Um festival ao ritmo do renovado serviço público televisivo
The Kills, ao vivo, com o patrocínio da estação pública. (Todas as fotos pelo autor)

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Opinião

Um festival ao ritmo do renovado serviço público televisivo

Esta foi a minha experiência NOS ALIVE através da RTP. Além dos concertos, não faltou a repórter “desfeita mor”, entrevistas agridoces e um certo humor “crispy”.

Um dos programas na TV que faz com que me roa de inveja (por aspirar a percorrer os mesmos territórios) é Viagem ao Desconhecido, com Anthony Bourdain. Este rock n' roll da cena culinária, onde a história e as tradições locais são pontos altos do menu apresentado - mostrando sítios fora do habitual roteiro turístico -, é absolutamente imperdível.

No entanto, o que me traz aqui desta vez é outro "prato televisivo". Sabendo que só podia aceder ao NOS Alive pela RTP 1, resolvi visionar alguns concertos e escutar os pontos de vista dos representantes e convidados da estação pública.

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Vê também a cobertura FB Live VICE Portugal, na Abertura de Portas do NOS Alive 2017


Não sofri de ansiedade por não ter lá estado – derivado das "centenas de quilómetros" de festivais que já carrego no corpo – o de Algés incluído -, mas reconheço que havia meia dúzia de actuações que não enjeitaria em assistir em modo ao vivo e a cores.

A revisão da matéria ouvida/vista, é feita abaixo em 10 polaroids, ou, se preferires, "tableroids", por terem sido obtidas num tablet. Este texto reporta-se às noites de 6 e 7 de Julho pois, com muita pena minha, não foi possível "sentir" o sábado com os Depeche Mode.

A feliz química entre "John Cullum" e a Cautela da Meia-Noite

Pedro e Filomena, juntos novamente depois da Gala do Sporting

A apresentação ficou bem entregue a Pedro Fernandes, o anfitrião de Brainstorm e um dos esteios da RFM, e a Filomena Cautela, a "condutora" do 5 Para a Meia-Noite. De forma sóbria, esta parelha revelou o que ia acontecendo no recinto, sem nunca perder o domínio do "barco" e com algumas piadas bem metidas.

Também fiquei a saber que Fernandes anda a preparar a sua estreia como cantor. "Uma mistura entre John Mayer e Jamie Cullum", confessou o próprio. Não vem mal ao Mundo em apostar nesta vertente, mas que seja tudo menos "o novo" Ricardo Carriço (se não conheces as suas canções, escusas de magoar os ouvidos). A "Mena" não prometeu nenhuma carreira paralela, mas, no meio da excitação, afirmou que os Foo Fighters são "uma das maiores bandas de rock de sempre". Assim, de repente, lembro-me de uma centena de nomes mais interessante. Pois, não havia necessidade de ser tão exagerada.

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Galopar e "Markar" a enciclopédia do som e do showbiz

Dentro destes dois, há todo um universo NME+Pitchfork+Bravo

Neste género de programas, é obrigatório termos a visão de gente que saiba da poda como ninguém. A empresa RTP, onde se inclui a recomendável Antena 3, tem alguns dos melhores críticos da nossa praça, tendo a escolha recaído nas figuras dos "sabichões" Nuno Galopim e Ana Markl.

O primeiro destacou "a arte" que é construir uma programação de um certame desta dimensão, frisando ser necessário "muitas batatas, muito arroz, muita cenoura", "um pouco de tudo" para agradar aos diversos públicos. Relativamente a este aspecto, é pena que não se tenha entrevistado Artur Peixoto, da Everything is New (promotora que assina o evento) e um dos elementos com papel fundamental na contratação dos artistas, como já foi mencionado aqui.

Sem ter a experiência jornalística de Galopim – que chegou a entrevistar Prince na sua mansão - , Ana Markl (a inconfundível Drª. Ana Correia, nas Manhãs da 3), trouxe, todavia, curiosidades sobre, entre outros, Courtney Love, Kurt Cobain, Dave Grohl, Phoenix e The Weeknd. Até fiquei a saber que houve pessoas a jogarem monopólio e às cartas, enquanto os You Can't Win Charlie Brown actuavam e que, num Verão longínquo, gramou por inteiro com os Rio Grande para ver Beck bem de perto. Noutro tipo de movimento de ancas, o seu companheiro das dissertações musicais, já jogou matrecos com os Depeche Mode. Niiice!

