A atual crise política e socioeconômica que a Venezuela tem sofrido, desde o fim do governo de Hugo Chaves, é a mais dramática da história do país. A inflação, que se encontra acima de 800% ao ano, tem elevado o valor de itens básicos, cada vez mais raros, penalizando a população. Faltam alimentos, produtos de higiene e medicamentos.A situação de extrema escassez em que o país se encontra acabou por gerar uma onda migratória de venezuelanos para países da América Latina, sobretudo para o Brasil. Para fugir da fome e do desemprego, em fevereiro deste ano, cerca de 40 mil refugiados venezuelanos chegaram ao estado de Roraima, região norte do Brasil.
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André Coelho, fotógrafo carioca radicado em Brasília, esteve, recentemente, em Roraima, em dois momentos, em fevereiro e maio, para documentar a questão dos refugiados no estado. “A pauta sobre os refugiados venezuelanos estava muito em evidência e era um assunto que me interessava, ainda mais por eu ter acabado de voltar de uma viagem a Bangladesh, onde fui fotografar a mesma situação, só que, agora, as coisas aconteciam ‘dentro de casa’”, conta André.
O fotógrafo embarcou para Boa Vista, capital do estado, em fevereiro, onde ficou por uma semana, e de lá fez duas viagens até a cidade de Pacaraima, fronteira com a Venezuela e ponto de entrada dos refugiados para o Brasil. Entre Pacaraima e Boa Vista, são 250 km, percorridos a pé por muitos venezuelanos, em uma viagem que pode levar dois dias e meio até a capital. Durante o percurso, eles dormem nas margens da BR 174 e contam com a solidariedade de motoristas para conseguir água e comida.
A praça Simon Bolívar, no centro de Boa Vista, tornou-se símbolo desse êxodo e ponto de encontro de pessoas de todas as partes da Venezuela que ali compartilhavam suas histórias de vida e as experiências vivenciadas até chegar ao Brasil. A crise não atingiu somente os mais pobres, pois professores, profissionais liberais e até cientistas estavam entre os que fugiram em busca de um futuro melhor para suas famílias.
Assim, uma comunidade venezuelana foi estabelecida no local. A falta de infraestrutura, entretanto, passou a afetar os moradores, e a praça se tornou uma preocupação para os governos local e federal. Segundo André, dezenas de venezuelanos se revezavam nos semáforos de Boa Vista pedindo esmolas ou limpando vidros de carros. Outros podiam ser vistos segurando cartazes em busca de emprego.
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Em sua segunda visita a Boa Vista, em maio, André constatou que muitos dos refugiados haviam sido transferidos para abrigos mantidos pelo governo brasileiro com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR). “O governo de Roraima tomou a péssima iniciativa, em minha opinião, de cercar a praça com tapumes de madeira, em uma tentativa frustrada de esconder o problema, transformando-a numa espécie de campo de refugiados e fazendo com que a situação no local se deteriorasse com o agravamento de problemas como saneamento básico. Com a repercussão negativa da decisão, dias depois, todos os moradores foram transferidos para abrigos”, relata André.
Nessa mesma semana em que André estava em Boa Vista, o governo brasileiro transferiu o primeiro grupo de refugiados de Roraima para outros estados do país, como Amazonas, São Paulo e Mato Grosso, com a intenção de promover oportunidades de emprego e socialização.
Nessas fotos de André, assim como em todo seu trabalho documental, vemos imagens comprometidas com a história que pretende contar. Uma fotografia humana, envolvida por um senso crítico e estético.Mais fotos do André Coelho no Instagram.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.