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Sexta-feira 13 Vermelha no Rio de Janeiro

Durante o ato, o João Pedro Stédile, do MST, nos deu a sua interpretação dos fatos.

"O povo só participa da vida política do país quando ele se mobiliza, quando ele vai pra praça, pra rua. O povo sentado na frente da televisão é mera massa de manobra, ele só vira cidadão, aonde ele pode opinar e participar quando ele vai pra rua, você que está e casa se preparem, porque este ano será um ano de grandes mobilizações, pois o Brasil vive uma crise política, e essa crise só será resolvida se o povo for pras ruas." Pesquei esse depoimento do João Pedro Stédile, no final do ato em defesa da Petrobrás hoje no Rio de Janeiro.A manifestação, que aconteceu também em outros 18 estados, teve entre 1 mil e 1,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, que escalou 400 PMs para a segurança do protesto. A CUT estima que cerca de 5 mil pessoas participaram do ato.

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A versão carioca do ato se concentrou na Cinelândia, das 15h até umas 17h30, quando saiu rumo à sede da Petrobrás, não muito longe dali. A cor vermelha dominava a praça, tomada de legiões de militantes uniformizados, petroleiros, sindicalistas de várias categorias, sem-terra e PTistas em geral.

Estava tudo muito bem organizado, com carros de som, banheiros químicos e distribuição de água pra galera.

Um sem-fim de militantes se revezava no carro de som, o discurso era quase sempre o mesmo, "o petróleo é nosso", "um salve pra Venezuela" além de óbvios escrachos à direita e seu ato de domingo , à dita mídia golpista, e eventuais odes às mulheres, lembrando que estamos no mês delas.

Estava um dia quente mas com aquela chuvinha pentelha que fica indo e voltando, mesmo assim me surpreendi com o número de pessoas no ato, bem mais do que qualquer ato do Passe Livre que eu tenha ido este ano, mas ainda menos que a Marcha da Maconha do ano passado.

Tinha vários grupinhos batucando e curtindo uma cervejinha no maior alto astral, afinal era sexta-feira.

Tinham também representantes do movimento "Impitiman é meuzovo" e sua versão feminista.

Teve também umas intervenções urbanas.

Finalmente a galera saiu em marcha rumo à sede da Petrobrás, a poucos metros dali, em frente à sede do BNDES. Ambos os prédios estavam fechados e contavam com reforço policial.

O Stédile e a Jandira Feghali ficaram à frente da faixa que puxava o ato, caminhando bem devagar pra imprensa poder clicá-los.

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Essa militante sapeca ai entrou na frente de uns trinta fotógrafos pra fazer essa selfie.

Na frente da sede o pessoal do Levante Popular da Juventude estava fazendo um funk com batucada bem responsa — eles formavam único grupo que não estava de vermelho. Realmente não esperava ver nenhum anarquista na jogada, mas e o RUA? O PSOL? O PSTU e toda essa galera? Será que eles vão colar no domingo?

Tinha também uma torcedora do América, o time ruim favorito de todo mundo.

O bonde da faixa da frente pousou pra mais fotos.

A ideia era abraçar o prédio e cantar o hino nacional, mas quase todo mundo ficou na passarela que dá acesso ao prédio e embaixo dela, num determinado momento a passarela começou a balançar legal. Eu não saco muito de engenharia, mas fiquei viajando que se aquela porra caísse não ia sobrar ninguém pra dar a notícia do desastre.

Daí depois de cantar o hino o ato começou a se dispensar, e eu e mais dois colegas conseguimos enquadrar o Stédile, que tentou nos explicar o que estava acontecendo ali. "Uma burguesia brasileiro vende-pátria, tucanos, DEM, e Bolsonaros da vida se aproveitaram que meia dúzia de gerentes oportunistas roubaram a Petrobrás e criaram um clima de crise na empresa para tentar mudar a lei da partilha, que foi uma conquista do governo do Lula. O senador Aloysio Nunes entrou com um projeto para mudar a lei de partilha, portanto impedindo que os benefícios do pré-sal venham para o povo, e o senador José Serra foi mais explícito ainda e disse que a empresa tem de ser rateada e privatizada, então estamos aqui em nome do povo brasileiro para dizer para essa direita vende pátrias, puxa saco dos americanos, não se atrevam a mexer nessa empresa, porque essa empresa tem dono, e o dono é o povo brasileiro, o povo brasileiro vai defende-los nas ruas aconteça o que acontecer.

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Viemos aqui para dizer que desde que aqui chegou o primeiro capitalista europeu, teve corrupção, porque a burguesia ela sempre quer os cargos públicos, para mamar na teta dos estados. Qual a solução para a corrupção? Não resolve com CPI, botando gente na cadeia, o que resolve a corrupção nesse país é uma reforma política que mude as regras do jogo e que devolva ao povo brasileiro o direito dele escolher sem influência do poder econômico. Essa reforma política tem que começar pela proibição do financiamento privado das campanhas. Todo mundo sabe as dez grandes empresas do Brasil financiaram setenta por cento dos deputados. Depois nós temos de convocar uma assembleia nacional constituinte exclusiva que funcione ao lado do Congresso fazendo uma reforma política que o povo brasileiro precisa.

O Brasil elegeu o companheiro Lula duas vezes e elegeu agora a Dilma duas vezes, então o povo tentou conquistar mudanças através do Executivo, porem a direita muito esperta elegeu a maioria do Congresso, usa a influência que tem nos meios de comunicação e no Judiciário, e hoje os meios de comunicação do Brasil monopolizados por seis ou sete grupos são a principal arma utilizada contra os interesses do povo, porque esses meios de comunicação distorcem a verdade, e levam ao povo uma coisa que não condiz com a realidade, então nós estamos defendendo que junto com a reforma política. É preciso que se aprove uma reforma dos meios de comunicação do Brasil."

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Eram umas sete horas, e mesmo sob a chuva cada vez mais pentelha a programação continuava normalmente, com um palquinho armado na Cinelândia e um DJ colocando de funk soul à Mamonas Assassinas só no vinil.

Enquanto grupos de militantes aguardavam seus ônibus para leva-los de volta (ouvi chamarem um grupo de São José dos Campos), mesmo sob a chuva, havia uns doidões curtindo um montão tipo esse aí.

E assim terminou essa sexta-feira treze vermelha no Rio de Janeiro. Categorias uniformizadas, organização impecável e mais discursos no carro de som do que palavras de ordem na muvuca. De certa forma bem previsível, o preocupante, e imprevisível, é o que vai rolar no domingo. Estarei acompanhando.