Pennywise e Lisa Blair no Exorcista
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Entretenimento

Os 50 momentos mais assustadores do cinema de terror

Pra quem quer se assustar sem ter que assistir 'O Exorcista' ou 'Hereditário' de novo.

Passei por isso várias vezes: chega o Halloween e eu, enquanto “o cara da cultura pop”, sou sempre metralhado por pedidos de sugestões de filmes de terror. Sendo um cara legal da cultura pop, dou alguns títulos só pra depois os ingratos apontarem o dedo pra mim e dizerem “ah, não dava medo coisa nenhuma”. Mas essa é o problema com “dar medo”, que é algo inteiramente subjetivo. Você está sentado no cinema, assistindo uma cena assustadora segurando a respiração, enquanto isso o cara do seu lado está bocejando sem parar.

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Bons filmes de terror acham um jeito de se infiltrar nas partes mais escuras e profundas da nossa psique, mas isso depende de traumas e dogmas individuais. Alguns podem não gostar do escuro, outros têm medo do desconhecido, e no meu caso, é a calma não-natural que me assusta. Para dar minha palavra final nessas sugestões, fiz uma longa lista de 50 momentos de vários filmes (sem uma ordem em particular, desculpa aí, competitivos); alguns do terror, outros de thrillers, todos que acho que vão satisfazer até os críticos mais exigentes de terror.

Zodíaco, “Eu mesmo faço os cartazes”

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Atores: Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Anthony Edwards, Brian Cox

Diretor: David Fincher

Considere os elementos aqui: Esse é um filme de David Fincher sobre um serial killer da vida real fazendo coisas de serial killer (O Assassino do Zodíaco), E ELE NUNCA FOI PEGO. Essa é uma distinção muito importante quando você entra nessa cena depois de duas horas e 18 minutos até encontrar o provável assassino.

O que é assustador?

Quando o determinado cartunista Jake Gyllenhaal fica cara a cara com o colega totalmente normal que é seu suspeito, tem uma mistura perfeita de enquadramento, daquele jeito “uma noite escura e tempestuosa”, que deixa o público saber que Jake está sozinho nesse cenário. É mais tarde que o assassino em potencial diz a frase “Eu mesmo faço os cartazes”, antes de o convidar para seu porão escuro. Todo espectador está pensando a mesma coisa nesse momento: Dá o fora daí, cara!

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Atores: Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss, Lorraine Gary

Diretor: Steven Spielberg

Você já sabe a rotina: o tubarão aparece, mostrando a barbatana acima da água; a música dá a dica — tum dum, tum dum tum dum — insira o susto. Tubarão não é estritamente assustador. Claro, Steven Spielberg montou um thriller clássico estrelando um grande tubarão branco; mas ainda é só um tubarão. E a maioria das pessoas pode evitar o mar como fazemos com nossos sentimentos. Aí entra essa cena com Robert Shaw como o caçador de tubarão Quint, que começa a contar a história das suas cicatrizes físicas. Enquanto ele detalha sua experiência no USS Indianapolis, a trilha sonora começa a ficar lenta e sombria, com Quint contando ao Matt Hooper de Richard Dreyfuss e Martin Brody de Roy Scheider sobre ficar à deriva no oceano com um bando de tubarões famintos. Ele foi o único sobreviventes do seu grupo.

Por que é assustador?

Nessa sequência, Robert Shaw te coloca no lugar dele, fornecendo todo o clima que você precisa para imaginar por que o tubarão desse filme é algo para ter medo. É uma história emocionalmente desconfortável que nunca decepciona.

O Exorcista, cena do crucifixo

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Atores: Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb, Jason Miller, Linda Blair

Diretor: William Friedkin

Um bom susto joga com expectativas. Você não espera que uma menininha branca seja a encarnação do mal… normalmente. Você geralmente pensa em pele vermelha e chifres. Mas aqui você assiste a Linda Blair de doze anos de camisola, esfaqueando suas partes íntimas enquanto amaldiçoa uma tempestade na frente da mãe em outro exemplo de privilégio branco. Essa menina que nem tinha ouvido a explicação sobre sexo está corrompida, e não há escapismo pra isso.

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Por que é assustador?

O diretor William Friedkin usa essa imagem de pureza num contexto dos anos 70 e ao mesmo tempoexplora nossos dogmas religiosos — a ideia de que o mal pode se infiltrar em qualquer alma e fazer bons e maus fazerem coisas horríveis e subrenaturalmente horrorosas. Se cresceu em qualquer família religiosa, você viu essa perversão horrível do que é bom e acreditava que isso era real, e por exemplo, assumia que qualquer um podia ser corrompido.

It: A Coisa (2017), morte na boca de lobo

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Atores: Jaeden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis, Finn Wolfhard, Chosen Jacobs

Diretor: Andy Muschietti

Você tem que admirar a minissérie It dos anos 90 por sugerir que uma criança pode ser morta por um palhaço demônio no horário nobre da TV. Mas em 2017, isso parece ainda mais perturbador com tudo que sabemos sobre assassinos de crianças. Quando o pequeno e fofinho Georgie encontra esse palhaço assassino num esgoto, todo mundo sabe o que é inevitável nesse ponto, mas ninguém estava esperando o braço de uma criança ser arrancado de um jeito tão brutal quanto o palhaço faz.

O que é assustador?

Palhaços já são muito perturbadores, já escrevemos sobre isso antes. Mas é o jeito como Bill Skarsgård como Pennywise mexe os lábios. É o momento quando ele baba e congela com o som da risada do Georgie. Como qualquer predador infantil, ele sabe como jogar com sua vítima e quase não consegue esconder sua fome. A coisa da criança gritando de dor sem o braço é só a cereja desse bolo de medo.

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O Iluminado, velha na banheira

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Atores: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers

Diretor: Stanley Kubrick

Muita gente acha que a cena mais assustador aqui é a da onda de sangue do elevador, mas acho que é mais a questão da subversão de expectativas num filme sobre um hotel mal-assombrado e o cara que vai ficando louco por causa dele. Não deveria ser surpresa ver uma idosa pelada em tudo isso, certo?

O que é assustador?

Quando Jack Nicholson ignora os avisos sobre o Quarto 237, ainda é um choque ver essa mulher bonita nada assustadora sair nua da banheira. É compreensivelmente excitante para o pessoal mais hormonal. Mas quando o anjo se transforma e vemos um corpo velho e meio podre no meio de risadas loucas, é de arrepiar.

