Como a casa caiu para Aécio Neves
Imagem: Agência Brasil

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Como a casa caiu para Aécio Neves

Incriminado em delação de empresário da JBS e afastado do cargo de senador, o tucano vive o momento mais difícil em sua carreira política.

Esta matéria foi atualizada às 18h10 com o anúncio da licença de Aécio da presidência nacional do PSDB, e depois, às 19h30, com a negação do pedido de prisão determinada pelo ministro Edson Fachin.

Minutos antes do encerramento da sessão no Senado na noite de quarta (17), a expressão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao descobrir que havia sido gravado durante uma conversa com o empresário Joesley Batista, da JBS, era de total perplexidade. A imagem do neto de Tancredo Neves, cuidadosamente montada como bastião da anti-corrupção desde as eleições presidenciais de 2014, foi virada do avesso após o vazamento n'O Globo da delação dos irmãos Joesley e Wesley, que também incriminam o presidente Michel Temer (PMDB) num esquema de propina para calar o deputado cassado Eduardo Cunha.

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Segundo os irmãos da JBS, em uma das gravações feita em março deste ano, Aécio teria pedido R$ 2 milhões para custear a sua defesa contra as acusações da operação Lava Jato. "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer a delação", teria dito o senador na conversa gravada, respondendo a Joesley sobre quem pegaria o dinheiro.

A entrega dos R$ 2 milhões foi filmada pela Polícia Federal e quem recebeu o montante foi um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, conhecido como Fred, ex-diretor da Cemig indicado pelo próprio Aécio, e antigo coordenador de campanha do tucano nas eleições presidenciais de 2014. Na sequência, a PF descobriu que o dinheiro solicitado por Aécio foi parar na conta do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), que também é investigado na operação batizada de Patmos, em alusão à ilha grega onde o apóstolo João teria visões e escreveria o Livro do Apocalipse.

Aécio, seus familiares e assessores foram alvo de ações da PF na manhã desta quinta (18). Sua irmã, Andréa Neves, foi presa preventivamente em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, e seu primo, Fred Medeiros, foi preso na mesma cidade, em casa. Mendherson Souza Lima, assessor de Perrella mencionado na delação, também foi preso pela PF.

Além das prisões, a PF cumpriu mandatos de busca e apreensão expedidos pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, em endereços ligados a Aécio. Seu apartamento e o de Andréa, ambos localizados na zona sul no Rio de Janeiro, junto com outro imóvel em Belo Horizonte, foram vasculhados por agentes que levaram documentos e malas para mais investigação. A PF também fez buscas no gabinete do senador em Brasília e chegaram até mesmo a lacrar o andar inteiro onde se encontra o seu escritório.

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Segundo a Globo News, as ações da PF já estavam marcadas pra manhã de hoje antes da reportagem d'O Globo. Investigadores próximos à operação Patmos suspeitam que o vazamento tenha ocorrido justamente para avisar os principais investigados.

A Procuradoria-Geral da República, PGR, pediu a prisão do tucano, mas Fachin determinou apenas a solicitação de seu afastamento do cargo de senador. O ministro só levará o pedido do encarceramento ao plenário da Corte máxima caso o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorra da decisão.

Dentro do próprio partido, o clima também é tenso para Aécio. Colegas do PSDB, como o presidente municipal de São Paulo, Mario Covas Neto, e a do Rio de Janeiro, Teresa Bergher pediram publicamente que o senador renuncie ao cargo de presidente nacional do partido. Em vídeo publicado na sua página pessoal, Covas Neto diz que "não tem condições" de Aécio continuar como presidente, uma vez que a acusação "mancha os demais componentes" do partido.

Durante a manhã, outros senadores tucanos também tentaram negociar a renúncia de Aécio em uma reunião tensa em que ele participou por viva-voz, mas o senador insistiu em permanecer na liderança do PSDB.

Na tarde de quinta, Aécio cedeu à pressão dos colegas e anunciou sua licença da presidência do partido. "Decidi licenciar-me hoje da presidência do PSDB que ocupo há mais de quatro anos com extrema honra e dedicação", disse o tucano em nota divulgada por seus advogados. Aécio também indicou seu substituto: "Estou apresentando à Executiva o nome do senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará, para assumir nessa interinidade a presidência do partido".

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Fora da esfera política, aliados e apoiadores estão discretamente pulando fora do barco de Aécio. Seguidores das redes sociais de famosos como Luciano Huck e Ronaldo querem um posicionamento das personalidades, que fizeram torcida pro senador durante a última campanha presidencial.

Fãs de Luciano, inclusive, acusaram o apresentador da Globo de apagar, no Instagram, fotos em que aparece ao lado de Aécio. Enquanto isso, o ex-jogador Ronaldo foi ridicularizado por ter usado uma camiseta onde se lê "A culpa não é minha. Eu votei no Aécio" durante as manifestações de 2014 e 2015. Há duas semanas, o criador da camiseta, o empresário Sergio K., disse que se arrependeu da estampa e não quer mais pegar onda em ações políticas.

Na noite de quarta, a assessoria do parlamentar mineiro se pronunciou dizendo que ele estaria "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos" e que a sua relação com Joesley, da JBS, era "estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público".

Desde o vazamento da delação, Aécio se recolheu na sua residência em Brasília enquanto aguarda novas informações.

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