Alvaro Dias: meio século de política e a luta contra a corrupção como mote
Ilustração: Cassio Tisseo

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Quem quer ser presidente

Alvaro Dias: meio século de política e a luta contra a corrupção como mote

Na série de apresentação dos presidenciáveis para 2018, a VICE conta a trajetória de Alvaro Dias, candidato do Podemos.

O Brasil respirava os ares de chumbo da ditadura militar quando um jovem professor de História de 24 anos, recém-formado, elegeu-se vereador em Londrina. Em 1º de fevereiro de 1969, Alvaro Dias assumia seu primeiro cargo público. Quase meio século depois, após ser deputado estadual e federal, senador e governador do Paraná, ele se candidata pela primeira vez à Presidência da República com a moralidade e o combate à corrupção como carro-chefe de sua campanha.

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Filho de agricultores, Dias nasceu em 1944 em Quatá, no Oeste Paulista. Naquela época, o governo do Paraná criou uma série de ações para tentar colonizar o norte do Estado, criando empresas e oferecendo terras e possibilidades de infraestrutura para quem quisesse se estabelecer. Uma dessas pessoas foi Silvino Dias, agricultor que vivia com a esposa, Helena. Ele adquiriu uma gleba de terra virgem em Maringá, perto do traçado de uma ferrovia que estava para ser construída, e começou a plantar café.

Alvaro e seu outro irmão político, Osmar, nasceram nesse período em que o pai se dividia entre Quatá e Maringá. Em 1954, a família se mudou definitivamente para o norte do Paraná. Seu Silvino seria depois reconhecido como um dos “pioneiros” da cidade. Depois de trabalhar numa rádio da cidade, o jovem Alvaro foi estudar na vizinha Londrina e, depois de concluir a Licenciatura em História, iniciou-se na política como candidato a vereador pelo MDB, partido que reunia a oposição à ditadura. Elegeu-se e não saiu mais, emendando cargos eletivos seguidos por mais de duas décadas: foi deputado estadual, entre 1971 e 74; deputado federal, de 1975 a 82; senador, de 1983 a 86; e governador do Paraná, entre 1987 e 1990.

A eleição de 1986 foi uma barbada. No início do ano, o presidente José Sarney lançara o Plano Cruzado para tentar conter a inflação, congelando preços e salários e criando a até hoje famosa “Tabela da Sunab”, uma lista de preços que os supermercados eram obrigados a cumprir. O plano começou a fazer água depois de alguns meses: o gado sumiu do pasto e só era possível comprar um carro zero com “ágio”, ou seja, pagando um dinheiro a mais. Mas o sucesso foi suficiente para garantir que, nas eleições estaduais de 15 de novembro, o PMDB conseguisse eleger 22 de 23 governadores — só em Sergipe o partido perdeu, para o candidato do PFL.

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O Paraná tinha, na época, uma tradição progressista, e já tinha escolhido o PMDB quatro anos antes, com José Richa. Alvaro Dias venceu com facilidade, mais de 70% dos votos válidos. Seu governo teve bons índices de aprovação que o levaram até a reivindicar a candidatura à Presidência em 1989, mas o posto estava reservado ao decano Ulysses Guimarães, principal líder da oposição ao regime principal. O “velhinho” acabou apenas em sétimo lugar na votação que levou Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva ao segundo turno, e Alvaro trocou o PMDB pelo PST (Partido Social Trabalhista), pelo qual seguiu até o fim de seu mandato.

Mas nem tudo foram flores na gestão Dias. Os professores da rede estadual, especialmente, não têm boas lembranças: em 30 de agosto de 1988, um protesto por reajuste salarial em frente ao palácio do governo terminou em repressão da Polícia Militar, com gás lacrimogêneo, pancadaria e um saldo de mais de 20 feridos. Até hoje a data é lembrada pelos professores com a realização de manifestações.

Numa época em que o Brasil não tinha reeleição, Dias deixou o governo e passou um período sem mandato. Em 1993, criou o PP, uma fusão de seu PST com o PTR (Partido Trabalhista Renovador). Por essa legenda, candidatou-se novamente ao governo paranaense em 1994, mas acabou derrotado por Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, que saiu pelo PDT com apoio do PSDB, turbinado pelo Plano Real. No começo de 1995, o PP se fundiu ao PPR, o antigo PDS, de Paulo Maluf, e nasceu o PPB, hoje novamente PP (não se perca na sopa de letrinhas), que nesta eleição apoia Geraldo Alckmin. Na época da fusão, Alvaro deixou a legenda e se filiou ao PSDB, pelo qual voltou a se candidatar, em 1998, desta vez ao Senado. Elegeu-se com 65% dos votos válidos e, de lá para cá, reelegeu-se mais duas vezes: em 2006, com 50,5% dos votos, e 2014, com 77%.