O Bebê de Rosemary, o ritual

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Atores: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon

Diretor: Roman Polanski

Satanás era um conceito de que pouca gente tiraria sarro nos anos 60. Então a ideia literal de Satanás sendo parido por uma mulher humana ainda é muito perturbador.

O que é assustador?

Gravidez já é um negócio complicado, mas O Bebê de Rosemary mistura isso com uma violência sexualizada acontecendo por vários minutos, o que é chocante. Você sabe que tem algo estranho com a Rosemary e os vizinhos, mas não tem como ajudá-la. Há alguns sustos repentinos que depois perdem seu impacto, mas aí você tem essa cena. É um cenário perturbador que nunca cai bem.

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Louca Obsessão, marretada

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Atores: James Caan, Kathy Bates, Richard Farnsworth

Diretor: Rob Reiner

“Você saiu do seu quarto.” Essa fala da fã obcecada Annie Wilkes, interpretada por Kathy Bates, é um soco no estômago. Paul Sheldon, interpretado por James Cann, está à mercê de uma devota louca do seu trabalho depois de um acidente de carro. As coisas vão piorando quando ela começa a questioná-lo sobre uma tentativa de fuga, e testemunhamos uma punição para a vida inteira.

O que é assustador?

Enquanto a Annie cuida de Paul até ele se recuperar, o diretor Rob Reiner apresenta várias facetas do comportamento dela — de facilmente ofendida, a enraivecida e paciente. Quando Paul acha um jeito de sair do seu quarto, o clima já estava tenso há um bom tempo. Aí ela anda ao redor da cama dele, contando calmamente uma história sobre punições medievais — um prenúncio da merda fodida que vai acontecer. Ela está mais calma e mais louca que nunca enquanto quebra os tornozelos dele.

O Enigma de Outro Mundo, desfibrilação

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Atores: Kurt Russell, Wilford Brimley, Keith David

Diretor: John Carpenter

Tem uma coisa muito enervante em deformação corporal. Passamos a vida inteira vendo o corpo humano numa certa ordem; duas mãos, uma cabeça e duas pernas… legal. Mas aí esse filme do John Carpenter entrou em cartaz, com seu uncanny valley de efeitos especiais práticos, e o espectador tem dificuldade para processar a coisa toda. Eu não deveria ter que me aprofundar nesse enredo (sério, o que você estava esperando pra assistir esse filme?), mas envolve uma forma de vida alienígena que invade corpos enquanto finge ser o tal corpo. Em cena, uma autópsia num suspeito de ser hospedeiro vira um espetáculo pra lá de sangrento, com uma transformação bizarra depois da outra.

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O que é assustador?

Essa cena começa calma. Só uma autópsia normal que vai de zero a 100 no momento que uma cavidade peitoral vira uma mandíbula, depois vira uma criatura aranha horripilante. As imagens mexem com o estado do que é normal e se aproveitam da nossa negação da fragilidade do corpo humano do jeito mais nojento possível.

Seven: Os Sete Crimes Capitais, “O que tem na caixa?”

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Atores: Morgan Freeman, Brad Pitt, Kevin Spacey, Gwyneth Paltrow

Diretor: David Fincher

Durante as duas horas e sete minutos desse thriller, o público mergulha no trabalho dos detetives Somerset (Morgan Freeman) e Mills (Brad Pitt), enquanto eles seguem um serial killer encenando seus assassinatos com base nos sete pecados capitais. No final, o assassino John Doe (Kevin Spacey) diz ter realizado o pecado final (ira) deixando Mills saber — algemado e com uma arma apontada pra cabeça — que sua esposa provavelmente está morta e provavelmente na caixa que ele acabou de receber no local onde eles estão.

O que é assustador?

A reação de palidez do Morgan Freeman — que é apresentado como um detetive sério e reservado — dá o toque final aqui. Você ouve os detalhes pesados do que está na caixa, mas somos preparados para ver a personagem interpretada por Gwyneth Paltrow como a alma mais pura do filme. Quando ela ser torna a mais vitimada, de um jeito que pode caber numa caixa pequena, todo mundo faz a mesma pergunta, “o que tem na caixa?”

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Atores: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles

Diretor: Alfred Hitchcock

Alguns de nós são pessoas que confiam. Então no instante em que esse homem que todo mundo achava que era inocente no clássico de Hitchcock se revela um serial killer — bonito, carismático e amável — você fica imaginando por que ele fez isso e o sorriso dele no final diz tudo.

O que é assustador?

É a voz maternal na cabeça dele, contando o crime, e aquele zoom lento no Anthony Perkins como Norman Bates que parece mais errado. A tomada parece isolada, com um sorriso insano que vai tomando tudo. O mesmo sorriso sinistro que você pode ver na maioria das pessoas normais, sem pensar duas vezes se a pessoa é ligeiramente perturbada ou não.

Uma Grande Aventura, o massacre dos coelhos

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Atores: John Hurt, Richard Briers, Ralph Richardson

Diretor: Martin Rosen

Se você é o público-alvo dessa animação (crianças que gostam de desenhos animados), você curte coisas fofas: coelhos, cachorros, todas essas paradas positivas. Mas aí você se vê assistindo um cachorro de animação destroçando coelhinhos enquanto outros coelhos infestados de raiva contra-atacam.

O que tem de assustador?

Essa cena tem o desespero e a tristeza de um filme do Darren Aronofsky, e de algum jeito o filme conseguiu ser liberado para todos os públicos. Ele pega as leis básicas da natureza, as torna fofinhas, e coloca tudo num nível humanista e realista. Assassinato em massa nunca pareceu tão furry.

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Trainspotting, bebê no teto

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Atores: Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Kevin McKidd

Diretor: Danny Boyle

Por ser um filme dirigido pelo Danny Boyle sobre vício em drogas, você já espera um certo nível de autodestruição. Mas quando a Allison (Susan Vidler) começa a gritar e você testemunha um bebê morto no berço, isso vem de um jeito quase esperado. Aí avançamos para o público assistindo uma sequência de pesadelo envolvendo Renton, interpretado por Ewan McGregor, onde o mesmo bebê está vivo mas também obviamente morto.

O que é assustador?

A sensação de desconforto. Você tem um bebê deformado e inchado engatinhando no teto de um quarto inescapável. Aí você tem uma cena de cabeça virando estilo Exorcista de uma perspectiva em primeira pessoa, tudo ao som de uma batida techno. É uma tomada que dura tempo demais é se move muito lentamente para qualquer pessoa se sentir confortável com o que está vendo.

