FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Apedrejaram um Candidato Gay no Amapá

O candidato gay Waldir Pires Bittencourt, de apenas 25 anos, que concorre pela primeira vez na vida a deputado federal pelo PSOL do Amapá, disse ter recebido uma pedrada na cabeça ontem, quando panfletava na capital do Estado, Macapá.

O candidato gay Waldir Pires Bittencourt, de apenas 25 anos, que concorre pela primeira vez na vida a deputado federal pelo PSOL do Amapá, disse ter recebido uma pedrada na cabeça, ontem, quando panfletava na capital do Estado, Macapá. A pedra, segundo ele, foi lançada por alguém de dentro de um carro em movimento, e ele considera que o ataque aconteceu por causa de sua sexualidade.

Waldir, que disse ter se assumido gay há cinco anos, já vinha recebendo ameaças telefônicas. Ele também denunciou a publicação nas redes sociais de um perfil falso (Railam Martins) no qual haveria sido publicada uma foto sua, sob um "x", com os dizeres: "Não vote em um assassino ipocrita [sic] que defende o aborto e casamento de gays". Conversamos com o candidato no dia em que ele esteve no IML (Instituto Médico Legal) para fazer o exame de corpo de delito.

Publicidade

VICE: Como você está depois do ataque?
Waldir Pires Bittencourt: Estou bem, tranquilo. Vim do IML. Foi um corte superficial que sangrou muito. Quando a gente se dispõe a algo, não pode ter medo das pessoas.

Por que te atacaram?
Eu sou o único candidato defendendo a pauta LGBT num Estado desigual e periférico, no qual o incentivo ao ódio é muito grande contra homossexuais, negros e minorias. É muito complicado ter a coragem de trabalhar isso.

Mas o que te faz acreditar que o ataque tenha acontecido em razão da sua homossexualidade?
Eu estava panfletando e um carro passou do nada e me jogou uma pedra. Já vinham me agredindo pelo Facebook.

Você acha que foram as mesmas pessoas?
Eu acho que sim. Eu registrei queixa, fui ao IML, mas este é um Estado onde o Poder Judiciário é muito precário. O laudo do IML demorará ainda 15 dias para sair. Isso é uma barbaridade, uma crueldade. Eu não sou a primeira vítima, não. A travesti Josi foi espancada a pauladas e nada foi feito. A violência contra o gênero LGBT no nosso Estado é uma rotina. Não fui o primeiro nem serei o último enquanto o Estado não encarar essa pauta como prioritária. Sou filiado ao PSOL há 10 anos, militei no movimento estudantil e de direitos humanos do Espírito Santos e me mudei para a Região Norte por uma opção política e para trabalhar pela saúde. Sou enfermeiro concursado, sou servidor público estadual, tenho minha vida financeira equilibrada e sou um candidato programático.

É a primeira vez na vida em que você é agredido por ser gay?
É a primeira vez, mas muitas vezes já fui ofendido. Nós, homossexuais, sofremos desde o seio materno, passando pela escola, universidade, a vida toda.

É mais difícil ser homossexual no Norte do Brasil?
É. Aqui a brutalidade é grande principalmente contra travestis e gays pobres. É algo fora do normal. Tem o caso da travesti Josi, que foi espancada com uma tábua de carne. A impunidade gera violência. A homofobia nos Estados como Pará não para de crescer. No Amapá e no Amazonas é a mesma coisa. O preconceito é algo cotidiano aqui. A violência contra as pessoas LGBT é uma rotina, acontece todos os dias.

Você vai se eleger?
Minha campanha é propositiva e educativa. Alguém precisava levantar essa pauta. Não sei quantos votos terei, o que importa é fazer a diferença, fazer o debate necessário.

Como esse ataque afeta sua campanha?
Continuaremos na rua, mobilizados. Eu não vou me intimidar. Não tenho tempo de ter medo. Tenho de ir na marra, enfrentar tudo o que vem pra cima e pronto.