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Música

A ascensão, queda e ascensão de novo da banda de metal de colégio mais brutal do mundo

Lembra do trio de moleques do Unlocking the Truth, que viralizou na web em 2013? O doc ‘Breaking a Monster’ conta como está o grupo depois de um contrato de US$ 1.8 milhões anulado e alguns anos a mais na lomba.

Em 2013, pintou um vídeo no YouTube mostrando um trio de moleques de 11, 12 anos tocando um metal impressionante na Times Square. A banda, chamada Unlocking the Truth — guitarrista/vocalista Malcolm Brickhouse, baixista Alec Atkins e baterista Jarad Dawkins — viralizou na internet e chamou a atenção do veterano da indústria do entretenimento Alan Sacks, criador de Welcome Back, Kotter e produtor de vários filmes da Disney. Esse sósia velho do Al Pacino virou empresário deles, e do nada, os três meninos de Flatbush, Brooklyn, estavam dentro da máquina.

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Tudo isso aparece no novo documentário de Luke Meyer, Breaking a Monster, que pinta um retrato envolvente desses garotos normais — que gostam de andar de skate, jogar videogame e vivem colados nos celulares — que se mostram músicos incrivelmente confiantes e disciplinados. O filme também mostra o relacionamento um tanto estranho deles com Sacks e o mundo extremamente branco da indústria da música; a imersão deles no estilo de vida de turnês, incluindo shows no Coachella e South by Southwest; e as dolorosas maquinações do acordo de $1,8 milhão que eles assinaram com a Sony. (Depois da gravação do filme, em 2014, a banda dispensou Sacks e o contrato com a Sony foi anulado. O disco de estreia do Unlocking the Truth, Chaos, foi lançado pela distribuidora independente TuneCore.)

Uma semana antes do lançamento do documentário, falei rapidamente com o Unlocking the Truth, agora no colegial. Malcolm, que cita Slipknot e System of a Down entre suas bandas favoritas, reconhece os pontos pelos quais a banda geralmente é vendida, mas não quer que isso os limite: "Sei que o que chama a atenção das pessoas é nossa cor e idade. Mas espero que elas ouçam nossa música e superem isso. Sei que nossa música vai além de sermos negros e estarmos tocando metal."

Coletivamente, parece que eles não se incomodam com a atenção negativa que recebem na internet — um assunto sensível abordado pelo filme de Meyer. Jarad aceita o que chama de "críticas construtivas" e diz que os comentários ruins não têm muito impacto porque "todo mundo tem direito de ter uma opinião". "Os cometários na maioria são bons", explica Malcolm. "Os ruins, você tem que rir deles. Às vezes você quer responder, mas não pode."

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Também perguntei a Malcolm onde ele vê a banda daqui dez anos. Sua resposta foi medida e cheia de confiança. "Vejo a gente tocando no Madison Square Garden, Barclays Center, com uns sete discos lançados", ele disse.

Depois de falar com a banda, pude bater um papo mais extenso, também por telefone, com Meyer. Discutimos a origem do filme, os códigos raciais do rock e a confiança extraordinária da banda.

VICE: Fale um pouco sobre como você se envolveu no projeto.
Luke Meyer: Fiz um curta sobre eles em 2014, que teve bastante reconhecimento na indústria, aí tivemos a oportunidade de fazer o longa quando as coisas mudaram e eles tinham várias oportunidades diante deles. O curta é basicamente sobre o que significa ter grandes sonhos, ser jovem e entrar num mundo maior. Com o longa pudemos levar isso um passo adiante, mostrando como é complicado transformar esses sonhos em realidade.

No caminho, pudemos abordar questões maiores sobre fama na infância e o que a indústria da música faz com as pessoas que entram nela, até onde arte e comércio se misturam e como equilibrar isso. Como eles são afro-americanos, há muitas questões sobre raça, como eles são tratados e as decisões que são tomadas.

Uma coisa que sempre me impressiona é como a confiança deles é quase sobrenatural. É quase como se eles tivessem um senso de destino sobre sua história. Você sentiu isso quando começou a trabalhar com eles?
Uma coisa muito interessante — especialmente com o Malcolm, mas que existe em todos eles — é essa ideia de que você tem que acreditar no resultado. Acredite primeiro e depois isso se torna realidade. Ele tem essas coisas na parede do quarto dele, umas colagens de visões para o futuro. Não estou dizendo que é por isso que eles têm sucesso, mas acho esse processo de pensamento deles muito interessante.

