Quanto dinheiro um jogador amador de pôquer online pode ganhar?

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Quanto dinheiro um jogador amador de pôquer online pode ganhar?

Quero me tornar milionário no espaço de uma hora. Não deve ser muito difícil, certo?

Como muitas coisas da minha patética existência, meu interesse por pôquer é resultado do consumo de muitas horas de vídeos do YouTube. Assistir às competições da modalidade na TV é um passatempo comum para insones, bêbados e solitários. Já eu, por outro lado, passo horas e mais horas assistindo a coisas como jogadores nervosos entrando em "tilt" e algo chamado "slow roll", que é, ao que tudo indica, a pior coisa que alguém pode fazer numa partida de pôquer depois de atirar na cabeça do Wild Bill Hickok.

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Noite passada, depois de assistir a um vídeo do famoso otário do pôquer Phil Hellmuth chamando um pobre coitado que não sabia falar inglês de "idiota", pensei comigo mesmo: "será que isso é tão difícil assim?'' Se eu seguisse os lemas dos meus heróis, como Justin Schwartz, o ex-drogado de dentes podres, eu ficaria rico? Será que eu poderia virar o próximo campeão da Série Mundial de Pôquer? Para descobrir, baixei o app Full Tilt, apostei 40 libras e me preparei para acabar com o resto da mesa. Mas antes eu precisava entrar no clima do jogo, o que no pôquer significa: SE EMPAPUÇAR DE ENERGÉTICO

Qualquer um com cérebro e deficiência de vitamina D sabe que o único jeito de ganhar uma competição online é jogando a noite inteira. E caso você seja pobre demais para bancar uma dose diária de cocaína, o único jeito é apelar para os energéticos. Durante minha preparação para a partida, virei minha primeira lata de Monster da vida, o que — serei sincero com vocês, caros leitores — foi nojento para caralho. Depois de três goles, senti que meus dentes estavam ganhando vida. USAR ÓCULOS DE SOL

Reparem que todos os jogadores bons usam óculos de sol para maximizar o efeito da poker face. Eu sabia que ninguém ia me ver, mas, como qualquer um que já teve discussão acalorada com sub-celebridade no Twitter pode afirmar, competir com pessoas na internet requer muita coragem. Tive que botar o adorno de vilão misterioso na cara. Afinal, estava competindo com viciados em pôquer: caras que sentem a bolinha do seu mouse tremendo enquanto você segura, aos nervos, um par de dois. É preciso manter a compostura. Os óculos haviam sido colocados, o energético bebido. Eu estava pronto.

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Aliás, quase. Faltava o grande segredo que os mestres me ensinaram: SEJA UM CUZÃO

Eu nunca havia apostado de verdade — sem contar as apostas idiotas feitas nos ônibus de Londres com meus amigos, onde o dinheiro é só uma forma de dizer que tal time é uma bosta e que nunca ganha nada (abraço, Arsenal!). Mas agora que eu estava apostando de verdade, era hora de ganhar. Com minhas veias entupidas de taurina e L-Carnitina, achei sensato começar o jogo intimidando meus adversários. Se eu conseguisse abalar confiança dos outros jogadores, eles ficariam menos propensos a recusar minhas apostas exorbitantes. Confesso que minha grande aposta era de apenas US$ 20 (e as apostas obrigatórias eram de menos de um dólar), mas cada um faz o que pode, certo? Roma não foi construída num só dia. PARA IRRITAR OS OUTROS JOGADORES, TENTE ADIVINHAR SUAS CARTAS

O canadense Daniel Negreanu ganhou seis braceletes da Série Mundial de Pôquer (WSOP, na sigla original) nos últimos dez anos. Ele é um tagarela que não cala a boca durante os jogos e que tenta, sem muito sucesso, adivinhar as cartas dos outros competidores. Todos ficam muito irritados, claro. Eu sabia que, sem a ajuda da minha voz grave e do meu tom ameaçador, essa tática não teria muito efeito — mas também sabia que me arrependeria para sempre caso não tentasse.

Eu podia sentir o cansaço do ninja e do pirata, e o cachorro estava prestes a desistir de um pot arriscadíssimo de US1.67.

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A técnica não funciona assim, de cara; é preciso cutucar a ferida. Você é um guru do pôquer. Você é o Nostradamus da Las Vegas digital, e todos seus inimigos temerão seus poderes e arruinarão as apostas (que valem o mesmo que uma garrafa de Coca). SINTA DOR NO PEITO

Apesar de toda minha pose, eu não estava indo muito bem. Depois de tirar um full house de reis e damas, o que fez me sentir o diplomata mais gostoso do mundo, fui derrotado pelo chip leader, que por algum milagre tinha uma mão melhor que a minha. Naquele momento, me senti como a privada humana do diplomata mais gostoso do mundo. Meu mesquinho buy-in de US$20 havia caído para miseráveis US$4.48. Eu havia decepcionado meus heróis. Me desculpem, Daniel Negreanu, Wild Bill, "Action" Dan Harrington. Sou só mais um perdedor no meio de um bando de perdedores. ATINJA A REDENÇÃO

O show havia chegado ao fim. Eu havia conseguido ganhar US$16, mas agora, tendo mergulhado meu corpo energizado em suas águas turvas, minha visão do pôquer havia mudado para sempre. Amei a sensação de ganhar dinheiro, mas não consegui me acostumar ao horror de perdê-lo. Eu pensava que ser um ás do pôquer envolvia muita ilusão, energéticos e babaquice, e não duvido que isso seja boa parte do negócio. Mas, no fim, aprendi algo importante sobre o jogo: além de ser habilidoso, é preciso confiar em si mesmo — e nos seus oponentes. Deixei a mesa na hora certa, antes que eu mergulhasse no abismo da jogatina onde tantos já se perderam.

Brinks, eu perdi todo meu dinheiro. Tradução: Ananda Pieratti