O segundo ato de protesto contra a Copa organizado pelo Bloco de Lutas em Porto Alegre terminou em confusão. Teria sido pior se a polícia militar, organizada em sua tropa de choque, cavalaria e Batalhão de Operações Especiais, não tivesse encurralado os manifestantes e tivesse permitido que eles avançassem em direção ao estádio Beira-Rio, onde Holanda enfrentaria a Austrália às 13h. No combate entre manifestantes e a polícia, o saldo foi negativo: ao menos três pessoas ficaram feridas, entre elas dois jornalistas.O grupo se reuniu na Praça Argentina, entre a Av. João Pessoa e a Salgado Filho Em dez minutos de marcha, os policiais cercaram os manifestantes. Para dispersar o grupo, usaram bombas de efeito moral. Os jornalistas, que tomavam a dianteira, ficaram na frente da linha de fogo. O grupo ficou encurralado na avenida João Pessoa. Moradores dos prédios próximos saíram às sacadas em apoio ao protesto, quando era posível ouvir vaias à participação policial. Alguns estenderam faixas de "Fora Copa", enquanto outros penduravam lençóis brancos para pedir menos violência. O grupo de manifestantes foi forçado a entrar na Rua Avaí, escoltados pela Brigada Militar; ao chegar à Perimetral, se dispersou.“No estado democrático de direito da Brigada Militar do século 21, dar uma entrevista é crime; marchar é crime; se posicionar, lutar é crime. Mas não desistiremos, não tombaremos, não vergaremos", disse Régis Rafael Ribeiro Lisbôa, assessor popular do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (Saju) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.O mais esperado evento esportivo para fãs de futebol podia ser o paraíso no Brasil, país do futebol. Não foi o que aconteceu. A competição acabou se tornando uma oportunidade para o clamor popular por mudanças esperadas há décadas. "Da Copa eu abro mão, eu quero dinheiro para saúde e educação", bradavam os manifestantes. Em contrapartida, comandada pelo exército, a brigada bradava com outra força. A rua era deles: 150 agentes controlavam a movimentação dos cerca de 250 participantes da marcha - um contigente que dava para uma fila de três tanques, um dos poucos equipamentos de segurança que não foi pras ruas.O abuso de força nas manifestações populares tem sido questão central desde junho de 2013 – de #NãoVaiTerCopa de 2013 passou-se para #NãoVaiTerPolícia de 2014. A presença violenta de brigadianos alavancou a força dos manifestantes convictos, criou os black blocks e frentes de ação física do protesto que muitas vezes atentam, mais do que contra o poder, contra o patrimônio da cidade - as latas de lixo e as fachadas dos bancos e lojas do McDonald's as vítimas mais constantes (e óbvias).Nesta onda, fugiram das ruas os participantes que, no ano passado, acreditavam que o mote #VemPraRua traria investimento em saúde e educação. Teve Copa. Teve prisões, a criação de uma nova classe de policiais à paisana (P2, que se infiltravam na multidão para marcar manifestantes para apreensão no final da passeata), e teve uma dispersão considerável da participação popular nos protestos - aquela que não é ligada à participação política tradicional.Indiferentes aos efeitos negativos ao moral do grupo, o Bloco de Lutas promete seguir as manifestações na semana que vem. "Será maior", avisam em sua página no Facebook.
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