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Música

Conheça a Trajetória do Rapper Slim Rimografia, Participante do BBB14

12 anos de hip hop e um monte de planos na cabeça: "vamo pra cima pesado que esse ano é nosso"

A relação do rapper paulistano Valter Araújo, aka Slim Rimografia, com a cultura hip hop começou na adolescência, quando, em 1996, já colava com a galera do grafite da sua quebrada, no M'Boi Mirim. "Nossa ideia era trazer o grafite para cá, que era uma coisa que não tinha muito", conta ele. Fascinado com todo o conjunto de expressões que alimenta o movimento, ele entrou numas de que seria produtivo e recompensador ir além do grafite. Mais tarde, em 2001, passou a se arriscar nas batalhas de freestyle. A primeira delas foi num campeonato individual de break, em que a sua banca, de Diadema, enfrentou o pessoal da Academia Brasileira de Rima.

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Antes de investir com mais afinco no rap, Slim ainda tentou se destacar na dança, mas como b-boy não levou muito jeito. Pega nada, porque o maluco se deu tão bem no freestyle que isso o incentivou a sair escrevendo algumas letras. A parada fluía tão naturalmente até o ponto em que ele se tocou de que essa seria a melhor forma de colaborar com o hip hop. Isso já faz 12 anos, período ao longo do qual lançou cinco discos. Os inaugurais trabalhos ele promoveu na raça, vendendo o CD de mão em mão na rua, no busão, inaugurando uma prática que mais tarde se tornaria comum no hip hop.

Geral de fora do rap, no entanto, acabou o conhecendo como Valter, personagem do reality show BBB14. Daí que eliminaram o Slim a apenas cinco dias da final, que foi ao ar nesta terça-feira (1º), e nem todo mundo sacou qual é a história por trás dele. A campanha pela vitória no 16º paredão contou com nomes de responsa do rap, gente do contexto que nutre admiração por ele: Emicida, Flora Matos, Cone Crew e mais uma galera se manifestou pelas redes sociais. Não é pouca moral. Então a gente obviamente se encarregou disso e trocamos uma ideia com ele, fazendo um balanço completo da carreira do – esperamos – ex-“Falido” Slim. Segura essa:

Noisey: De onde veio o nome artístico "Slim Rimografia"? Quais são os motivos que influenciam a estética do seu trabalho? Visual ou estilo é tão importante para um artista de rap como a mensagem a ser passada?
Slim: O meu nome artístico veio do meu grafite, eu já assinava Slim quando grafitava. Uma vez eu escrevi uma letra e dei o título de Rimografia, que significa "escrita rimada". O que rolou foi que eu gostei bastante e acabei agregando ao nome. Mais tarde eu até criei um conceito pra isso: Stilo de Linguagem na Maneira da Escrita Rimada. Mas acho que ilustra bem essa coisa do termo em inglês mesmo, do magro, já que todo mundo me chamava de magro, daí acabou rolando legal e eu mantive quando comecei a fazer rap. Em termos de imagem e produção musical, a estética do meu trabalho traz muito aquilo que eu acredito, traz a identidade do skate também, eu andei muito tempo de skate. O visual tem muito a ver com isso, uma linguagem bem urbana. Eu acredito, sim, que o visual e o estilo são importantes pra qualquer artista. Acho que a forma de eu me vestir, agir, falar, combina com a música que eu faço. Tudo está interligado e tem importância. Assim a gente consegue transmitir melhor a mensagem.

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Na música, no cinema, na literatura, na arte, quais os nomes/obras ou referências que inspiram o seu trabalho e sua filosofia de vida?
Na música tem muitos artistas que me tocam. Desde o jazz, de John Coltrane a Miles Davis, aí eu vou lá no Chico Buarque, no rap, vou lá no Jay-Z, de quem eu gosto bastante. Atualmente, curto o Kendrick Lamar, e aí tem outras referências, do samba, Cartola, Arthur Verocai. No cinema, sou fã do Quentin Tarantino, do Pedro Almodóvar. Na literatura, várias coisas, mas sou muito ligado a essa nova literatura, fico muito com a galera aqui da Cooperifa. Gosto bastante do Sérgio Vaz, do Akins Kintê, da Elizandra Souza, é um pessoal que acaba me inspirando bastante. Acho que essas influências foram me moldando, tudo que eu vejo, leio, escuto tem um pouco de tudo isso. Tem uma letra do Jorge Ben que eu acho maravilhosa, que me faz refletir muito, "Por que é Proibido Pisar na Grama", e de uns tempos pra cá eu venho descobrindo que o Lulu Santos também tem umas letras ótimas.

