Wendell Lira quer jogar 'FIFA' contra o Neymar
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Wendell Lira quer jogar 'FIFA' contra o Neymar

Menos de um ano depois de largar o futebol pelo videogame, brasileiro quer disputar contra os melhores do mundo, dentro e fora dos gramados.

Em um auditório cheio de nomes famosos do futebol em Zurique, na Suíça, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar observavam com muita curiosidade um pequeno goiano chamado Wendell Lira, que tinha acabado de completar 27 anos, subir ao palco do Prêmio Puskás, dado ao autor do melhor gol do ano anterior. O prêmio de 2016 acabou nas mãos do jogador depois de uma enorme campanha na internet que tinha como objetivo eternizar um gol de bicicleta de Wendell, marcado quando ele ainda estrelava no Goianésia durante o Campeonato Goiano de 2015.

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Mas depois de levar o Puskás, o momento que mais mudaria sua vida dali pra frente na verdade aconteceria alguns minutos depois, jogando videogame.

Naquela mesma noite, o jogador foi convidado a participar de um amistoso contra o então campeão mundial de FIFA, o saudita Abdulaziz Alshehri, que qualquer um acreditava que ganharia na suavidade. Afinal, quem era Wendell Lira, se comparado ao campeão do mundo do game de futebol da EA?

Antes de Wendell, o convite tinha sido feito para Messi e Cristiano Ronaldo, que rejeitaram. O goiano imaginava que levaria uma goleada, mas resolveu jogar sério, usando tudo o que tinha aprendido durante anos jogando FIFA. O resultado foi mais surpreendente do que até mesmo o seu prêmio Puskás: Wendell meteu 6x1 contra o campeão.

A partida chamou a atenção dos organizadores do evento, que convidaram informalmente o jogador para participar do torneio mundial daquele ano, em Nova York. Mas a experiência deixou uma marca ainda mais profunda no próprio Wendell que, depois do maior prêmio na sua carreira, decidiu simplesmente abandonar o futebol real pelo virtual. De jogador-promessa-que-nunca-se-concretizou, Wendell virou youtuber de FIFA.

Imagem: Reprodução

Um ano e meio depois, os feitos de Wendell continuam sendo históricos; com menos de 200 dias de uma mudança completa de carreira, o goiano se classificou para dois campeonatos mundiais, ficou no Top 20 do servidor das Américas no fim da temporada de 2016, e até mesmo atropelou outros grandes jogadores internacionais de FIFA – incluindo o alemão Timox, que tomou um dolorido 7x1 de Wendell (reconquistando a honra de todos os brasileiros depois da tenebrosa goleada contra a Seleção na última Copa).

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"Nunca pensei que ganharia de sete", disse um humildão Wendell sobre a sua vitória contra o alemão. "Então acabei falando muito sobre o 7x1 [durante a partida], mas a minha intenção nunca foi menosprezar ou ficar jogando na cara. Quem sabe no futuro a gente não faz um desafio presencial?"

Mal começou e Wendell já está num momento alto da carreira de jogador de FIFA – mesmo com alguns gols contra da vida. Depois da classificação pra etapa regional do Mundial de FIFA sediado em Vancouver, no Canadá, Wendell não conseguiu o visto canadense a tempo e acabou ficando de fora da competição.

Com histórias futebolísticas para contar pro resto da vida, Wendell veio de zap e conversou comigo sobre a sua mudança drástica de carreira, os jogadores famosos com quem gostaria de duelar no FIFA e como, apesar dos entraves, agora está se preparando para outro mundial, o FIFA Interactive World Cup.

Imagem: Eduardo Deconto/GloboEsporte.com

VICE: Você começou a jogar videogame e foi pro futebol, ou foi pro futebol e depois descobriu os games?
Wendell: Na verdade eu sempre tentei conciliar futebol com videogame. Não comecei primeiro no futebol, eu comecei no videogame primeiro e depois fui pro futebol, mas pra mim sempre os dois caminhavam juntos, porque eram coisas pelas quais sempre fui apaixonado. Então, acabava que no tempo livre do futebol eu conciliava com o videogame, e desde pequeno eu já jogava.

Qual foi o primeiro game de futebol que você jogou?
A primeira vez que joguei futebol num videogame foi com Super Star Soccer, no Super Nintendo. Foi ali que eu comecei a gostar mesmo de jogar um game de futebol. Era muito bom, né? Naquela época, em que a gente era criança, já achava que o jogo era quase perfeito e, na verdade, era só uns bonequinhos ali. Mas era fascinante poder jogar e sentir na pele como era ser jogador.

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Como era a adolescência jogando games de futebol? Nessa época você gostava mais do esporte ou do videogame?
Sempre conciliei futebol com videogame, nunca larguei o videogame pra jogar futebol e nem larguei o futebol pra jogar videogame. Sempre, sempre eles estiveram caminhando lado a lado, porque um não atrapalha o outro. Quando eu estava descansando, eu estava jogando, então não atrapalhava em nada. Pra mim era muito prazeroso, porque quando a gente estava dentro de campo, queria fazer igual no videogame, fazer uns gols bonitos. Assim a gente ia brincando.

Qual foi a primeira edição de FIFA que jogou?
O primeiro que joguei foi o FIFA 14. Um amigo meu me chamou na casa dele pra jogar, eu sempre joguei PES, mas ele me chamou pra jogar FIFA e eu gostei, porque achei mais parecido com o mundo real, achei mais dinâmico, mais difícil também. Aí eu me apaixonei, falei que era aquele jogo mesmo que eu ia jogar e, infelizmente, não ia jogar mais PES, não (risos).

