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Entretenimento

O novo filme do diretor de 'Oldboy' é uma história brutal de amor lésbico

Entrevistamos Park Chan-wook sobre The Handmaiden, seu mais novo longa que fala sobre dinheiro, ganância e amor entre mulheres.
Todas as fotos cortesia de Amazon Studios / Magnolia Pictures

The Handmaiden, o novo filme de Park Chan-wook, o diretor sul-coreano que trouxe Oldboy ao mundo, é tão selvagem quanto se esperava. Baseado levemente no romance de 2002 de Sarah Waters Fingersmith, o filme foi transportado da Inglaterra Vitoriana para a Coreia dos anos 30, e consegue ser a produção de Park mais ricamente encenada até hoje. The Handmaiden começa como a história de uma jovem coreana ladra de carteiras (Kim Tae-Ri) que tenta arrancar o dinheiro de uma herdeira japonesa. Mas isso é apenas a superfície de uma série de guinadas do roteiro, tortura carinhosa, pornografia old school, sadismo, um hospital psiquiátrico e muito sexo na tela.

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A maioria das cenas eróticas é entre as duas mulheres. A ladra de Kim, Sook-hee, desenvolve sentimentos inesperados pela herdeira, Lady Hideko, interpretada por Kim Min-hee. A narrativa lésbica é gentil, e apoiada em performances sinceras, e às vezes operísticas, das protagonistas. Mas há uma agulha que Park quer enfiar aqui: o diretor traz material descaradamente lúgubre, e a serviço de uma história lésbica lúgubre, ele coloca o corpo feminino numa vitrine lúgubre. Apesar de o filme ter recebido ótimas críticas, nem todo mundo curtiu a representação de Park da homossexualidade.

Mas Park sempre prosperou em temas que exasperam as pessoas. Seu filme de 2000 Zona de Risco é sobre uma amizade improvável entre soldados sul e norte-coreanos trabalhando na fronteira dos países em conflito. O DVD de Zona de Risco se tornou um favorito do mercado ilegal na Coreia do Norte.

Para ter uma ideia de como Park se sente introduzindo temas delicados no entretenimento de massa, conversei com ele num hotel de Los Angeles. Park andava pela sala dando respostas expansivas, repassadas para mim por um tradutor.

Kim Tae-ri e Kim Min-hee em 'The Handmaiden'. Foto cortesia da Amazon Studios / Magnolia Pictures.

VICE: Seus filmes — Oldboy em particular — foram a primeira coisa que me fez querer saber mais sobre a Coreia, e depois acabei morando lá um tempo. Você costuma ouvir muito isso?
Park Chan-wook: Já cruzei com pessoas que decidiram que queriam aprender sobre a produção cinematográfica coreana e até que acabaram indo para lá. É algo que gosto muito. Isso diz algo sobre meus filmes — eles são muito apreciados pelo público internacional. Mas acho que alguns coreanos ficariam desconfortáveis em saber que alguém quis conhecer a Coreia depois de ver Oldboy.

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Por quê?
Por causa do conteúdo do filme! Tem incesto! Quando fui para o Festival de Cinema de Berlim com Mr. Vingança, durante as perguntas, todos os coreanos em Berlim levantaram a mão para me perguntar: "Por que você retrata a Coreia desse jeito? Por que você não faz um filme no qual a Coreia é retratada de maneira bonita?"

Se você quer realmente ser amigo de alguém, é preciso saber os aspectos ruins da outra pessoa, ou a dor e o sofrimento pelo qual ela está passando.

E o que você responde quando as pessoas perguntam isso?
Parte de ser realmente amigo de alguém é saber as dores da outra pessoa. Se você quer realmente ser amigo de europeus ou alemães — estávamos na Alemanha — é preciso saber os aspectos ruins da outra pessoa, ou a dor e o sofrimento pelo qual ela está passando.

The Handmaiden tem todas as suas marcas registradas: sadismo, masoquismo, vingança, amor desafiando um tabu, assassinato e suicídio. Mas mesmo que esses temas sejam recorrentes, como você escolhe uma história em particular para contar?
Não tenho uma lista de onde tiro esses elementos, mas no geral, vejo a imagem maior e o que me atrai para ela — o que acho atraente. E quase toda vez, é o dilema ético que mais me atrai. Tudo mais presta um serviço para esse tema. Esse filme é um pouco diferente, distinto, porque em vez de lidar com um dilema ético, ele é sobre amor e ganância.

Chan-wook no set. Foto cortesia da Amazon Studios / Magnolia Pictures

Você concorda que de todos os seus filmes, esse é o mais pró-amor e pró-sexo?
Com certeza há muitos elementos sexuais nesse filme, mas nem tudo é uma ode ao sexo. Por exemplo, quando você tem o elemento do olhar masculino violento, o sexo é nojento, e acho que só o sexo entre as duas mulheres é pró-sexo ou pró amor.

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Reparei nisso. The Handmaiden parece mesmo bem crítico à sexualidade masculina. Foi intencional?
É como um estupro na minha cabeça, um estupro coletivo. [Em várias cenas] os homens estão basicamente ouvindo um livro [erótico] ser lido, mas quando eles estão sentados lá olhando para Lady Hideko, ouvindo ela ler material pornográfico, isso pode ser tão violento quanto um estupro coletivo.

Mas as cenas de sexo entre as mulheres no filme parecem muito sinceras. Como foi filmar essas cenas?
Não tem nada mais difícil e estressante que filmar cenas de sexo. O mais irônico é que quando estou filmando uma briga violenta e a câmera está rodando, os atores estão com o rosto cheio de ódio enquanto os personagens brigam. Mas sempre que grito "corta", os atores às vezes começam a rir e o clima no set geralmente é leve. Mas quando se trata de cenas de amor, mesmo quando a cena é alegre, sobre estar apaixonado, não dá para ter a mesma atitude. Não é a mesma atmosfera. Então tento ter consideração com os atores que estão fazendo a cena de amor, e tento terminá-la o mais rápido possível, assim eles não precisam ficar desconfortáveis por muito tempo.

Quatro dos seus últimos cinco filmes tinham protagonistas mulheres. Você está interessado em contar principalmente histórias de mulheres agora? E você é feminista?
Bom, simplesmente acabou acontecendo. Não teve uma intenção por trás disso. Eu não disse "agora vou me focar principalmente em protagonistas mulheres", ou "agora vou fazer filmes feministas". Não foi algo intencional. Acho que envelhecer, se tornar mais maduro como ser humano, também significa se tornar mais feminista.

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Tradução: Marina Schnoor

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