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Conheça os responsáveis pela trilha da sua nova série favorita, ‘Stranger Things’

São muitos os detalhes que roubam a cena no novo seriado do Netflix, e a trilha cheia de sintetizadores feita por integrantes do S U R V I V E certamente é um deles.

Como todo bom e velho cult, a nova série da Netflix, Stranger Things, surgiu na plataforma de streaming com muito menos hype que séries anteriores, como House of Cards ou Demolidor. E justamente isso parece ter beneficiado o seriado, que foi elogiado de forma unânime nas redes sociais e também naquele famoso boca-a-boca da internet. Passada em 1983, a história de Stranger Things tem como pano de fundo uma pequena cidade em Indiana, nos Estados Unidos, onde, bem, coisas estranhas começam a acontecer. Um garoto de 12 anos some de repente. Uma garota de 12 anos com poderes telecinéticos surge do nada. Uma misteriosa agência governamental parece estar conduzindo experimentos secretos. Fora isso, tem um monstrão circulando pelos bosques da região.

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Criado pelos Duffer Brothers ( Wayward Pines) e estrelando Winona Ryder, Stranger Things é uma viagem de nostalgia pura à era Reagan: quando as crianças comiam waffles Eggo, jogavam Dungeons & Dragons obstinadamente e se comunicavam com ajuda de walkie-talkies. Seus oito emocionantes episódios contam ainda com referências a Steven Spielberg, Stephen King, John Carpenter e David Lynch.

Parte do que faz Stranger Things tão cativante é sua trilha. Como é o caso com muitos filmes de terror e ficção científica nos dias hoje, os sintetizadores tornaram-se parte essencial da composição da música. As obras de John Carpenter, Alan Howarth, Tangerine Dream, e Goblin influenciaram toda uma nova geração de compositores de trilhas. Kyle Dixon e Michael Stein, mais conhecidos como metade da banda de Austin, Texas S U R V I V E, receberam uma ligação dos Duffers para criarem a trilha do seriado — os irmãos ouviram algumas das faixas do S U R V I V E no filme de 2014, The Guest. Por mais empolgante que seja ver o desenrolar da narrativa em Stranger Things, é a pulsante música-tema que introduz cada episódio que rouba a cena.

Batemos um papo com Dixon e Stein enquanto se refestelam na glória de compor a trilha do programa do qual todos estão falando e se preparam para o lançamento de um novo disco do S U R V I V E.

Noisey: Como vocês se envolveram com Stranger Things?
Michael Stein: Recebemos um e-mail dos diretores perguntando se estaríamos interessados em trabalhar com trilhas. Nossa resposta foi sim, logo de cara, e assim que recebemos uma sinopse e algumas artes preliminares, sabíamos que batia certinho.

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Kyle Dixon: Os diretores são fãs do S U R V I V E. Eles usaram uma faixa do nosso primeiro LP em um trailer para vender o conceito da série para a Netflix e entraram em contato para saber se estaríamos disponíveis para fazer a trilha. Compomos um mês de demos e possíveis temas que os Duffers usaram nas audições, e depois descobrimos que havíamos recebido o sinal verde dos produtores.

Não era de conhecimento público que vocês tinham trabalhado no seriado até sua estreia. Era segredo como tudo que rolou no Laboratório Hawkins?
Kyle: Não falamos muito sobre isso. A Netflix não tinha por que falar com a gente porque não somos grandes na indústria musical, então ficou tudo meio na boa. Talvez não quiséssemos estragar tudo.

Michael: Como não era algo a ser usado em prol do marketing, não teria muito porque mencionar e meio que já estávamos imersos no projeto. Preferia não começar nenhuma boataria, não queria estragar tudo e virar outro A Lenda .

Ouvi dizer que vocês tiveram que largar o emprego para aceitar esse trampo. Teve alguma preocupação nisso aí? No que vocês trabalhavam?
Kyle: Teve alguma preocupação sim, mas felizmente o timing foi relativamente bom pra mim. Um amigo e eu criamos um app do Discogs que acabamos vendendo, então eu tinha alguma grana que dava pra me sustentar enquanto trabalhava na trilha antes de recebermos. Eu criava softwares há cinco ou seis anos antes disso, o que pagava bem e me ajudou a montar o estúdio. Foi uma escolha fácil parar com isso pra trabalhar com música em tempo integral. Nada me impediria de aceitar esse trampo.

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Michael: Eu trabalhava na Switched On , loja especializada em música eletrônica de Austin, na maior parte do tempo fazendo reparos e também gosto de gravar/produzir bandas locais sempre que possível. Eu já trabalhava com algo que amava, e basicamente trabalharia todos os dias pra poder fazer música no tempo livre, então quando me ofereceram a oportunidade de trabalhar só com música, não foi preciso pensar muito.

