Após o Hospital Sírio Libanês anunciar a demissão da médica Gabriela Araújo Munhoz, acusada de vazar informações confidenciais sobre o estado de saúde da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva em um grupo de Whatsapp, uma série de reações pavorosas foram registradas nas redes sociais. Em algumas postagens, internautas chamaram a médica de "vagabunda" e "piranha imunda" e, em comentários das publicações, expuseram os dados pessoais de Munhoz. A morte de Marisa foi anunciada no dia 3 de fevereiro, após ficar quase duas semanas internada devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. A ex-primeira-dama morreu aos 66 anos.Como noticiado pelo jornal O Globo, Munhoz, médica reumatologista, vazou a informação para um grupo de colegas de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso no Whatsapp que Dona Marisa estava internada em decorrênca de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico e que ela seria levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Outro participante do grupo, o neurocirurgião Richam Faissal Ellakkis, foi além e chegou a desejar a morte da ex-primeira dama e aconselhar uma sabotagem no procedimento. "Esses fdp vão embolizar ainda por cima", escreveu, em referência ao procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. "Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela".A atitude dos médicos gerou uma forte reação nas redes sociais. Em meio a xingamentos misóginos, alguns internautas chegaram a compartilhar os dados pessoais dos médicos envolvidos no caso. Um post sugeriu, sem provas, que Munhoz é a mesma médica fotografada com um cartaz xingando o ex-presidente Lula na época de uma manifestação contra o programa Mais Médicos. A médica deletou o perfil nas redes sociais.O psiquiatra e presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Mauro Aranha, disse que o comportamento dos médicos é "execrável". O caso já está sendo apurado pelo Conselho de Medicina e, após passar por uma sindicância e um processo pelo Conselho de Ética, os médicos poderão sofrer sanções, sendo a cassação da licença de exercício profissional a mais grave das penas."Não podemos fazer um pré-julgamento porque cada caso tem suas particularidades, mas a quebra do sigilo é uma infração grave assim como um médico que assedia sexualmente uma paciente", explica Aranha.O corpo de Dona Marisa foi velado no sábado (4) no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP). Quando anunciada, a morte cerebral da ex-primeira-dama, uma série de políticos se dirigiu até o hospital, incluindo FHC e Michel Temer, para prestar apoio ao Lula.O psiquiatra e presidente do Cremesp reafirma que nenhum médico pode oferecer um tratamento sem dignidade a um paciente por causa de suas convicções políticas. "O artigo 23 do Código de Ética Médica proíbe 'tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto'"."Acho até paradigmático, mas é importante falar a situação em que um ex-presidente foi ao hospital visitar seu colega, também ex-presidente da República para abraçá-lo. É assim que um médico deve agir, não importa quem seja, nenhum ser humano vale mais do que o outro", explica o psiquiatra.Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter e Instagram.
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