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Tonic

Apliquei botox nas minhas bolas pra que elas ficassem mais lindas

Como duas pedras de rio suaves e redondas balouçando em lenço de seda.

Escrotox. Se você acha que parece uma mistura de escroto e botox, acertou. Uma reação imediata bem que poderia ser: "por que é que alguém injetaria uma neurotoxina no saco escrotal?". Certamente foi o que pensei quando bati os olhos numa notícia que sugeria que, assim como o fidget spinning e dizer "gatíneo e catioro", é uma coisa que as pessoas estão fazendo hoje em dia sem qualquer explicação coerente.

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Sem pensar muito no assunto, coloquei o escrotox em uma fila imensa de coisas razoáveis a serem feitas unicamente porque achei que meus editores achariam engraçado. Eles ficaram muito empolgados com a minha ideia de levar isso adiante. Eu também acharia bem engraçado picar minhas bolas com seringas cheias de toxina botulínica – uma toxina bastante letal – é claro, se elas não estivessem grudadas em mim.

O botox e outras neurotoxinas da mesma classe são injetados no corpo para relaxar os músculos. Para uso cosmético, elas são usadas para relaxar os músculos faciais que utilizamos para sorrir, franzir a testa e, atualmente, reagir aos tuítes que o presidente publica no banheiro às 6 da manhã. Essa paralisia muscular parcial e temporária reduz a aparência das rugas na testa e ao redor dos olhos. Levando em consideração sua aparência superenrugada, era só uma questão de tempo (e do capitalismo tardio) para que a ideia de suavizar a rudeza das bolas ocorresse às mentes empreendedoras. É isso mesmo: as pessoas estão pagando muita grana para suavizar o escroto.

Um lembrete a essas pessoas: "as rugas do rosto não estão lá para protegê-lo; o rosto somente se enruga com o tempo", afirma Seth Cohen, urologista clínico e professor de Urologia na NYU Langone Healt, em Nova York, que relata que muitos de seus pacientes o questionaram a respeito do escrotox. "As rugas do escroto existem porque têm uma função. Elas o protegem de lesões e ajudam os testículos a produzir espermas com segurança."

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Nos seres humanos, o escroto abriga os testículos, que produzem esperma. Assim que os espermatozoides encontram o caminho em direção ao óvulo, eles produzem mais seres humanos, porque, aparentemente, não existem humanos o suficiente no mundo. Quanto maior a qualidade e a quantidade de esperma masculino, maior é a chance de que seus genes sejam transmitidos.

Contudo, as condições para a produção de grandes quantidades de esperma humano se deve, em particular, à temperatura. A temperatura ideal para a produção de esperma é de 35°C. Entretanto, a temperatura interna do corpo humano é de 37°C. Essa verdade inconveniente é o motivo porque os homens e todos os outros mamíferos boreoeutérios terrestres machos (exceto, curiosamente, os rinocerontes) carregam consigo suas características mais valiosas em uma bolsinha engraçada que parece ter sido feita com restos de pele do cotovelo e que balança perigosamente entre as pernas.

Complicando um pouco mais as coisas: a temperatura ao nosso redor, e das nossas gônadas, flutua o tempo todo, o que significa que os testículos vão constantemente para "dentro" e para "fora", a fim de mantê-los em uma zona habitável. Você pode pensar no escroto como uma adaptação evolutiva análoga a quando colocamos um pé pra fora das cobertas quando a cama fica muito quente.

Contudo, uma temperatura oscilante não é o único motivo para o deslizamento escrotal, e as subidas e descidas dos testículos. Eles também se retraem quando há perigo à frente – uma luta ou resposta à luta – e na iminência da ejaculação. Os músculos cremaster e dartos mantêm as bolas onde elas devem ficar, de uma perspectiva biológica e imperativa. "Durante uma atividade pesada, como pedalar, correr e se exercitar, o escroto está relaxado e se contraindo, a fim de manter os testículos protegidos de traumas", afirma Cohen. "Assim, se você relaxar o escroto [com botox] o músculo cremaster não fica em funcionamento e você coloca seus testículos sob o risco de trauma."