O Grito, a escada

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Atores: Megumi Okina, Misaki Itô, Misa Uehara

Diretor: Takashi Shimizu

Vamos tirar o óbvio do caminho: os japoneses conhecem seu terror como conhecem seu hentai. Eles simplesmente entendem aquela coisa de apresentação que geralmente cria o melhor tipo de suspense. Nesse caso, temos um enredo sobre um espírito vingativo que gosta de marcar e perseguir qualquer idiota que entrar em sua residência. Foi o filme que começou toda a onda de fantasma mulher de cabelo preto comprido que grita quando aparece em sua forma humanoide. E foi a cena da escada que estabeleceu um padrão.

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O que é assustador?

É aquele som crepitante que todo mundo sabe fazer: você segura a respiração e solta pela garganta; isso tem tipo um efeito de arranhar uma lousa que entra na sua pele, ficando mais alto com cada movimento da mulher. Tem alguma coisa muito não-natural em uma pessoa engatinhando descendo uma escada sem piscar. Mas essa criatura em sua agonia quer machucar e tocar essa atriz ao mesmo tempo.

Alien, o túnel

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Atores: Sigourney Weaver, Tom Skerritt, John Hurt Yaphet Kotto, Veronica Cartwright

Diretor: Ridley Scott

OK, sim, todo mundo sabe o que vai acontecer nessa cena. Mas quando Tom Skerritt está naquele túnel se cagando de medo, com o rastreador de alienígena apitando cada vez mais rápido — indicando que tem alguma coisa se aproximando — ainda é difícil estar preparado para o momento exato em que o alien entra na visão para o abraço mortal, fazendo os espectadores se cagarem de medo também.

O que é assustador?

É um jogo com o ambiente. Por exemplo, o lugar é escuro pacas, explorando o medo do escuro e claustrofobia. Tudo isso atinge um nível acima com a performance frenética de Veronica Cartwright como Lambert, gritando pro nosso amigo sair dali o mais rápido possível. E aí vem o truque: ele lança uma luz na nossa direção, nos cegando para o perigo real. E sem nenhuma pista de movimento de câmera, vemos o alien vir pro abraço; com o zoom colocando a cara feia dele bem na nossa frente.

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Atores: Noami Watts, Martin Henderson, Brian Cox

Diretor: Gore Verbinski

É tudo uma questão da fita em si. Claro, essa é uma adaptação censura 13 anos de um filme muito melhor, mas tem alguma coisa em saber que uma filmagem numa VHS fictícia é amaldiçoada — mesmo se for falsa — e como espectador, ser obrigado a assistir essa porra do começo ao fim.

O que é assustador?

O fato dessa sequência se passar em tela cheia. Você já viu personagens morrerem por ter assistido o vídeo, mas aqui está, como um pesadelo: estática de vídeo, a imagem de uma cadeira vazia, o intestino de alguém saindo pela garganta, um eclipse solar com vermes entre outras figuras. É a paranoia de que depois que você assistir essa sequência, talvez algo te aconteça se você acreditar o suficiente.

Memórias de um Assassino, o olhar

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Atores: Kang-ho Song, Sang-kyung Kim, Jae-ho Song

Diretor: Joon-ho Bong

Tenho que dizer aqui que esse é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Mas considere que essa é uma biografia real cercando os assassinatos de Hwaseong na Coreia do Sul — um dos primeiros serial killers registrados no país. Ele se centra em vários detetives que passam duas horas e 11 minutos procurando um assassino com quem podem ou não ter tido contato.

O que é assustador?

É o que acontece décadas depois no contexto do filme. Nosso detetive principal Park Doo-man (Kang-ho Song) volta à cena de um dos crimes, agora aposentado e com família, mas ainda assombrado pelo caso não-resolvido. Enquanto ele está inspecionando, aparece uma garota que faz referência a um homem que fez algo similar no mesmo ponto. Ele pergunta como ele parecia e ela responde “normal… só comum”. Você precisa estar investido no filme para sentir o terror dessas palavras; que várias pessoas que você acha de aparência comum poderiam ser um assassino em série. O olhar sério de Park Doo-man para a câmera diz tudo.

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O Massacre da Serra Elétrica, morte com martelo

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Atores: Marilyn Burns, Allen Danzinger, William Vail, Paul A. Partain

Diretor: Tobe Hooper

Acredite ou não, mas não tem sexo nem sangue nesse filme de 1974 sobre uns adolescentes que se perdem numa zona rural. Só a tensão se desenvolvendo de estar à mercê de uma família incestuosa assassina no meião do Texas. Ele começa com a primeira vítima, William Vail, ouvindo guinchos fracos vindo de uma casa abandonada. Como um cara branco besta normal, ele vai investigar e encontra seu destino.

O que é assustador?

O design de som o e o enquadramento. A primeira metade acontece de uma certa distância, então tem um certo conforto ali, mas no último minuto surge um cara com roupa de açougueiro e imediatamente derruba Kirk com uma martelada, fazendo ele se contorcer violentamente no chão. Não tem música de suspense aqui para te lembrar que isso é um filme. A cena só acontece; aí uma porta de metal se fecha, nos deixando para imaginar o que esse “açougueiro” vai fazer com o coitado do Kirk.

O Homem Duplicado, a aranha na casa

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Atores: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon

Diretor: Denis Villeneuve

A história é assim: Jake Gyllenhaal interpreta um professor de história carrancudo que descobre que tem alguém que parece exatamente com ele até o último fio de cabelo e, pelo que ele sabe, ele não tem um irmão gêmeo. Dito isso, a cena seguinte envolvendo uma aranha gigante tem pouco a ver com o clima geral do filme, já que a história é mais psicológica que de terror mesmo.

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O que é assustador?

É uma porra de uma aranha gigante num thriller de mistério. Assistir esse filme sobre um cara procurando seu doppelgänger é estranho, claro. Mas sem aviso, ou nada indicando que isso é um sonho, Jake chama a namorada e passando pela porta do outro cômodo, tem uma fucking aranha gigante na parede na frente dele. A cena captura uma das nossas grandes fobias em filmes que não são de terror, e consegue deixa nossa guarda baixa a tempo pro susto. Na sequência inteira, a gente não espera por isso.