Depois de cinco discos lançados, tem algum experimento musical que você gostaria de trazer para seus futuros trabalhos que você ainda não tenha explorado? Cruzamento de estilos com novos ritmos ou coisa do tipo?
Cara, depois desses cinco discos eu quero continuar experimentando mesmo. Acredito que já consegui experimentar algumas coisas que eu queria, alguns ritmos, nunca me prendi a uma coisa só. E no rap cabe essa mistura. Então eu vou continuar procurando coisas novas, garimpando discos, sampleando. Não tenho problema com ritmo nenhum, meu jeito de trabalhar é muito livre mesmo. Fazer esse cruzamento de ritmos é uma coisa muito louca porque dá pra usar muita coisa. O rap não tem uma fonte específica, começou ali no soul e no funk, recortando umas baterias, mas hoje você faz o beat com qualquer coisa, com samba, com música árabe, batuque, tudo isso dá pra misturar dentro do meu rap. Meu maior desejo é continuar com a mente livre para explorar qualquer tipo de som, se eu sinto que cabe no meu rap eu vou absorver, se eu achar que fica bom fazer uma base batendo o pé no chão, estalando o dedo, batendo uma latinha na outra, fazendo um barulho de copo, qualquer coisa que soar legal vai ser aproveitada.

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O Thiago Beats está contigo desde o começo? Vocês costumam trabalhar tudo em parceria? Qual a importância/influência dele no resultado final das suas tracks?
O Thiago Beats está comigo não desde o começo da carreira, mas já tem 8 anos. A gente trabalha assim, em parceria. Pra mim ele é mais que um irmão. Eu não me vejo fazendo música ou fazendo as minhas coisas distante dele. Ele é um cara super simples, tem uma sensibilidade musical, um trabalho de beatbox que eu considero um dos melhores do Brasil, pela capacidade que ele tem nos timbres, pela diversidade que ele tem musicalmente e pela alegria que ele leva. Não só além de acrescentar o beatbox dele: também dobrando comigo nas músicas, no show, a gente tem um sincronismo, uma energia incrível.

Você acha que a sua participação no BBB14 teve um saldo positivo para a sua carreira artística, no sentido de trazer mais exposição para o seu trabalho?
Acho que minha participação no Big Brother foi muito maluca. Eu sabia que muita gente não entenderia a minha entrada lá dentro e tal. Eu não me preocupei muito com isso. Acho que trouxe um saldo muito positivo, não só pra minha carreira, mas pra visão das pessoas sobre alguém que faz rap. Quando eu saí de lá, recebi o carinho de muita gente. As pessoas falaram sobre caráter, sobre postura, sobre manter a calma, sobre respeitar o outro, sobre passar uma mensagem positiva. E fora que é levar o orgulho, que você tá lá com um boné escrito “favela” dentro de um programa que é em rede nacional. Pelo menos pra mim, pra mostrar o que é um rapper como pessoa, e se eu não estivesse lá, seria outra pessoa, alguém com outro rolê. Eu sempre critiquei muito, nunca fui de assistir, mas percebi que dentro do dia-a-dia, da forma que você vai agindo com as pessoas, você consegue passar muita informação e conscientizar muitas pessoas, e isso pra mim é muito legal. Lógico que nada é unânime, vai ter gente que vai falar isso e vai fazer aquilo, existe um preconceito não só contra o negro, mas contra a cultura negra, contra o rap. Algumas pessoas veem a periferia com preconceito, de quem vem da periferia, então acho que foi um passo pra gente mostrar um pouco do negro de periferia que faz rap e tem uma família.