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O escrotox basicamente desfaz milhões de anos de evolução ao colocar esses músculos em modo stand-by, dando a seus pacientes um escroto menos enrugado, pendurados mais para baixo pelo período em que o botox cumpre sua função, que é em média entre três e quatro meses.
Apesar de poder mexer na função natural e gloriosa das bolas, "as pessoas querem os testículos de um buldogue", explica o cirurgião plástico John Mesa logo após me cumprimentar em seu consultório em Nova York, nos EUA. "Bolas que sejam mais macias, sim, mas também que sejam mais baixas, a ponto de balançar e bater, para aumentar a excitação sexual do homem e sua(seu) parceira(o)."

Essa informação foi confirmada por uma amiga minha. "Tem uma coisa em levar batidas na periquita por bolas que balançam livremente", ela me contou quando a questionei sobre as virtudes de uma fruta que balança mais baixo. "Tem um impacto total, que é muito bom, e também dá uma sensação de pele com pele que acaba se perdendo com a camisinha."

Mesa acrescenta que alguns proprietários de escrotos muito apertados sentem dor quando, por causa de baixas temperaturas, suas bolas aumentam e a pele ao redor delas se contrai. Para essas pessoas – e caras com bolas que suam em excesso – o escrotox pode ser a solução a uma problema de saúde.
Com um sotaque colombiano forte e agradável, um terno azul-marinho bem ajustado, um belo bronzeado, além de um sorriso irônico e maneiras calmas, Mesa é a epítome do charme. De fato, enquanto ele me mostra imagens de antes e depois de seus pacientes, seu carisma é a única coisa que me impede de sair correndo pela porta. À esquerda: uma dupla de testículos perfeitamente normais. À direita: um par de bolas penduradas que ficam a um centímetro abaixo do pênis. Não era a aparência que eu esperava.

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Nesse ponto, vale a pena mencionar que, embora eu tenha uma grande lista de características físicas das quais não gosto nem um pouco, meus testículos e o escroto não está nela. Na verdade, eu acho que eles são incríveis. E essa opinião é compartilhada por várias parceiras, uma das quais vem de Singapura duas vezes ao ano para segurá-las por um longo tempo.

Resumindo: elas são altas, apertadas, limpinhas e qualquer ornitólogo valoroso notaria imediatamente a semelhança de meu escroto com o peito inflado do tesourão macho ( Fregata magnificens). Para destacar minha bolsa masculina rechonchuda e apertada, eu a depilo e besunto com óleo de coco todos os dias. Mas quando fui ao Dr. Mesa para fazer uma avaliação, ele não falou nada sobre a aparência do meu escroto, mas sim, para o que estava acontecendo dentro dele.

"Você tem uma musculatura bastante ativa", ele afirmou. "As bolas […] elas estão se mexendo muito."
Sempre soube disso. Quando tiro a minha roupa na frente de uma parceira nova, ou em uma aula de modelo vivo, ou para um médico, minhas bolas giram, rolam e se contorcem – tentando se esconder como par de crianças envergonhadas atrás das pernas da mãe. Assim como as crianças, logo elas se acostumam com a ideia e buscam a atenção dos outros, porém, sempre levam alguns segundos para que elas fiquem prontas para socializar.

"Isso significa que vou precisar de mais botox do que a maioria das pessoas?", perguntei.
"Sim", Mesa afirmou com um sorriso apologético. "Acho que sim."

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Então fiz a Mesa uma pergunta mais séria:

"Mas se minhas bolas ficarem mais baixas, e com um aspecto maior, meu pênis não vai parecer menor?"

"Acho que sim, talvez possa", ele afirmou. "Mas você terá bolas mais baixas como um…"

"Buldogue?"

"Isso! Como um buldogue!", ele disse como se fosse um negócio positivo.

Enquanto Mesa fazia a conexão entre bolas baixas e cães, eu tendo a associar bolas longas com os velhos que eu costumava ver no vestiário. Já desejei muito ter um pênis do tamanho da berinjela que eu quase sempre uso para simbolizá-lo, mas nunca considerei um escroto que se pareça com um par de ovos pendurados como se estivessem dentro de uma meia-calça.