O Sexto Sentido, cozinha

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Atores: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette

Diretor: M. Night Shyamalan

Tem uma cena onde o pequeno Cole “eu vejo fantasmas” está escondido numa barraca como se isso pudesse salvar seu pequeno traseiro, mas acontece que ele precisa fazer xixi. Então ele junta coragem (ele não quer se rebaixar a mijar numa caneca, aparentemente) e vai até o banheiro. Naturalmente, ele volta pra barraca com o termostato caindo macabramente, e vê uma mulher gritando com ele da cozinha. Ele volta correndo para a barraca apavorado.

O que é assustador?

Muita gente tem ansiedade com fantasmas, mas Hollywood geralmente os retrata como as figuras transparentes que vemos nos pesadelos; tipo um ser com “cara de demônio”. É incomum vê-los como normais, aparecendo onde querem quando precisam desabafar. Essa cena funciona porque engana os espectadores para esperar algo fantástico, mas manda apenas uma mulher louca, logo antes de nos assustar com a real culpada, uma menina vomitando com cara de sofrimento.

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Kairo (2001), caminhar fantasma

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Atores: Haruhiko Katô, Kumiko Asô, Koyuki

Diretor: Kiyoshi Kurosawa

Japão de novo. Nesse terror de Kiyoshi Kurosawa sobre espíritos invadindo vidas pela internet (parece o Twitter), a vítima Ryosuke se vê numa posição desconfortável encarando uma mulher num corredor; mas está escuro e ele não consegue ver o rosto dela. Enquanto ela se aproxima, parece que ela tropeça, mas recobra o equilíbrio de um jeito não-natural e animalística, porque claro, ela não é humana. Tudo no caminhar dela, até os saltos que tocam o solo, parece uma imitação horrenda de humanidade.

O que é assustador?

Essa mulher japonesa se aproximando parece familiar como qualquer mulher, mas as similaridades acabam aí. É o andar dela, a estranheza dos passos. Ela não é demoníaca com chifres à mostra, mas anormal de um jeito silencioso e mortal.

Amargo Pesadelo, “Grunhe como um porco”

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Atores: Jon Voight, Burt Reynolds, Ned Beatty, Billy Redden

Diretor: John Boorman

Tem momentos que se mantêm perturbadores e horripilantes, e tem momento que exigem terapia. Caras brancos com facas não são assustadores pra muita gente em 2018. Mas sulistas brancos sodomizando adultos? Essa é uma constante. Não vou entrar em detalhes, mas Ned Beatty dá uma atuação sensacional como um dos quatro empresários de Atlanta numa viagem de canoagem nas matas da Georgia. Uma hora eles cruzam com uns caipiras, que acabam não sendo muito legais.

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O que é assustador?

Acontece em minutos depois que ele se encontram: Beatty se vê de cara no chão, com um caipira nojento batendo na bunda dele e o violando. Como o público, o amigo Jon Voight tem que assistir a cena que chega do nada sem nenhuma assistência musical. Os espectadores assistem um homem ser reduzido a uma criança implorando. E esse se tornou o retrato mais enraizado de “não fale com estranhos” do cinema.

Silêncio dos Inocentes, visão norturna

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Atores: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Lawrence A. Bonney

Diretor: Jonathan Demme

Chegando perto do final de Silêncio dos Inocentes, com o FBI prestes a invadir a casa do serial killer, a agente Clarice resolve retomar uma entrevista que ela fez separadamente. Testemunhamos Buffalo Bill correndo para se limpar do cheiro de morte antes de atender a porta. Nesse exato momento, quando você acredita que o FBI está na porta certa, Clarice, sozinha, é aquela que se vê cara a cara com o assassino sem saber. O que se segue é uma sequência no porão escuro — o stalker observando sua presa cega.

O que é assustador?

É outro caso de clássico susto de suspense. Já sabemos que algo vai acontecer, mas o que exatamente não está claro. Até esse ponto, o público testemunhou os contos desse homem que tira a pele das vítimas em exposições. Até esse momento, através de cortes inteligentes entre a equipe do FBI e a agente, não esperávamos que Clarice fosse encontrar o chefe da fase tão cedo. Isso foi antes do celular, então ela não podia pedir ajuda. Ela está sozinha e ficamos rezando pra ela sair ilesa dessa.

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Acampamento Sinistro, “Ela é menino”

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Atores: Felissa Rose, Jonathan Tiersten, Karen Fields

Diretor: Robert Hiltzik

O filme tem todas as marcas registradas de um terror slasher dos anos 80: acampamento de verão, calor, hormônios e um assassino sem rosto com uma reviravolta totalmente transfóbica. O final é a grande atração aqui. Não me entenda mal, o filme opera dentro de uma grossa camada brega, mas não deixa de assustar. No finalzinho, descobrimos que o assassino era alguém que achávamos que seria uma vítima; uma menina, mas acontece que ela nunca foi menina, mas um garoto pego no flagra.

O que é assustador?

Quando todo mundo descobre que a inocente Angela interpretada por Felissa Rose era o assassino, é a imagem congelada de um rosto com o maxilar estranhamente aberto e um corpo masculino que vende a bizarrice. Mesmo assistindo toda a farofagem anos 80 hoje, essa parte fica na sua cabeça, mesmo quando o filme quer que você acredite que o terror real vem da Angela ser um homem o tempo todo, em vez de um assassino.

Sinais, o noticiário

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Atores: Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin

Diretor: M. Night Shyamalan

Num filme que passa bastante tempo falando de alienígenas, ouvindo sobre alienígenas, mas nunca realmente mostrando um, é Merril Hess, interpretado por Joaquin Phoenix, que tem o privilégio de ver a primeira aparição. Ele está assistindo um noticiário num closet sobre círculos em plantações ocorrendo no mundo todo. Algumas pessoas dizem ter filmagens de alienígenas. Mas a verdadeira aparição vem na forma da transmissão como de uma filmagem encontrada; logo depois das pessoas fugirem, claro como o dia, vemos nosso alienígena andando com um zoom na tela.

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O que é assustador?

Claro, tecnicamente é um daqueles sustos repentinos baratos, mas como mencionei, tem muita "fumaça e espelhos" espalhada pelo filme. Você também tem que considerar que esse é um filme do M. Night Shyamalan; um homem infame por subverter nossas expectativas através de reviravoltas na história. Se vamos acreditar na existência de alienígenas, teria que ter outra explicação. Então a sugestão de que há uma verdadeira presença extraterrestre nesse filme parece uma mentira disfarçada de reviravolta, daí o choque.

