A cultura dos cortes de cabelo e tranças afro no Centro de SP
Foto: Marcos Muniz​​

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A cultura dos cortes de cabelo e tranças afro no Centro de SP

Reduto da cultura afro desde os anos 1960, os quatro andares da Galeria do Reggae Reduto têm dezenas de salões de cabeleireiros com catálogos que vão de cortes black estilosos a dreadlocks pré-fabricados.

No Centro da cidade de São Paulo, a Galeria do Rock é a melhor referência pra comprar camisetas de bandas nórdicas de death metal, acessórios góticos suaves e de skate. É difícil sair de lá sem um pisante novo ou um boné old school dos Yankees. E é bem ali ao lado, na rua 24 de Maio, que fica a Galeria Presidente, mais conhecida como Galeria do Reggae.

Foto: Marcos Muniz

Cabelos, discos, cintas-ligas, bongs, estúdios de tatuagens e eletrônicos fazem parte dos serviços e produtos encontrados entre as dezenas de boxes com metragens padronizadas de 10 metros quadrados cada que povoam a Galeria do Reggae.

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Um dos inúmeros salões na Galeria do Reggae. Foto: Marcos Muniz

Reduto da cultura afro em São Paulo desde os anos 60, os quatro andares da Galeria têm dezenas de salões de cabeleireiros com catálogos que vão de cortes black estilosos (alguns bem ousados), apliques de cabelos e dreadlocks pré-fabricados que podem ser montados na hora.

Foto: Marcos Muniz

O emaranhado caótico de escadas e backlights dos estúdios de tatuagem vão além da compra e venda de apliques de cabelos in natura ou artificiais. A cena imigrante africana dá o tom por lá e daí vem a riqueza do lugar. A partir do terceiro lance de escadas rolantes não tem como ficar imune ao clima internacional. As lojas tradicionais dedicadas à cultura afro convivem com bares e outros comércios tocados por estrangeiros africanos.

Tranças, muitas tranças. Foto: Marcos Muniz

Angolanos, congoleses e, sobretudo, os igbos, uma das maiores etnias da Nigéria, estão pelos quatro andares da Galeria. Dá pra tentar uma ideia ou outra com os donos dos mercadinhos locais e cabeleireiros, até porque se você fizer contato visual vão te oferecer um dreadlock no capricho, uma ótima chance de puxar um papo.

Um aplique de cabelo feminino pode demorar de três a 12 horas para ficar pronto. Foto: Marcos Muniz

Andando pelos corredores ouvi nigerianos conversando no que acreditei ser um dialeto, ao mesmo tempo que entendia algumas palavras soltas em inglês. Se você quiser trocar uma ideia em inglês, inclusive, funciona. Mas se você arranhar um francês, certamente será mais fácil se comunicar. Muitos dos imigrantes tem um francês como língua nativa por conta da da colonização francesas na África, como o Congo, por exemplo.

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São 60 tipos de cortes masculinos. Foto: Marcos Muniz

Os cortes masculinos começam a partir de R$ 30 e não ultrapassam os R$ 40. São todos numerados por tipos. Vão de 1 até 60, tendo cada um seu próprio nome. Cortes tradicionais também fazem parte do cardápio de opções. Os cortes mais diferentões são aqueles com escritos de marcas famosas, como "Nike" ou com nomes de artistas famosos e entes queridos.

Mas se há um mito capilar da Galeria, ele está no olhar sensual da ilustração de um cara (numa pegada Alexandre Pires revisitado) que está no catálogo em que se vê praticamente em quase todos os salões masculinos do espaço.

Enquanto fazem os cabelos, as clientes costumam pedir peixe assado, arroz, feijão e banana frita.Foto: Marcos Muniz

Em média, um aplique de cabelo feminino pode demorar de três a 12 horas para ficar pronto na cabeça de uma cliente, podendo custar até R$ 600 em média. Tudo vai depender da complexidade do pedido e, por isso, a cena gastronômica faz a economia do lugar girar. Donos de restaurantes, na maioria de colônias francesas, visitam loja por loja oferecendo um prato tradicional (muito bem servido) com peixe assado, arroz, feijão e banana frita cuidadosamente coberto com um pano de algodão por cima que custa em torno de R$ 30. E, por onde estive, tudo é meio que compartilhado entre clientes e cabeleireiros. Em uma ocasião, quis experimentar e fiz uma permuta: trouxe uma cerveja para a Kelly e a Nelly, donas do Studio Glamour. Em troca, garfei alguns pedaços do peixe assado (justíssimo, por sinal) com as clientes. Trato feito, almoço garantido.

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Imagem da 24 de Maio, no Centro de São Paulo. Foto: Marcos Muniz

Às sextas, tem discotecagem no terceiro andar da Galeria. Marcia Yancine, brasileira e ativista da cultura Igbo em São Paulo, é quem geralmente assume o setlist. Se você quer sentir o que é empatia, basta pedir qualquer música do nigeriano D'banj pra tocar. Vai ser sucesso.

Pessoal das organizadas também cola por lá. Foto: Marcos Muniz

Aos sábados, músicas africanas se misturam aos beats de rappers norte-americanos que saem de auto-falantes dos bares. É o melhor dia. Tem gente por todos os cantos e o terceiro andar é a cena mais certa. Não é raro perceber o som dos botecos se misturando aos surdos/tambores da Independente, torcida organizada do São Paulo, que ocupa quatro boxes do terceiro anda da Galeria.

Foto: Marcos Muniz

A bebida que esquenta os salões e bares é conhecida como "Para-Tudo". O composto é feito à base de ervas, no melhor estilo alemã Jägermeister. Basta um "What's up, man?", sentar na mesa e pedir um drink para perceber que o atendente nigeriano (do terceiro andar) manja muito de música africana. O som que sai do bar contamina a vibe dos salões e a sensação é que tudo é uma coisa só.

Se você curtiu a vibe da Galeria do Reggae, tem mais fotos do Marcos Muniz aqui:

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Dá pra sacar mais fotos do Marcos Muniz aqui.

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