando perguntei sobre o peso da representatividade na criação do personagem. "Acho que não pensamos duas vezes quando estávamos escrevendo a história e criamos o Baranor, acho que era um personagem óbvio para gente escrever."

"Obviamente, estamos muito contentes de poder dar a todos a oportunidade de se identificarem com o personagem que amam. Não acho que foi de propósito, mas era uma escolha óbvia."

Imagem: Monolith/Divulgação

Baranor é o maior símbolo de que a Monolith está sabendo adaptar esse universo de um jeito que até os filmes não conseguiram. É muito importante criar "um personagem que condiz com o universo do Tolkien", como Andy descreveu Baranor, mas também é importante criar um personagem que reflita as visões do mundo de hoje, em um obra que merece se manter atualizada.

"Mesmo quando estávamos fazendo as primeiras pesquisas, a gente lia cartas do Tolkien pro seu editor", disse Andy. "Ele dizia que criava algumas partes em muitos detalhes, mas que gostaria de deixar pontas soltas para outros criadores." Talvez Sombras da Guerra possa dar um jeito em uma das pontas soltas mais importantes deixadas por Tolkien.

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