Alucinações do Passado, ala psiquiátrica

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Atores: Tim Robbins, Elizabeth Peña, Danny Aiello

Diretor: Adrian Lyne

Tem muitos monstros em carros com cabeças balançando nesse filme psicológico do Adrian Lyne sobre um veterano do Vietnã. Mas é o momento em que Jacob Singer é levado para uma ala psiquiátrica cheia de pessoas de meia idade peladas, com um teto de jaula e porções de carne humana espalhadas no chão, que o filme atinge um pico desconfortável.

O que é assustador?

Nos momentos entre o normal e o infernal, ficamos sabendo que Jacob sofreu um ferimento com baioneta na barriga anos antes. Vemos o resultado desse incidente, mas quando as imagens começam a escalar em terror nessa cena, mostrando visões que desafiam a natureza humana, você fica pensando se nosso garoto Jacob não estava morto desde sempre — uma resposta que nunca é inteiramente dada.

Réquiem para um Sonho, tratamento de choque

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Atores: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans

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Diretor: Darren Aronofsky

Mesmo que a ideia de abuso de drogas de Aronofsky seja um pouco hiperbólica, tem algo inegavelmente aterrorizante sobre abuso de drogas dando ruim. Isso pode mudar uma pessoa de dentro par fora. E Réquiem entende isso como uma filmagem estilizada em primeira pessoa mostrando o desespero do pessoal procurando seu próximo barato. Entre a cena do show de sexo da Jennifer Connelly e a amputação do braço de Jared Leto, é o tratamento de choque de Sara Goldfarb de Ellen Burstyn o momento mais assustador e perturbado.

O que é assustador?

Enquanto testemunhamos Ellen interpretar a mãe de um filho viciado, nos dão um mundo onde tudo está certo até dar errado. É uma transição lenta de uma mulher ingênua tomando pílulas de dieta experimentais, até ela recebendo um tratamento de choque para sua demência infligida. Ela só queria se sentir jovem e usar seu vestido vermelho de novo. E ela perde peso, mas também a sanidade. Perder o controle é sempre um conceito apavorante.

Nascido Para Matar, o soldado Leonard se mata

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Atores: Matthew Modine, R. Lee Ermey, Vincent D'Onofrio

Diretor: Stanley Kubrick

São os olhos. Desde o começo da cena, os espectadores sabem que o soldado Leonard chegou no limite. Ele é apresentado como o cadete mais fora de forma durante o treinamento para o Vietnã, e por causa disso ele é o mais perseguido pelo General Hartman (R. Lee Ermey). Bem ao estilo Kubrick, o episódio inteiro se passa num banheiro: Leonard de cueca com um fuzil carregado, e o soldado Joker (Matthew Modine) tentando falar com ele. Uma coisa leva a outra, e vemos Hartman baleado no peito e o sangue do próprio Leonard nos azulejos atrás dele.

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O que é assustador?

É muito triste. O público assiste um cadete antes simpático ficar completamente louco. O ambiente é escuro, frio e silencioso enquanto a câmera raramente tenta distrair da arma nas costas de Leonard. Você sabe o que pode acontecer, e combinando isso com o talento natural de Vincent D'Onofrio para ser assustador, o susto de dois disparos fica pairando até bem depois que o filme acaba.

Carrie, a Estranha, mão saindo do túmulo

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Atrizes: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving

Diretor: Brian De Palma

No final do filme, quando o público tinha certeza que a garota tímida com poderes telecinéticos morreu numa tragédia, as pessoas não esperavam um retorno. Ela não é o Jason ou o Freddy Krueger, ela é uma garota humana com o poder de manipular objetos com a mente; ela não é indestrutível. Então quando a colega de escola enlutada Sue Snell visita o túmulo vandalizado da Carrie, ninguém esperava a mão ensanguentada saído do chão.

O que é assustador?

O público é levado a acreditar que estava seguro aqui. Que precisava se sentir triste pela Carrie ter sofrido bullying até se autodestruir por ser diferente. Mesmo o túmulo é uma ilusão de segurança. Ninguém está preparado pra esse susto, e a cena funciona muito bem.

Pânico, “Você gosta de filmes de terror?”

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Atores: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette

Diretor: Wes Craven

A base desse filme é a ideia de que os perseguidos e as vítimas sabem exatamente o tipo de situação em que se encontram — no seu próprio filme de terror. Mas Pânico não começa assim. O telefone toca e a vítima Drew Barrymore atende logo antes de encerrar a noite comendo pipoca e assistindo um filme de terror. Quando o interlocutor misterioso responde, indo de um tom simpático para uma sequência sangrenta; ele está vendo o que ela está fazendo. Palavras são trocadas e o público testemunha um esfaqueamento brutal.

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O que é assustador?

Você tem que considerar a época aqui. Isso foi em 1996 e celulares não eram uma coisa onipresente. Isso significava que 80% das vezes você não sabia quem estava do outro lado da linha. A ideia de um assassino encontrar seu número e te provocar pelo telefone é um medo muito pé no chão que o público já tinha desde aquela fase narrativa de “Ele está na sua casa”. Essa cena contemporizou esse medo.

Um Lugar Silencioso, o prego

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Atores: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds

Diretor: John Krasinski

Esse é o cenário: o mundo foi dominado por criaturas assassinas que localizam as vítimas através do som. Quando em silêncio, você está seguro, mas o menor barulho pode significar morte instantânea. Quando uma família encontra e modifica uma fazenda para não fazer som, uma grávida interpretada por Emily Blunt acidentalmente pisa descalça num prego enquanto uma das criaturas tenta localizar seu possível grito.

O que é assustador?

Dá pra se identificar. Como uma pessoa que consegue usar os pés para se locomover, entendemos o que é ter um prego enfiado no pé. Acrescente a isso a noção de que a Emily está grávida e vulnerável, então é uma dor que os espectadores podem facilmente imaginar em si mesmos no momento. Isso muda a chave do filme do fantástico para o crível.

[Rec] (2007), o final

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Atores: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Jorge-Yamam Serrano

Diretores: Jaume Balangueró, Paco Plaza

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Esse é outro filme de filmagem encontrada, um gênero que todo mundo adora odiar. Mas essa história espanhola baseada na sobrevivência de uma repórter e investigação de um surto funciona muito bem dentro disso. Quando Angela finalmente entra em contato com a garota possuída que é a causa do surto, uma tomada com uma sobreposição de visão noturna, eles mostram todo o corpo alongado da garota que se transformou numa criatura.