Para aqueles que têm escroto, alguns especialistas nos lembram de que o caimento é uma função normal do escroto, mesmo sem as injeções de botox. "Ao menos que você esteja fazendo sexo com um saco de gelo – a temperatura baixa faz os testículos se contraírem para o abdome em busca de calor – quando você está pelado em um ambiente aquecido durante a atividade física, o escroto deve descer normalmente conforme as temperaturas comecem a aumentar", afirmou Cohen. "Mas as coisas são assim mesmo. Estamos em 2017. Fazemos coisas engraçadas em nome da vaidade e de atividade sexual prazerosa."

De volta ao consultório, fico genuinamente desconcertado quando Mesa começa a besuntar meus genitais com o que ele me diz ser um creme anestésico triplamente concentrado. Ele diz que vai acrescentar uma quantidade bem generosa para minimizar meu desconforto. Acontece que as coisas confortáveis para um anestesiado é que elas se mostram bastante desconfortáveis. Estou me sentindo entorpecido de um modo nada confortável – antecedendo as injeções que logo "relaxarão" minhas bolas.

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"Lembre-se que o botox é uma enzima que paralisa os músculos", Cohen afirmou. "Assim, existem critérios para onde você aplica o botox, sua quantidade e periodicidade." Ele avisa que se você excede essa quantidade, ela vai para a corrente sanguínea, e você corre o risco de paralisia e problemas cardíacos e pulmonares.

Vinte e cinco tensos minutos se passam até que o creme tenha me anestesiado completamente, permitindo a Mesa começar a administração das injeções das dez, ou algo do tipo, seringas alinhadas em uma mesa. Ele me conta que, no máximo, cada injeção se parecerá com uma picada de mosquito, o que me faz pensar no tamanho dos mosquitos com que Mesa estava acostumado em Medelín.

O desconforto fica um pouco mais intenso conforme ele avança, e chega a um pico quando minhas bolas hiperativas fazem o doutor enfiar as agulhas cada vez mais fundo nos músculos ao redor delas. Perco a conta do número de injeções administradas, mas depois de uns dez minutos, está pronto. O botox leva vários dias para fazer efeito, então eu saio do consultório com minhas bolas grogues, levemente arranhadas, mas no mesmo lugar onde elas estavam antes de entrar no consultório.

Cinco dias depois, a primeira alteração sentida foi com relação à textura. A pele estava um pouco diferente. Não necessariamente mais suave, mas parecendo papel. A suavidade apareceu uns dias mais tarde, quando olhei para as bolas depois de levantar e notei que elas pareciam como se estivessem saído de uma banheira de água quente. Nos dias seguintes, minhas bolas foram "decaindo" até ficarem na mesma altura da ponta do meu pênis. Meu escroto estava mesmo mais suave. Ele parecia menos com um cérebro, preso a ponto de conseguir segurar uma cenoura pela ponta, e mais como duas pedras de riacho, suaves e redondas, balouçando em um lenço de seda.

Por sorte, as bolas mais baixas não fizeram meu pênis parecer menor, como eu temia. De fato, na posição mais relaxada parecia fazer meu pênis cair diretamente para baixo, em vez de ser puxado e empurrado em vários ângulos. Uma parceira frequente notou, positivamente, que as minhas coisas pareciam maiores. Ao balançar mais abaixo, dentro de um escroto espaçoso, ela disse que os testículos também ficaram melhores de apertar, como bolinhas baoding – aquelas bolinhas chinesas usadas para aliviar o estresse – e ela gostou muito da sensação de passar elas pelas mãos. E confesso que eu também.

Embora tenha sugerido o escrotox como uma piada, e ter me arrependido disso antes, durante e depois do procedimento, devo dizer que eu amo minhas bolas mais ousadas, maiores, pendentes e balouçantes. Gosto de como elas estão agora, e de como as sinto, e da nova dimensão que elas dão ao sexo. Quando o efeito do botox passar, e minhas bolas voltem a ser como eram antes, talvez eu faça uma visitinha ao Mesa… Mesmo que talvez eu não consiga um encontro naquele mesmo dia.

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