Qual é o seu diferencial no FIFA? O que você faz que ninguém faz?
Eu não acho que tenho um diferencial do restante da galera que compete. A única questão que pode fazer diferença é que eu estou mais acostumado à pressão. Eu não sinto tanto. O pessoal, normalmente, quando toma um gol ou dois, acaba colocando o time tudo lá pra frente, marcando errado. E eu acabo marcando sempre do mesmo jeito, porque sempre fui acostumado com pressão, com decisões, então isso pode me ajudar na hora de jogar.

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Você acredita que, por ter sido jogador profissional, você veja o jogo de um jeito diferente?
Acho que eu vejo o jogo da maneira como ele é. Como fui jogador, sei fazer tabelinha, sei qual é a jogada que provavelmente o cara vai tentar fazer, então acabo antecipando a jogada do pessoal. Mas a maioria do pessoal já joga assim. No videogame, é mais questão de repetição e estratégia. Quando você aprende um monte de estratégia pro jogo, ou é tocar muita bola, ou aprender a lançar muito, você acaba aprendendo o seu estilo de jogo e se destaca do resto da galera.

Imagem: Reprodução

Outro brasileiro ganhador do Puskás foi o Neymar, em 2011. Já jogou FIFA contra ele?
Sim, o Neymar é outro ganhador do Puskás e fico feliz de ter ganho do lado dele, por sermos os únicos brasileiros. Nunca joguei contra ele, espero um dia jogar, mas tenho certeza que tudo acontece na hora certa e, se eu continuar fazendo o meu trabalho bem feito, quem sabe um dia a gente acaba jogando.

No palco do prêmio Puskás, você disse que conhecia todos os outros indicados através do videogame. Você acha que hoje as pessoas conhecem mais futebol pelo videogame do que pela TV?
Acho que sim. A gente acaba conhecendo mais a galera por conta do videogame, porque muita gente não consegue assistir o campeonato italiano, espanhol, francês, e no videogame você conhece esses vários jogadores que tem pelo mundo. Só mais tarde que conhece pela televisão. Então, esse primeiro contato acontece pelo videogame.

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Como foi o primeiro convite para virar jogador de FIFA?
Quando estava encerrando a minha carreira [no futebol], já estava pensando em ser youtuber. No meu modo de ver, acabei aceitando uma proposta que me daria uma carreira nova, de mais de 10 anos, enquanto no futebol eu teria mais dois ou três anos, só. Por isso acabei optando por ser jogador de videogame, poder tentar ensinar um pouco do que eu sei jogo pra galera, e acabou dando certo.

Em menos de um ano depois de mudar de carreira, você já foi pras finais da Liga mundial. Por que acha que se adaptou tão rapidamente?
Na verdade, eu já jogo há bastante tempo, mas antes eu não tinha tempo de me dedicar e mesmo assim conseguia bons resultados. Agora que tenho mais tempo, aliás, muito tempo pra poder treinar, os resultados acabam aparecendo mais rápido. Mas tudo isso é questão de treino e dedicação, e com o tempo, as coisas acontecem.

Wendell no programa 'Zero1'. Imagem: Reprodução/Globo

Como está se preparando pra Final Regional da FIFA Interactive World Cup?
Não estou me preparando muito pro FIWC. Na verdade, eu desanimei um pouco, porque a EA Sports não mandou a documentação necessária a tempo pra que eu pudesse jogar em Vancouver [nas Finais da Segunda Temporada Regional do Mundial de FIFA], que era o meu foco principal, mas vou esperar a confirmação – e se receber a confirmação mesmo da minha classificação –, aí vou me dedicar mais nesse treinamento. Por enquanto estou descansando, cuidando da família e de outras coisas.

O que você planeja fazer depois que ganhar um mundial de FIFA? Para onde ir depois disso?
Não tenho planos, eu vivo um dia após o outro. Não tenho a ganância nem a prepotência de achar que vou chegar lá e ganhar o mundial, não, não. Estava feliz sendo youtuber, fazendo aquilo que eu gosto, e de repente acabei me classificando pra duas competições internacionais. Quem sabe a gente vai lá e até vira campeão? Mas o meu foco não é esse. O meu foco principal é fazer o canal, fazer algo legal pra galera e que todos possam gostar.

Qual jogador (famoso, profissional ou não) você mais gostaria de enfrentar no FIFA?
Tem vários jogadores e pessoas famosas com quem eu gostaria de jogar, mas mais um pessoal ligado ao futebol, como o Neymar, o Kaká, o Lucas, do Paris Saint-Germain, que são pessoas que tem mais cara de YouTube, de jogador de videogame, como o Ronaldinho Gaúcho também. São jogadores que tem mais a ver com a minha carreira, com tudo que eu vivi na vida, com certeza seriam esses caras.

Qual seu game favorito de todos os tempos?
O meu jogo favorito é Super Star Soccer mesmo, porque a gente fazia o cachorro virar juiz (risos) e também foi o primeiro jogo de futebol que acabei jogando. Então, esse jogo ficou muito marcado pra mim. É bom saber que a área de games evoluiu tanto, e tantos anos depois, a gente ainda segue firme jogando futebol no videogame. E isso é bem legal.

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