O que é assustador?

O fato de que o público já saber o que vai acontecer, e não vai ser bom. Vemos essa coisa perturbadora, e o momento em que ela vê as lentes, as coisas vão espiralando até que a vida de Angela é arrancada para o desconhecido.

Pinóquio, transformação em burro

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Atores: Dickie Jones, Christian Rub, Mel Blanc

Diretores: Ben Sharpsteen Hamilton Luske, diretores da sequência Bill Roberts, Norman Ferguson, Jack Kinney, Wilfred Jackson T. He

Tem muita coisa chocante nesse filme infantil da década de 1940, mas é a sequência da transformação em burro, com um dos amigos, Lampwick, da ilha do prazer do Pinóquio, que realmente traumatiza. Toda criança que foi enganada para assistir esse filme de terror disfarçado num pacote Disney saiu com uma marca pra vida inteira.

O que é assustador?

Só imagine seu melhor amigo gritando de agonia enquanto a humanidade é arrancada dele. Sei que estou pegando pesado aqui, mas é exatamente isso que acontece. Lampwick lentamente vai sendo transformado, enquanto o público só vê sua silhueta. Braços viram cascos, as costas arqueiam e seu nariz vira um focinho. A última coisa que as crianças ouvem é o menino chamando pela mãe antes de sua voz virar um urro.

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Quando as Luzes se Apagam, a sala

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Atores: Teresa Palmer, Gabriel Bateman, Maria Bello

Diretor: David F. Sandberg

Vamos começar com a noção de um monstro que não pode atacar quando há alguma luz. Sim, tem um curta melhor baseado na ideia, mas o perigo é quase o mesmo. Na cena de abertura, quando dois funcionários do turno da noite veem uma figura no escuro, tem uma série de luzes acendendo e apagando que joga com essa ideia até a primeira vítima fazer isso vezes demais.

O que é assustador?

É o medo natural do escuro. Alguns de nós têm medo do escuro porque ele mascara o desconhecido. E nessa sequência, não vemos um rosto, só uma figura tão visível quanto as coisas que nos assustam em qualquer armário. A cena é de tensão com o perigo do não-familiar. Essa coisa vai atacar? Como ela pode atacar? E por que eles não deixam a porcaria da luz acesa?

Estrada Perdida, homem misterioso

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Atores: Bill Pullman, Patricia Arquette, John Roselius

Diretor: David Lynch

Sempre tem um bicho-papão alegórico nos filmes do David Lynch, mas é um encontro bizarro que mistura o assustador e a comédia que mostra melhor essa marca do diretor. Numa festa, Fred Medison encontra um homem que diz que eles já se conhecem. Ele tem um sorriso sinistro enquanto a trilha musical de fundo vai diminuindo. Quando ele pergunta onde eles se conheceram, nosso homem misterioso diz que eles se conheceram na casa dele, que é onde eles estão nesse momento. Fred olha confuso enquanto ouve o homem misterioso atender o telefone da residência dele.

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O que é assustador?

Ninguém gosta do inexplicado. Alguns dizem que gostam, mas tem sempre algo profundamente perturbador num homem sem nome com um sorriso permanente que diz que sabe tudo sobre você. É por isso que damos nomes e rótulos, porque há conforto na identificação. Essa cena é assustadora porque David Lynch nunca nos dá a oportunidade de entender o que está acontecendo, e isso em si já é profundamente desagradável.

O Exorcista III, enfermeira

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Atores: George C. Scott, Ed Flanders, Brad Dourif

Diretor: William Peter Blatty

A gente sabe o que rola aqui, possessão demoníaca e tudo mais. Mas no terceiro filme, a ideia de demônios em garotinhas aparece mais nessa cena. O susto começa com um segurança no fundo do corredor se despedindo. Nada estranho aqui. Claro que uma enfermeira solitária entrando e saindo dos quartos não tem nada de suspeito. A câmera estática o tempo todo dá ao espectador a garantia de que uma cena nova está prestes a começar. A enfermeira cruza o corredor uma última vez mas uma figura fantasmagórica corre atrás dela.

O que é assustador?

O repentino. Câmera estática mostrando ação de longe não é algo emocionante. Ela engana os olhos para encontrar segurança numa sequência de preenchimento; esse momento em que nada acontece fora ações normais. Então quando a enfermeira sai do enquadramento, seguida por uma figura apontando uma arma para o pescoço dela, a transição imediata para uma estátua sem cabeça conta tudo que precisamos saber com um sobressalto. A cena respeita nossa imaginação para preencher as lacunas.

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A Bruxa de Blair, o canto

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Atores: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard

Diretores: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez

O filme de filmagem encontrada que começou tudo. A Bruxa de Blair fez uma campanha de marketing na época que convenceu uma galera de que os eventos por trás do filme, envolvendo diretores procurando por uma bruxa, eram verdade. Mas apesar de tudo, é a tomada final do Michael parado num canto, virado de costas para a Heather, que é marcante até hoje.

O que é assustador?

Nunca recebemos respostas. Minuto após minuto testemunhamos coisas ruins acontecendo com o grupo. É um terror psicológico que sugere algo de sobrenatural. Tem sempre algo perturbador sobre uma pessoa familiar agindo anormalmente. Tudo que Heather associa com o Michael encarando o canto parece morto e artificial. São alguns segundos antes de ouvirmos o grito antes do silêncio. Tudo mais fica por conta da nossa imaginação.

Eraserhead, cena do jantar

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Atores: Jack Nance, Charlotte Stewart, Allen Joseph

Diretor: David Lynch

Já falei do David Lynch nesta lista, então agora todo mundo já deve saber do que ele é capaz. Não sei como descrever Eraserhead de um jeito que faça sentido. Só saiba que Henry tem uma namorada brava, e nessa cena ele janta com os pais dela. Em um espectro, você tem o pai da namorada sorrindo como um psicopata, e aí você tem o frango. Um frango assado que se torna animado e começa a soltar uma meleca preta. Enquanto isso, a mãe está gemendo para o teto com a língua pra fora sei lá por quê…

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O que é assustador?