Sei que vocês participaram da trilha de The Guest, mas esta foi a primeira trilha completa que criaram. Qual foi o primeiro ponto que discutiram ao começar o trabalho?
Kyle: As primeiras coisas que fizemos foram aqueles temas e climas iniciais, que no final das contas viraram uma biblioteca relativamente grande para os Duffers poderem escolher. Com o tempo, tínhamos alguns sons e estilos que poderíamos usar em diversas cenas.

Michael: Discutimos ter uma sonoridade e pegada clássica de forma que não ficasse aquela coisa brega dos anos 80, com uma qualidade que soasse moderna também — o que chamou a atenção deles em primeiro lugar. Ter familiaridade com obras de sintetizadores clássicas, mas com um tom e abordagem modernos.

Como compôr esta trilha foi diferente do trabalho com o S U R V I V E?
Kyle: Bem, com uma narrativa completa, há uma série mais ampla de emoções do que você ouviria em um disco do S U R V I V E. Sempre gravamos tudo que é tipo de música, mas muitas não encaixam com a estética da banda. Tivemos a oportunidade de fazer algo mais divertido, leve e combinou com o enredo.

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Michael: Não foi tão diferente. Só exigiu maior execução e mais criação. Como éramos dois de nós, podíamos fazer o de sempre e aprovar as ideias um do outro e trabalha-las no decorrer. Rolavam umas jams e compor junto por vezes, mas na maior parte do tempo era completar ou dar um toque final no trabalho um do outro. Logo, foi como fazer música com o S U R V I V E mesmo.

Os Duffers disseram que foram compostas mais de 13 horas de música para a série. Como vocês editaram de forma a caber tudo em oito episódios?
Kyle: Às vezes, tínhamos vários conceitos para cenas em especial, o que funciona quando não se usa de tudo. Além disso, eles tiveram acesso a uma ampla biblioteca de sons desde o começo da colaboração. Com certeza tem muita coisa boa que não entrou no programa.

Michael: Antes havia muito material editado e nada muito certo, então alguns dias criávamos temas para o programa enquanto tentávamos aprimorar a estética. Por vezes criávamos texturas, climas e camadas que poderiam ser usadas numa cena e criar um tom do qual poderíamos seguir adiante. Podia ser coisa de 10 a 20 minutos. Muito acabava sendo jogado fora ou está disponível na forma de futuras ideias.

O que acontece com as músicas que não foram usadas?
Kyle: Nada. Fica lá.

Michael: Estamos fazendo umas batidas trap.

A trilha será lançada em disco como tem acontecido ultimamente?
Dixon: Não temos certeza ainda. Está nas mãos da Netflix, mas parece haver interesse o suficiente para o lançamento.

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Michael: Temos que esperar e ver.

O fato de terem criado a trilha afeta a forma como veem a série?
Kyle: Com certeza, apesar de não ter assistido desde que ela foi finalizada.

Michael: Sim, e isso foi algo que sempre considerei com outros compositores. Dá pra imaginar como fazer a trilha dos últimos 15 minutos do episódio antes mesmo de ter lido o script pode ser meio que um spoiler. Também tem essas memórias de cortes e cenas mais cruas antes de serem finalizadas que podem te tirar um pouco da emoção de ver a coisas. Outras vezes presto atenção na trilha e penso que poderia ter feito uma mixagem melhor e perco e um tanto do diálogo.

Que trilhas ajudaram a moldar a sonoridade em Stranger Things?
Kyle: Difícil dizer. Com certeza somos fãs de música cinemática, mas não acho que tenham referências específicas que tenhamos feito. Definitivamente umas coisas meio Tangerine Dream, que é algo que sempre ouvimos. A Fortaleza Infernal tem uma trilha ótima, mas não sei quanto daquilo afetou o que fizemos em Stranger Things.

Muita gente tem curtido a viagem nostálgica que é Stranger Things para quem cresceu naquela época. Teve algo em especial na série que te fez sentir essa nostalgia?
Kyle: Claro, a série tem um monte de semelhanças com diversos filmes famosos e influentes que creio que a maioria das pessoas tenham visto, especialmente quando novas. É inevitável ter algo de nostalgia.

Michael: Voltar a uma época em que eu tinha mesmo walkie-talkies e uma gangue de moleques dando rolê de bike e vivendo aventuras bateu forte.

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Vi algumas fotos da banda tiradas durante a gravação do novo disco. O local parece a garagem em que o personagem Will é abduzido. Coincidência?
Kyle: Haha, coincidência total.

Michael: É a garagem acabada do Kyle onde ensaiamos. Foi coincidência, mas com certeza ajudou a dar um clima e é um bom lugar para tomar umas e fazer jams com os amigos no Texas.

O S U R V I V E assinou com a Relapse no começo do ano. O que vocês podem me falar do segundo disco?
Michael: Ele será lançado em 30 de setembro. Ele conta com uma sonoridade mais direta e bastante variação. Acho que o conjunto de canções contam uma boa história, há uma boa dinâmica de andamentos e climas do começo ao fim.

Uma última pergunta: quão importantes são os espaços entre as letras do nome da banda?
Kyle: Não são nada importantes.

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