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Nesse intervalo, Alvaro deixou o PSDB em 2002, quando foi expulso do partido junto com o irmão, Osmar, também senador, por apoiar a criação de uma CPI no Congresso para investigar o governo de Fernando Henrique Cardoso. Filiou-se ao PDT, pelo qual disputou o cargo de governador mais uma vez, derrotado por Roberto Requião, do PMDB. Em 2003, Alvaro voltou ao PSDB, e novamente articulou voos mais altos, mas acabou preterido por José Serra na tentativa de uma candidatura presidencial em 2010. Chegou a ser cogitado como vice, mas o posto ficou com o deputado carioca Índio da Costa, então no DEM, hoje candidato ao governo do Rio pelo PSD.



Em 2015, logo depois de reeleger para mais um mandato, o senador deixou novamente o ninho tucano, desta vez rumo ao PV. Mas foi por pouco tempo: no ano passado, movido pela possibilidade de enfim disputar a Presidência, anunciou sua filiação ao Podemos, novo nome do PTN, partido criado em 1995 e que resolveu se inspirar, segundo seus líderes, no slogan de Barack Obama em sua campanha presidencial, “Yes We Can”. Eles recusam qualquer vínculo ao Podemos espanhol, de esquerda, e preferem se declarar “de centro”.

A campanha de Alvaro Dias prefere focar menos em ideologia e mais em moralidade, pregando o combate incessante à corrupção, crime que ele considera hediondo, “comparável a assassinato”, já chegou a declarar. No Senado, ele é um dos mentores do projeto que tenta colocar na Constituição a obrigação da prisão após condenação em segunda instância – hoje, decisões como a que levou o ex-presidente Lula à prisão, em fevereiro deste ano, são baseadas num entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), e não pela Carta Magna. Defensor ardoroso da Operação Lava-Jato, já citou o nome do juiz Sérgio Moro como possível ministro da Justiça – e, segundo a revista Veja, é o candidato preferido do magistrado.

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Durante o governo Lula, Alvaro Dias foi um das vozes mais ferozes diante das acusações do Mensalão e presidiu a CPI dos Correios, uma das comissões que investigou o caso. Defendeu a redução da maioridade penal para 16 anos e sugeriu um projeto de lei que reduza a pena de presos que colaborem com investigações. Também propôs reformas constitucionais pedindo o fim do foro privilegiado para políticos e o fim das indicações políticas aos Tribunais de Contas, defendendo que esses cargos sejam preenchidos por concurso. Votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e da PEC do congelamento de gastos, uma das medidas mais polêmicas do governo Temer, mas se posicionou contra a reforma trabalhista.

Em sua campanha, apresentou um plano de “19 + 1” metas, que aproveita o número de seu partido e acrescenta como “meta síntese” a “refundação da República”, por meio de uma revisão constitucional em que promete negociar mudanças no pacto federativo, dando mais autonomia – e verba – a Estados e municípios. Promete eficiência, mas evita falar em privatizações de empresas centrais, como a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobrás. “O principal desafio é a reengenharia do Estado brasileiro, fazendo a máquina do governo evoluir da sua atual situação disfuncional, pesada, ineficiente, patrimonialista, escrava das corporações e de seus interesses dissimulados, de um governo, enfim, hoje desconectado da sociedade e de suas necessidades, passando o Brasil a se apresentar, no âmbito institucional, como um Estado eficiente cujos serviços prestados à população justifiquem o custo tributário arcado pelos brasileiros”, diz. No último Datafolha, apareceu com 3% das intenções de voto.

Alvaro Fernandes Dias
Formação: Licenciatura em História, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Idade: 74
Patrimônio: R$ 2.889.933,32
Trajetória: MDB-PMDB-PST-PP-PSDB-PDT-PSDB-PV-Podemos
Vice: Paulo Rabello de Castro (PSC)

Acompanhe as trajetórias de todos os presidenciáveis na série Quem quer ser presidente. Novos perfis toda segunda, quarta e sexta.

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