A ideia de que como espectador, você não tem a menor noção do que está acontecendo. David Lynch sabe como fazer você sentir que está ficando louco. Nada faz sentido e pessoas aparentemente normais que testemunham esses atos agem como se fosse a visão mais normal do mundo. A sequência inteira foi filmada em preto e branco, e cada elemento nojento é enfiado na câmera de um jeito que te faz querer desviar os olhos.

Hereditário, cabeça

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Atores: Toni Collette, Milly Shapiro, Gabriel Byrne, Alex Wolff

Diretor: Ari Aster

Para um filme que gira em torno de uma família e uma maldição sobrenatural, essa cena enraizada num acidente é a que entrega mais terror. Logo depois que a irmã mais nova Charlie percebe que não consegue respirar, o irmão mais velho Peter coloca ela num carro e corre para o hospital. Vendo um animal na estrada, Peter desvia, sem notar a cabeça de Charlie para fora da janela tentando respirar. Quando ele faz a guinada, vemos o poste, a surpresa da Charlie, e ouvimos o som da batida. O que resta é o Peter encarando a câmera, se recusando a olhar para o banco de trás.

O que é assustador?

Você consegue ver o horror no rosto do Peter. Ele está perdido e queria voltar atrás. Ele sabe que sem querer decapitou a irmã. É um sentimento com que todo mundo consegue se identificar, segundos depois que uma desgraça acontece; quando você fica parado na esperança de que é tudo um sonho. Quando a câmera continua focada nos olhos em choque do Peter, é a parte de terror mais honesta e identificável do filme.

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Atores: Daniel Kalluya, Allison Williams, Bradley Whitford

Diretor: Jordan Peele

Para alguns espectadores, a ideia de um afro-americano visitando os pais de sua namorada branca já é tensa. Mas Jordan Peele apresenta ao público um cenário psicológico que joga com nossos medos mais primitivos baseados em raça. Para a maioria, essa família é inocente, não usuários de corpos negros. Quando nosso homem Chris Washington é hipnotizado pela mãe da namorada, a coisa se mostra real.

O que é assustador?

Particularmente de uma perspectiva negra, a escuridão em que Chris entra joga com os medos que os negros têm de uma sociedade que já tratou corpos negros como gado. Mesmo quando não é algo físico, nosso medo de nos tornar escravos de uma doutrina branca pode se tornar psicológico e autoinfligido. Mesmo hoje, a negritude é uma commoditie; do nosso humor à nossa cultura. Essas coisas frequentemente são usadas e abusadas.

O Babadook, cobertas

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Atores: Essie Davis, Noah Wiseman, Daniel Hanshall

Diretora: Jennifer Kent

Nesse filme sobre uma mãe viúva lidando com um monstro sobrenatural à espreita em sua casa, essa sequência é quando a Amelia se esconde embaixo do cobertor enquanto ouve a voz bizarra repetindo uma palavra. A figura aparece acima, se contorcendo antes de entrar na garganta dela.

O que é assustador?

O som. Começa com um barulho que o público entende que não é humano, mas sabendo disso, precisamos de uma identidade para nos sentir seguros. Como Amelia, não conseguimos ver o Babadook, então imaginamos dentes horríveis, olhos demoníacos, até que vemos o rosto branco inesperado com olhos vazios avançando pra câmera.

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Senhor dos Anéis, o rosto de demônio

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Atores: Elijah Wood, Ian McKellen, Orlando Bloom

Diretor: Peter Jackson

É um truque barato, mas estamos falando de Senhor dos Anéis aqui. O público não esperava o velho e doce Bilbo com uma cara demoníaca, mas precisando de um gosto do anel do Sam, Bilbo mostra quão feio um hobbit pode se tornar na busca pelo poder do anel.

O que é assustador?

Num instante, o rosto do Bilbo vai de agradável para demoníaco. É um susto direto que ninguém esperava.

Caché, suicídio

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Atores: Daniel Auteuil, Juliette Binoche, Maurice Bénichou

Diretor: Michael Haneke

Numa história sobre um casal que recebe uma série de vídeos de segurança agonizantes anonimamente, chegamos nesse momento: na caça para saber quem está mandando as fitas para a família, o marido George interroga um amigo próximo chamado Majid, que pode ser o responsável. A conversa parece amigável antes de Majid cortar a própria garganta diante de um George chocado.

O que é assustador?

Tem algo sobre se render que é muito fácil de se identificar. As pessoas infelizmente se rendem todo dia, e somos capazes disso nas circunstâncias certas. O público não espera que isso ocorra, mas quando acontece, é uma autodestruição visual sem nenhum efeito sonoro ou mudança do ângulo da câmera; é só um suicídio como qualquer outro que acontece sem significado.

Invocação do Mal 2, a pintura do Valak

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Atores: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe

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Diretor: James Wan

Quando os investigadores do paranormal Ed e Lorraine deixam as férias para lidar com uma nova assombração, Lorraine encara um dos seus casos mais difíceis. A sequência começa com Lorraine sendo atraída para um quarto escuro. Ela vê a ilustração de uma freira demoníaca que parece viva. A tensão vai aumentando lentamente, com sons à espreita em todo canto. O rangido no chão de madeira, um arranhão na janela, mas quando dedos aparecem por trás do quadro, o ataque vem de repente direto na sua cara.

O que é assustador?

A antecipação combinada com a confusão. É difícil dizer o que está prestes a acontecer quando as pistas vêm de todo lado. O público fica se sentido desconfortável, pronto para pular mas não completamente. É uma mistura perfeita.

Corrente do Mal, o cara alto

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Atores: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi

Diretor: David Robert Mitchell

O monstro aqui é uma coisa que pode tomar muitas formas e nunca para de perseguir, por mais lento que seja. O público assiste a coisa passando de um homem nu num telhado para um garoto magricelo, uma velha num avental de hospital, e é inesperado quando vemos uma figura de uns 2 metros continuar a caçada. O gigante aparece de repente na tela, mas o enquadramento lento combinado com o olhar de boneca pega todo mundo desprevenido.

O que é assustador?

O choque do que é normal mas mesmo assim não é. Não tem nada de estranhamente louco num cara de 2 metros de altura, é tipo um jogador de basquete. Mas é uma mudança drástica dos enquadramentos normais que torna essa sequência surpreendente e enervante.

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Atores: Nicole Kidman, Christopher Eccleston, Fionnula Flanagan

Diretor: Alejandro Amenábar

Crianças podem ser coisinhas assustadoras, e um filme que sabe jogar com essa sensação pode ser realmente apavorante. Num dos melhores sustos, Nicole Kidman está investigando a filha que parece brincar sob um véu. Quando ela pergunta para a figura estranha quem ela é, vemos uma rosto velho balançando com uma voz infantil familiar, “Sou sua filha!”

