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Orion e a Cooptação da Pixação

Obra do artista plástico brilha no prédio da Bienal e reacende a discussão sobre a institucionalização da pixação.

Para os grafiteiros, ele é artista plástico. Para os artistas conceituais, ele é grafiteiro. O fato é que ao longo de mais de 20 anos de atuação artística, Alexandre Orion, 35, sempre transitou com sua arte pelos dois mundos, o de dentro e o de fora. Trabalhando em cima da tríplice "técnica, local e discurso", depois de projetos como Metabiótica, Ossário, Polugrafias, Apropriada, entre outros, atualmente Orion dedica-se ao Lampoonist, uma série de obras luminosas que mesclam a técnica publicitária à estética do graffiti e da pixação.

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Para a edição 2014 da SP-Arte, principal feira comercial de arte de São Paulo, que acontece de 03 a 06 de abril no Parque do Ibirapuera, o artista e a galeria Inox prepararam um estande conceitual que leva a pixação mais uma vez para dentro do prédio da Bienal.

A VICE passou por lá durante a montagem da obra para trocar uma ideia com o Alexandre Orion:

VICE: Como surgiu a ideia da transformar o estande da SP-Arte numa parada mais conceitual?
Orion: A vontade foi recíproca, minha e da galeria Inox, de fazer um estande bastante conceitual e solo. A gente já tinha feito a exposição do projeto Lampoonist no ano passado, na galeria, com obras diferentes, e desde então rolava essa intenção de fazer um estande solo na SP-Arte, de usar todo o espaço para apresentar apenas duas obras.

Na ocasião da exposição na galeria, a obra trazia outra mensagem. Qual é a intenção da frase de agora?
A gente está dentro do prédio da Bienal, um dos espaços mais importantes para o que aconteceu com a pixação nos últimos anos. Foi esse espaço que os caras invadiram na Bienal do Vazio e foi esse espaço que também os convidou depois para participar. O que está escrito aqui é "Violento Fora, Dentro Decora", e é uma provocação sobre a linha tênue que separa o marginal do institucional. Todos os trabalhos dessa série misturam a técnica institucional, da sinalização urbana das logo marcas, com a linguagem nativa da rua. Eu não faço nenhuma concessão estética, o que você vê aqui poderia ver tranquilamente pixado na rua, a Kitsch lá dentro poderia estar pintada numa porta de aço, mas a linguagem se transforma à medida que uso uma técnica institucional, por isso o neon e o back light.

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Como chegou nesse texto: "Violento Fora, Dentro Decora"?
Eu considerei o prédio da Bienal como espaço de transformação daquilo que a gente conhecia como pixação, que vai ganhando outra medida e vai cruzando essa linha tênue entre o marginal e o institucional. Na instalação que fiz na galeria, a frase era "Observador Contemple Bem Quase Tudo é Beleza Rupestre", que tinha um tom muito mais de homenagem do que de provocação. Aqui, passei por várias questões e, considerando que estaríamos dentro do prédio da Bienal, achei importante falar desse fora e desse dentro. Ao mesmo tempo, estou tratando do mercado de arte e também de marginalidade e de urbanidade, das coisas que rolam lá fora. O dentro e o fora é essa linha tênue. A pixação estava colocada como marginal enquanto estava fora, mas quando ela entrou por força de transgressão, cruzou essa linha. E aí ou ela era aceita e convidada, ou era aceita e convidada, porque odiada ela já era.

Por que achou o momento propício para dar essa provocada na pixação?
Isso é o novo "Seja Marginal, Seja Herói", essa é a onda. Você tem uma linha que separa essas duas coisas e, em algum momento, isso vai chegar. Você pode ser marginal por muito tempo, mas em algum ponto isso vai mudar. Aconteceu com o punk, com o skate, com o graffiti, com todos os movimentos que eram marginalizados. E a pixação está exatamente nessa linha tênue, nesse momento de transição, o que é uma construção da pixação, e essa linha já foi cruzada de alguma maneira, mas ainda está aí, como se fosse uma corda bamba, só que esse é um caminho sem volta, então o momento é de provocar para falar dessa questão.

Está preocupado com o que os pixadores vão achar?
A pixação é um universo muito grande, então, você não vai dialogar com todo mundo, mas aqui eu faço, em primeira instância, uma homenagem à pixação, na estética. Já na questão técnica, estou provocando uma série de universos, estou falando tanto da micropolítica das artes quanto da micropolítica da pixação, estou falando tanto da macropolítica da rua como da macropolítica do mercado de arte. Todas essas questões estão aqui.

O Lampoonist vai para as ruas?
A intenção desde o início é que esse projeto vá para a rua, é que a escala para trabalhar com isso lá fora é muito monumental. É como se fosse um fragmento do que eu gostaria de fazer na rua. Não acho que o discurso seja menos potente porque está num espaço indoor, mas acho que na rua o discurso sempre fala mais. Só que, de qualquer maneira, meus outros projetos eram muito mais de uma política aberta, de falar com a massa de uma maneira geral, e esse projeto é muito da micropolítica, ele fala muito do universo da rua e da linguagem de quem opera nela. Tanto é que, durante o processo de montagem, aconteceu uma parada interessante: todos os montadores olhavam, reconheciam imediatamente qual era a linguagem e liam sem dificuldade, e é interessante essa provocação, porque a arte conceitual é uma linguagem fechada para a elite, mas aqui acontece o contrário.

Você está sempre transitando entre o dentro e o fora. Qual você prefere?
Eu prefiro o fora. Sempre preferi o fora porque o dentro tem uma "cagação de regra". O dentro tem um comportamental, o fora tem todos.