Duda Beat
Foto: Larissa Zaidan/VICE

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Duda Beat é reaça no amor, mas só nele

A pernambucana radicada no Rio falou sobre brega, seus próximos passos e ter usado a música como terapia pra superar dez anos de relacionamentos frustrados.

Em "Todo Carinho", última música de seu disco de estreia Sinto Muito, a cantora pernambucana radicada no Rio de Janeiro Duda Beat canta sobre o quanto se sente desconfortável com novas configurações de relacionamento: "Beijei ontem à noite / Mas acordei sozinha / Difícil de falar dessas relações / Eu sou de outro tempo / Amor que é pra sempre". Termina com uma frase que é tão carente quanto consciente de si mesma, "Todo carinho do mundo pra mim é pouco".

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O sentimento de desencaixe com relacionamentos casuais e um romantismo exacerbado são as marcas de Sinto Muito, mas a faixa final é o momento em que a cantora discorre sobre isso com mais assertividade. Durante as outras dez, Duda tenta se conformar e entender o que queriam dizer diversas relações sobre as quais ela discorre — em "Bédi Beat", fica marcado o questionamento "De que tipo é o seu amor?"

Esse descompasso romântico foi motivo de grande identificação assim que o disco foi lançado, em abril de 2018: ao todo, ele já acumula cerca de 9 milhões de execuções no Spotify e o single principal, "Bixinho", conta sozinho com mais de 1 milhão no YouTube. De repente, a cria da cena de MPB carioca se viu se apresentando em festivais por diversas capitais no país e escalada como uma das atrações nacionais do Lollapalooza Brasil, em abril. Nesta quinta (24), ela se apresenta em show esgotado na Casa Natura Musical.

"Eu já acreditava muito na minha música. Falo de sofrência de amor e todo mundo passa por isso", disse Duda em entrevista feita na tarde de terça (23). Ela também contou à VICE como fez dez anos de relacionamentos frustrados se tornarem combustível pra fazer arte e comenta a ascensão do pop-brega nos últimos anos. Leia e escute o álbum abaixo:

VICE: Você começou a cantar e compôr na mesma época?
Duda Beat: Não, foram duas coisas totalmente separadas. Eu canto desde a adolescência, cantei um pouco na Igreja e fiz uma banda lá em Recife que não durou muito porque eu acabei vindo pro Rio quando terminei o terceiro ano pra tentar medicina. Chegando no Rio eu parei, queria muito ser médica e passei sete anos tentando. Enquanto isso, Castello Branco e Letrux estavam fazendo discos e eu participei dos dois, mas fui levando minha vida. Até que, por necessidade, eu comecei a compôr. Eu costumo dizer que fiz esse disco muito mais por precisar me sentir respeitada, tanto pelas pessoas do grupo no qual eu estava inserida, meus amigos, quanto pelos caras por quem eu sempre estava apaixonada e nunca conseguia ter uma coisa consolidada. Dois anos depois de um dos caras ter vindo morar em São Paulo, eu ainda estava meio na sofrência e acabei começando a compôr porque precisava tomar algum lugar pra mim, me empoderar de mim mesma.

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Você acredita em usar a arte como terapia?
Totalmente. Costumo dizer que consegui com esse disco meu maior objetivo: primeiro me curar, e depois curar as pessoas. Muita gente vem falar comigo por inbox, dizendo como o disco ajudou em um final de relacionamento, e isso me deixa muito feliz porque ele me ajudou também. Foi totalmente uma terapia, transformar aquilo que eu sentia em uma coisa pra chamar de minha. Fico feliz que as pessoas se identificaram com isso e se empoderam a partir da minha história.

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Foto: Larissa Zaidan/VICE

Então você ter lançado o disco foi espontâneo? Não era um plano se tornar cantora?
Eu sempre amei cantar, mas acho que deixei isso um pouco adormecido dentro de mim. O tempo foi passando e eu fui vendo que isso era realmente minha vocação. Quando entrei de cabeça nessa história de fazer o disco, eu senti que era ali que eu sempre deveria ter estado. Acabei me descobrindo muito o que eu queria pra mim. Foi uma jornada de autoconhecimento e descoberta.

Como você conheceu essa galera da música carioca – Letrux, Castello Branco?
Eu sempre ia passar férias no Rio de Janeiro, desde a adolescência. Meu primo Gabriel [GB], baterista da minha banda, tinha uma banda chamava R. Sigma em que estava Diogo Strausz, Castello Branco, o Tomás [Tróia], que é produtor do meu disco. Essas pessoas sempre faziam shows e eu sempre estava junto, sempre fui a shows da Letrux, que na época era Letuce, da Mahmundi, da Alice Caymmi, do Cícero. Toda essa galera meio que cresceu na música junto e eu estava sempre no meio.