O que é assustador?

Quando você vê um rosto diferente mas ouve uma voz familiar. Nossas vozes são um tipo de identidade, e ver uma personagem mudar de forma tão drástica é um tipo de confusão desconfortável que dá força ao susto nessa sequência.

Madrugada dos Mortos (2004), fim da paz

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Atores: Sarah Polley, Ving Rhames, Mekhi Phifer

Diretor: Zack Snyder

Honestamente, é difícil pacas fazer zumbis assustadores nessa altura do campeonato. Mas quando Zack Snyder fez o remake de Despertar dos Mortos de George Romero, ele fez os zumbis serem rápidos, enlouquecidos e jovens. Na cena de abertura, vemos uma tomada do casal nas primeiras horas da manhã. Quando o namorado nota a filha dos vizinhos no corredor, ele vai investigar e vê que tem um pedaço de carne faltando no maxilar dela, e corre para tentar ajudar. O público, claro, sabe que a partir daí é ladeira abaixo: a menina morde o cara, a música acelera, o cara tenta morder a namorada, e assim por diante.

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O que é assustador?

O caos dos movimentos: em oito minutos, descobrimos quão rápido as coisas podem dar errado quando os zumbis são um pouco mais ágeis (mas Extermínio fez isso primeiro). Da música na batida do coração, o uso excelente de tomadas amplas até o design de som mostrando morte atrás de morte numa mania ensandecida, a gente quase não tem um momento pra exalar nesse filme.

Cidade dos Sonhos, cena do restaurante

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Atores: Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux

Diretor: David Lynch

Se ainda não falei que David Lynch é um puto perturbado, bom, ele é. Para entender o medo nessa cena você tem que aceitar o enredo: depois de um acidente na Mulholland Drive, uma mulher fica com amnésia, e até o final do filme ela procura respostas entre uma LA que pode ser um sonho ou realidade.

Sabendo disso, a conversa no restaurante entre dois homens funciona em dois níveis. Começando com o que parece desconfortável nesse contexto; um homem fala sobre um sonho e um pesadelo enquanto parece que eles estão num sonho e num pesadelo. O restaurante em si estava num sonho, e ele descreve isso para o homem, sua cara é assustada mas histérica. Uma vez que um homem se descreve como o orquestrador de tudo, pulamos para uma cena num beco onde o público encontra um estranho com o rosto preto.

O que é assustador?

São as perguntas que se infiltram na sua mente enquanto você absorve a sequência. Você fica imaginado se é mesmo um sonho, e se é, quanto precisa acontecer para se tornar um pesadelo. Enquanto a câmera passa entre os rosto, um claramente aterrorizado e o outro confuso, o público é introduzido a sugestões de uma alucinação; uma mulher deitada para dormir. As tomadas passam pelas expressões de Patrick Fischer enquanto uma veia na testa dele aparece e ele sua de nervoso. E quando pedem que ele confronte as figuras desconhecidas de seus sonhos, de repente o rosto coberto com sujeita aparece na tela. Essa cena acontece 15 minutos depois do começo e carrega um tom drasticamente mais leve, o que torna essa sequência ridiculamente efetiva.

Império dos Sonhos, fantasma

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Atores: Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux

Diretor: David Lynch

Esse é outro caso de um filme do David Lynch que nem vou tentar explicar o enredo. Só saiba que a sequência é de desorientação. Na sequência final de um dos filmes mais experimentais de Lynch até hoje, Laura Dern, que interpreta uma aspirante a atriz, é abordada por um homem chamado de “o fantasma” num corredor. Por razões que exigem assistir o filme mesmo, ela atira na cabeça do homem, só para ver uma versão distorcida dela gritando do rosto dele. É perturbador e completamente abrupto em sua estranheza.

O que é assustador?

É o trabalho tosco de copiar e colar uma imagem que dá o impacto do susto. Lynch tem seu jeitinho de introduzir olhos a imagens do não-familiar que te deixam se sentindo desconfortável com a nossa realidade. Você tenta compreender essa tomada de uma cara aumentada da Laura Dern que depois começa a sangrar, mas sua mente não consegue assimilar nada. Novamente, você fica com as perguntas.

A Cela, entra o rei

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Atores: Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio

Diretor: Tarsem Singh

A Cela te pede para imaginar uma interface estilo Matrix que entra na mente dos pacientes. Com esse cenário, temos Lopez que interpreta uma terapeuta que precisa mergulhar na cabeça e na imaginação doente de um serial killer para encontrar pistas sobre o paradeiro de sua última vítima.

O que é assustador?

As influências artísticas de Damien Hirst e H.R. Giger que têm uma afinidade por mostrar o exterior mundano. Você imagina que a mente de um serial killer seja suja e sombria, mas há um caos pristino na mente de Carl Stargher interpretado por Vince Vaughn, e para cada níveis mais profundo que Lopez vai, as coisas ficam mais estranhas e inesperadas. Com uma trilha sonora que compartilha a mesma estranheza alienígena, é o momento em que Lopez vê o mestre desse mundo dizendo numa voz demoníaca “de onde você veio!” que é o mais perturbador.

O Cemitério Maldito, todas as cenas com a Zelda

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Atores: Dale Midkiff, Denise Crosby, Fred Gwynne

Diretora: Mary Lambert

É a velha história, o Dr. Louis se muda com a família para uma casa perto de um antigo cemitério. Algumas coisas ruins acontecem e o filho de dois anos dele é atropelado por um caminhão meses depois. Quando Louis tem a ideia de trazer seu filho de volta através de um ritual antigo, as coisas saem do controle de vez. Mas talvez o momento mais assustador de Cemitério Maldito seja com a irmão da esposa Rachel, Zelda. Não tem nada a ver com um susto intencional porque sabemos que ela é doente e deformada do jeito menos politicamente correto dos anos 80, mas tem a ver com o fato de que ela é interpretada por um homem (Andrew Hubastsek).

O que é assustador?

O jeito selvagem e ensandecido como Andrew Hubatsek interpreta Zelda. Ela é imprevisível, ao ponto de girar a cabeça quando está sendo alimentada antes de engasgar até a morte. Depois tem uma sequência da Zelda agachada antes de avançar para a câmera com um sorriso sinistro no rosto.

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