Os "apanhados" da Inês

Ela bem tentou dar as indicações para as piscinas do Sport Algés e Dafundo

Há repórteres no terreno que, de tanto contentamento, escolhem o caminho do histerismo. Não foi o caso. Se na SIC reconheço a naturalidade e requinte em Maria Botelho Moniz, agora foi um prazer ver a Inês Lopes Gonçalves em contacto com o público. A antiga membro da revista Time Out e do Canal Q, esteve na abertura das portas e das correrias desenfreadas para ocupar as primeiras filas; andou pelos camarins dos músicos, em que nos é dito que houve quem tivesse pedido uns legos; entrevistou um "estranja" (ver foto acima) que devia ter ido nadar noutros "Milhões"; vestiu-se à disco sound no stand da RTP, onde era possível viajar no tempo e incorporar excêntricas personagens; e, acima de tudo, armou-se em "desfeita mor".

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Foi engraçado ver a reacção das pesssoas quando ela ia informando, com uma bela peta, que determinado grupo tinha cancelado o concerto. No caso dos The XX, houve respostas como, "um bocadinho de mim ficou agora não festivaleiro", houve quem os quisesse substituir, ou necessitasse de um abraço de conforto e ainda os que admitiram um "heart attack" caso fosse verdade. Quando inventou que os Foo Fighters não iriam ter o seu frontman em palco, um dos interlocutores comentou que seria "um bocado chato" e outro que, demonstrando indiferença, salientou que a formação norte-americana não era "só o Dave Grohl". Hilariante.

Um trio vencedor que rima com sucesso

Tens reclamações a fazer à RTP? É mandar um e-mail a um destes senhores. Depois, "apaga tudo"

Juntar a NOS, a Everything is New e a renovada RTP num só produto (transmissão televisiva), só podia dar em coisa boa. A última parece trilhar um rumo de mudança – para melhor -, sendo isso visível nas séries em português, nos documentários na 2, ou na recente vitória de Salvador Sobral.

A propósito de "Amar Pelos Dois", Gonçalo Reis (à esq. na foto), presidente do conselho de administração, não se fez rogado e prometeu, em 2018, "organizar o melhor Eurovisão de sempre". Só espero que não sobre mais uma conta para os contribuintes pagarem… Entre várias notas de entusiasmo, Daniel Deusdado, director de programas, deu a conhecer o mote badalado entre a equipa envolvida no evento, isto é, "Santo António em Junho, NOS Alive em Julho". Abençoado (este) serviço público.

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E ninguém convida o Covões para o Governo?

Álvaro Covões (à dir. na foto), o principal rosto por detrás do NOS Alive, disse há uns anos num talk show, que o que faltava em Portugal era "gestão" competente. Com o estado de graça de António Costa a definhar nas últimas semanas e os sucessivos governos repletos de casos, é compreensível a sua manifestação.

A acompanhá-lo na foto acima, estão a directora da Marca e Comunicação da NOS, Rita Torres Baptista, com umas calças vermelhas de cabedal a fazer inveja a semelhante vestimenta que vi, um dia, em Pedro Abrunhosa; e o edil de Lisboa, Fernando Medina, que aproveitou para dar uma bicada ao detractores, ao dizer que vinha ver a Madonna – ele que foi criticado por a ter visitado, no hotel, em Maio último.

Quanto à pergunta que lancei neste tópico, esquece. Covões, que considera que o "grande" prémio deste festival é a presença do público (mais de 160 mil nos três dias), é demasiado inteligente para se queimar em jogos políticos. Muitos agradecem, entre os quais os jornalistas da imprensa internacional a quem presenteou com um jantar antes do arranque do 11º Alive.

Os representantes dos media internacionais experimentaram iguarias portuguesas com o responsável máximo do NOS Alive (na última madrugada de festival, um deles quis andar à porrada com a VICE, mas, gentilmente, declinámos. True story!)