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Foto: Larissa Zaidan/VICE

O pop com uma influência brega parece estar tendo uma ascensão, e isso está muito presente no seu disco. Como você acha que surgiu uma abertura maior pra esse tipo de música?
Eu não costumo pensar muito nisso. Canto brega porque desde criança escutei brega, sou de Recife. Que bom que o pop brega está crescendo, porque é um ritmo muito brasileiro e que não foi explorado por muito tempo. Eu acabei colocando isso [no disco] porque já fazia muito parte da minha vida, quando criança eu lembro de chegar do colégio e estar passando programa de brega na TV. Eu ficava almoçando e assistindo. Ter isso na minha obra é um orgulho, já era uma vontade grande desde o início. Eu queria ser pop. Era uma coisa que eu sempre falava pro Tomás: eu estou falando de tristeza, mas quero que as pessoas dancem.

Quais são seus discos de sofrência preferidos?
Eu curto muito anos 80, sou apaixonada por George Michael, Sade. Isso é tudo marcante, também pela minha infância. Uma que não é muito sofrência mas também tem a ver com amor é a Kali Uchis, que lançou um disco maravilhoso que também fala muito sobre isso, mas de outra forma. The Internet eu também amo muito. As coisas que eu gosto e escuto muito estão mais por aí.

Seu disco tem muitos momentos de pensar no amor hoje como uma coisa mais solta e desprendida, mas você parece não se identificar muito com isso. Você é reaça no amor?
Eu sou sim meio reaça no amor, meio conservadora no amor. Mas só nele (risos). Eu sou uma pessoa muito romântica. Eu tenho 30 anos, então cresci vendo aqueles filmes da Disney de princesa, não sei o que aconteceu na minha cabeça. Acredito muito no amor, em você ter uma pessoa que cuida de você e você dela. Acho gostoso quando você acha uma pessoa que te completa. Eu achei agora a minha, que é o produtor do meu disco, Tomás. Ele era meu amigo de infância e acabou virando o amor da minha vida. Sempre brinco que todos os clichês serviram pra mim. Essa história de ficar com um, ficar com outro e acabar dormindo sozinha não tem muito fundamento na minha cabeça.

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Foto: Larissa Zaidan/VICE

Como foi o rolê de lançar seu disco de forma independente?
O disco demorou dois anos pra ficar pronto por causa disso: eu tinha que trabalhar pra juntar o dinheiro pra pagar o cara da mix, da master, o baixo que ia ser gravado. Eu tive a sorte de ter uma grande amiga que me deu um emprego na empresa dela, que é uma empresa de pintura de parede. Fiz de um tudo pra poder bancar o meu disco, bancar esse sonho. Contei com a ajuda de muita gente, mas foi ralação. Aí o disco sai e você tem que juntar dinheiro pra fazer um clipe, pra patrocinar no Instagram… Eu fiz o que eu pude, mas a minha parada foi mais orgânica.

O que você sentiu quando o disco saiu e começou a decolar?
É muito doido, porque eu meio que já esperava. Eu acreditava muito na minha música. Botei o disco na rua e acreditei que ia dar tudo certo. Todo dia eu ia lá ver quanta gente estava ouvindo, sempre naquele expectativa mas muito confiante de que ia rolar e rolou. Isso pra mim é uma grande realização.

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Foto: Larissa Zaidan/VICE

Quais são os próximos passos pra Duda Beat?
Tenho um monte de single pra lançar esse ano, e muitos feats. Tem feat com Jaloo e Matheus Carrilho, com Romero Ferro, com a Illy, com o Diomédes Chinaski, com Brasa. Tem remix de “Bixinho” pra sair. Tenho uns seis singles esse ano, e aí no ano que vem o disco novo. Os singles são mais comerciais, mas o disco vai ser mais a onda que eu fiz. Pra você lançar um disco, uma música tem que condizer com a outra, você tem que contar uma história. Eu acredito que ainda vou falar um pouco sobre sofrência porque fiz muita música sobre isso, foram dez anos de relacionamentos que não deram certo. Mas espero que no meu próximo disco já seja uma transição para uma Duda que está feliz, que está realizada no amor e que está conseguindo as coisas que quer.

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