Qual a avaliação que você faz da cena hip hop hoje, depois de mais de 12 anos vivenciando essa realidade, com a época em que você começou?
Cresceu muito o público da cultura hip hop, e eu acho que isso é algo que a gente tem que comemorar muito, porque ampliou o horizonte, hoje tem pessoas que conseguem sobreviver através da sua arte. Tem mais casas de show sendo abertas para o rap, estamos invadindo novos lugares. Quer dizer, o hip hop saiu ali da São Bento e começou a ampliar tudo isso. Agora, uma coisa que eu acho que as pessoas deveriam buscar, é conhecer a cultura. Acho que de cada cinco anos ou dez, a cena vai se renovando, vão chegando pessoas de outras gerações, e acho que precisa ser mantido o respeito pela galera que começou tudo isso. Tem gente que não conhece nada da cultura e já acha que é dono dela. Então eu sempre digo que a gente precisa olhar para o passado para entender o presente e melhorar o futuro. Tem que ter respeito, tem que conhecer ao máximo as raízes, como surgiu cada coisa, quando surgiu, porque que os caras se vestiam de um jeito ou outro. Somos só a continuação da luta de alguém, da arte de alguém, então temos que saber valorizar os manos que tocavam nas escolas, batendo palma na rua, batendo lata na São Bento, muito antes de ser possível encher casas aí com 10 mil pessoas e conseguir viver disso. De positivo, eu diria que a coisa cresceu. De negativo, as pessoas perderam um pouco do respeito pelo passado da cultura hip hop.

Alguma coisa te irrita na cobertura de sites de celebridades/tv/fofoca a respeito da sua participação no programa?
Fofoca já é uma coisa que eu não gosto muito, e eu não me considero uma celebridade por ter participado desse programa. Sempre tive isso. Acho que só a exposição não te torna uma celebridade. É muito mais o trabalho. Eu creio muito que pela admiração daquilo que eu faço, daquilo que eu escrevo, as pessoas consigam enxergar que eu acredito, então isso, de certa forma, me deixa numa posição muito agradável. Não curto muito essas coisas de achar que é estrela, eu trato todo mundo com muito respeito, e acho lindo essa troca de carinho, mas essa parada é muito mais pra música. E dentro da música eu sou um cara muito simples, e eu gosto disso. Mas acho que não tô muito nessa de fofoca, do que comeu, o que vestiu, foi em não sei onde e blá blá blá. Acho que isso não vai acontecer muito.

Ainda sobre o BBB, conviver num ambiente daqueles te trouxe alguma percepção nova a respeito do comportamento humano? Digo, muitos saem descrentes das pessoas após experiências como essa…
Aquele ambiente sempre traz uma nova percepção. Se a gente pensar o quanto as pessoas acabam se moldando por dinheiro. O dinheiro é algo que justifica tudo, sabe? Isso trouxe uma percepção muito boa pra mim. Porque eu tava envolvido em algo que tinha muita grana, um dinheiro que eu nunca vi na minha vida, que eu nunca nem imaginei, que não sei nem escrever direito, mas isso me mostrou que eu realmente acredito naquilo que eu prego, naquilo que eu escrevo, e eu nunca coloquei o dinheiro como algo principal. Quando eu tive motivos pra seguir pelo lado do dinheiro, mesmo eu estando num programa que tá dando dinheiro, dando prêmios, eu conseguia pensar no lado humano, naquilo que eu realmente acredito. É lógico que a gente se decepciona com as pessoas, com o jeito que elas agem com as outras pessoas e na forma que elas querem pisar em cima do outro pra poder conseguir aquilo que elas realmente desejam, que é ter a grana. E isso não é algo que eu fiz lá dentro, então, ter saído com esse respeito e esse caráter intacto, independente de coisas que falam, eu acho que segue como uma auto-lição, pra você realmente se conhecer. Você pode até falar “eu não faria isso”, mas se você tivesse a oportunidade, você agiria da mesma forma? Eu tive a oportunidade e consegui agir com meu coração, e saí de lá muito feliz.

Quais são as novidades que você tem para este ano? Disco, parcerias, turnê, clipe?
Cara, as novidades pra esse ano são as seguintes: saí de lá sedento pra fazer música. Vai ter videoclipes, parcerias, já tenho uns parceiros em segredo aí, e vai ser foda, vai ter umas paradas bem loucas. A turnê, já estamos agendando shows, esse mês já começo a fazer shows, e o disco novo, eu acho que sai esse ano ainda. Mas pra isso tenho que trabalhar no meu disco anterior, minha mixtape, tem vários sons ali que ainda não se propagaram, e eu tenho que dar uma divulgada neles ainda, porque eu já tô começando a trabalhar outras coisas. Tenho muita letra nova, que eu tava escrevendo antes, e agora tem que escrever muito, tirar o atraso desses três meses que eu fiquei lá confinado, e fazer muita coisa. Então pra esse ano, é muito, muito trabalho mesmo. Já estamos focados pra trabalhar, já estamos com reuniões, o tempo tá corridaço, mas isso é muito bom. Vamo pra cima pesado que esse ano é nosso.