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Unlocking the Truth, cortesia de Breaking a Monster.

A indústria da música dos EUA é muito codificada racialmente, e o rock particularmente sempre foi uma "coisa de branco", apesar de gente como Chuck Berry, Prince e Black Rock Coalition.
As pessoas colocam os gêneros em caixas, tipo "música branca" ou "música negra". O blues, por exemplo, que é a base do rock 'n' roll. Isso sempre fez parte de como vemos a música. Há músicos de blues brancos e há músicos de rock negros, mas ainda há essa ideia de que uma banda de rock como o Living Color é uma coisa única, e abordamos isso no filme.

Tem um momento ótimo no filme em que um comentarista negro no YouTube diz que a banda é quase um token, e que vai ser usada pela indústria porque faz os liberais brancos se sentirem bem. Malcolm não fica nem um pouco ofendido e concorda que tem um pouco de verdade aí…
Isso é empoderador na verdade, positivo para ele, o que não achei que seria naquele momento. Ele meio que diz "Entendo isso bem o suficiente para usar ao meu favor". Mas ninguém quis comentar essa questão. É muito óbvio no filme que a banda está cercada de pessoas brancas trabalhando na sua carreira, que tentam tratar isso como uma situação "pós-racial", quando a raça é uma coisa importante e uma grande parte da história.

O pós-racialismo geralmente é uma ideia que você ouve de pessoas brancas.

Essa ideia pós-racial pegou em certo momento, depois que Barack Obama foi eleito.
Os brancos vão te dizer que vivemos num mundo pós-racial, o que você não vai ouvir gente de cor dizendo. Acho que muito do que está acontecendo na discussão sobre raça hoje é um foco na perspectiva distorcida dos brancos. Toda a discussão que temos tido sobre raça, racismo, etc. começa de um ponto onde muitos dos elementos nem estão inclusos, em se tratando das experiências das pessoas de cor.

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E os meninos só querem ser eles mesmos sem esse fardo de representatividade, eles só querem tocar a música deles.
Como identidade, como equipe, é um jeito de tirar vantagem da situação, mas também é um saco porque parece que eles simplesmente não podem ser só uma banda. Eles precisam ser uma banda negra. Eles são negros tocando um gênero musical que não é muito popular entre pessoas que não são brancas. Eles têm que ser um "subgênero", independente da música que tocam, e isso é muito chato. Eles não querem ter que lidar com isso.

Unlocking the Truth. Cortesia de Breaking a Monster.

Alan Sacks é um personagem fascinante, e o relacionamento meio avô/netos que eles têm é tocante…
Era bem a maneira como eles interagiam. Depois de filmar conosco, meses depois, eles se separaram, mas por um tempo ele pensava em si como parte da família e os garotos eram muito carinhosos com ele, o que você vê no filme. Você fica imaginando como as coisas acabaram assim tão rapidamente. É um relacionamento profissional, mas nada é inteiramente claro no relacionamento entre pessoas em se tratando de arte, música e negócios. Há muita coisa acontecendo simultaneamente.

A escala do que aconteceu com esses garotos — o interesse enorme da mídia, o acordo gigante com a Sony — te pegou de surpresa?
Mesmo quando estávamos fazendo o curta, você sentia o potencial. Você sentia que esse tipo de coisa podia acontecer. Ninguém tinha certeza, mesmo de onde eles estão agora, um momento positivo para eles, não sei quão grande eles podem ser. Você nunca sabe. Isso é ainda mais poderoso quando você vai de uma banda tocando nas ruas de Manhattan, no porão de casa, para o Coachella. Aquele passo foi muito maior do que os que eles estão tomando agora. A história deles já teve vários altos e baixos, não foi uma linha reta como as pessoas esperavam. Mas eles ainda têm essa coisa — um brilho de quem pode ter um futuro incrível.

Breaking a Monster estreou nos EUA em 1º de julho. O filme ainda não tem previsão de estreia no Brasil.

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Tradução: Marina Schnoor