A conversa da Vanessa com as estrelas da companhia

A ver se nos entendemos. Podem existir milhares de opções para além do que acontece on stage, mas os músicos são o centro de tudo. Com o intuito de saber as opiniões de alguns deles, Vanessa Augusto – uma das vozes Antena 3 - esteve à conversa com Phoenix, Alt-J (imperceptível a gravação), Royal Blood e os The Kills.

As entrevistas não trouxeram novidades por aí além, a não ser que é divertido ouvir o sotaque dos franceses a falar em inglês (nomeadamente os Phoenix), ou a informação de que já roubaram três guitarras aos The Kills em Portugal. Se calhar, foram os supostos mercenários de Tancos…

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"Crispy" time!

Vanessa a assistir à ice cream talk entre Fernandes e Galopim

Já se sabe que uma emissão destas vive de momentos humorísticos – e não estou a falar do palco Comédia. O melhor foi quando Pedro Fernandes (PF) questionou Nuno Galopim (NG) se sabia da existência do inédito Acãopamento, que deu uma preciosa ajuda a todos que desejavam ter o seu "melhor amigo" por perto.

Galopim mostrou felicidade pela iniciativa [de que aliás é o inspirador, segundo avançou a própria organização] e confidenciou que o seu cão se chama Crispy devido a um gelado que "gostava muito". Fernandes aproveitou a deixa e perguntou, em jeito de brincadeira, "mas não vais comer o cão, pois não?", fazendo soltar de imediato um sorriso aberto de Vanessa Augusto (ver foto acima).

Noutra passagem, quando se falou do ingresso de PF no mundo da música, Filomena Cautela quis saber se ele tocava algum instrumento, para além de cantar. A gozar, citou ferrinhos e o reco-reco. NG aproveitou para lançar a frase (que ainda estou para saber se foi sarcasmo), "uma banda com pandeireta, é sempre uma boa banda!".

As "nerds" e o "monstro"

Aulas de informática? Contem comigo!

No início da transmissão, os anfitriões informaram que a aplicação digital da RTP daria acesso aos concertos nos seis palcos. Sim, excelente ideia, mas como não estava numa de multitask fiquei somente pelo tradicional Canal 1.

Contudo, foram agradáveis as explicações dadas por Joana Martins e Sara Lima (as "nerds" de serviço) sobre o que podíamos aferir na plataforma online – um "monstro" dos tempos modernos. Por ter ter usado trajes à "Katy Perry", no já citado espaço RTP, em tom provocador, Sara Lima (à dir. na foto acima) afirmou: "Beijei uma rapariga e gostei". Sem informações adicionais, a minha mente flutuou na imaginação…

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Grávidas com vista privilegiada

Queres ver que o Ronaldo anda a recrutar por aqui…?

Para que pudessem ver os concertos descansadas e sem o receio de vaguearem desamparadas por um recinto com milhares de almas, foi instalada uma bancada, com vista para o palco principal, para as futuras mães. Ontem, soube-se que uma delas entrou em trabalhos de parto, durante o concerto dos The XX. Que as vibrações sonoras inspirem o novo bebé.

O essencial: a música

Alison Mosshart (The Kills), blonde milenar com look "heroin chic"

Com a RTP1, foi possível ver o seguinte cardápio entre outras actuações: The Kills (dupla viciante e viciada em rock); The XX (trendy mais trendy não há); Batida (África na sala de aulas); DJ Riot (a "tocar" o genérico de Pulp Fiction); Foo Fighters (como é óbvio, não me ia submeter a duas horas de sacrifício); The Cult (os "cotas" ainda mexem); Local Natives (a cantarolar no meio do público); Bispo (grunhidos para um "Nosferatu" português); António Bastos (The Communards meets Cut Copy em noite Tropical); e Bonobo (chill, que se vai cantar o lounge).

Nem todos os espectáculos foram em directo, ou incluíram a totalidade do alinhamento, mas deu para ir sentindo o que se passava no capítulo da música. Por mais que a comodidade do sofá seja incontestável e a qualidade da transmissão fosse, em determinados casos, alta, nada se compara em estar no local. Mesmo que, às vezes, muitos ao nosso lado estejam concentrados em tudo, menos no essencial.