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Entrevista

Pussy Riot fala sobre sua nova ação de protestos

“No Riot No Pussy” é uma série de projeções com mensagens endereçadas aos líderes da direita.
Nadya Tolokonnikova. Fotos: Pussy Riot / Chris Batte

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Você sabe quem é o Pussy Riot. Mas no caso da sua memória ser muito ruim, vamos repassar os detalhes. A banda punk russa de feministas anarquistas chegou às manchetes em 2012, depois de apresentar sua "Oração Punk" anti-Ortodoxa na Catedral do Cristo Salvador em Moscou. Pelo crime de "hooliganismo", Maria Alyokhina e Nadya Tolokonnikova pegaram dois anos de prisão.

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Depois de cumprir 21 meses de sua sentença, a dupla foi libertada. Quando saíram, o Pussy Riot continuou a se manifestar contra o regime opressivo do Kremlin por vários meios, incluindo um protesto nos Jogos Olímpicos de Inverno em Sóchi, em 2014, e através de sua faixa de 2016 "Straight Outta Vagina". O último trabalho de Nadya, "No Riot No Pussy", é uma série de projeções com mensagens curtas endereçadas aos líderes mundiais.

Falei com ela por telefone no começo da semana.

Foto: Pussy Riot / Chris Batte

VICE: Oi, Nadya. Como seu último trabalho, "No Riot No Pussy", surgiu?
Nadya Tolokonnikova: Bom, anarquistas em Chicago me abordaram e perguntaram se eu queria trabalhar com eles. Eles viram minhas projeções anteriores em 2008, onde projetamos uma bandeira pirata na Casa Branca russa. Quando eles me escreveram, foi como se Chicago tivesse me escolhido.

O que No Riot No Pussy significa?
Você não pode ter acesso a nenhuma boceta sem ser radical.

Faz sentido. O que essas novas projeções abordam?
É sobre todo tipo de cuzão, não só Trump – Putin, Erdogan, oligarcas e elites. Muita gente ficou puta quando Trump foi eleito presidente. Meus amigos norte-americanos ficaram arrasados. Mas é importante não esquecer que ele é apenas uma das muitas pessoas que só querem proteger seu próprio poder, riqueza e privilégios. Desde o começo do século 20 conseguimos muita coisa pelos direitos das pessoas, mas podemos perdê-los se não lutarmos.

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Por que você decidiu projetar essas mensagens em prédios, em vez de numa galeria ou outro lugar do tipo?
A principal ideia dessas projeções é que as ruas pertencem a nós. Com a privatização de espaços públicos, as ruas passaram a pertencer a alguém; às vezes você não pode nem comer um sanduíche sentado na calçada. [Então as projeções são] um gesto básico de reclamar nas ruas para todos. Estamos tentando ser inclusivos, não exclusivos.

Fotos Pussy Riot / Chris Batte

Uma projeção diz Amor Fati, "ame o destino" em latim. Por que você escolheu essa frase?
Amor Fati vem com uma mensagem de "você está morto". Estou dizendo para essas figuras para desfrutarem como vamos derrubá-las. Sabe, tipo, "Relaxe e esteja pronto para deixar seu gabinete". Acho que é uma doença global – sabe, pessoas que tendem a fazer o que querem e agarrar as pessoas pela boceta. Mas acho que é hora para mensagens simples, porque a política voltou à idade da pedra.

Como podemos trazê-la de volta para o século 21?
Precisamos nos organizar para resistir. Isso é muito óbvio hoje em dia, mas ainda vejo pessoas acreditando que alguém vai chegar para salvá-las. Sinto que muita gente nos EUA via Sanders assim. As pessoas o viam como outro homem bom que viria salvar suas bundas. Em vez de esperar e reclamar que ele não é assim tão bom, por que as pessoas não fazem seus próprios movimentos políticos?

Você acha que isso aconteceu em alguma extensão nessa última eleição no Reino Unido?
É similar, mas fiquei feliz com o que aconteceu lá. Gostei do Corbyn por um tempo.

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Como você acha que a esquerda pode progredir?
Quero muito ver versões alternativas de organização, não as mesmas que obviamente falharam. Essa ascensão do populismo por toda parte está tentando convencer as pessoas de que eles podem salvá-las, mas o populismo nunca pode realizar o que as pessoas realmente precisam. Acho que precisamos de uma forma alternativa de esquerda para a globalização. Os movimentos de esquerda por todo o mundo obviamente se apoiam; quando vejo que Corbyn e Bernie Sanders existem em outros países, isso me deixa feliz.

E quanto a Putin?
Putin não é tão poderoso quanto a mídia de direita faz parecer. Nos EUA ele está por toda parte; é um impulso de ego, na verdade. Sim, ele tentou influenciar as eleições – não apenas a norte-americana, mas na França, por exemplo – mas ele não tem tanto poder quanto a mídia nos EUA tenta mostrar. A segunda coisa é que ele não é tão popular assim na Rússia.

Sério? As taxas de aprovação dele são incrivelmente altas .
Quando estive na cadeia, pude falar com pessoas de todas as origens e classes sociais. Na maior parte, a atitude delas é de uma ligeira irritação com ele e sua corrupção, mas elas não sentem que vale a pena tentar mudar a situação agora. Mas é tudo muito imprevisível e não tão estável como a mídia tenta mostrar. Acredito em mudanças políticas. Putin não cumpriu muitas de suas promessas. Ele prometeu estabilidade, mas começou muitas guerras, provocando sanções do Ocidente. Nossa economia está em crise. Não temos estabilidade e a vida das pessoas está cada vez pior.

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Para onde podemos ir agora?
Veja o que está acontecendo nos protestos nas ruas da Rússia, muita gente está se juntando a eles. Muita gente jovem, talvez em seu primeiro ou segundo protesto. As pessoas querem ver uma versão alternativa da nossa situação política atual. Falando no geral, vemos uma falta de imaginação política desde 1989, quando o muro de Berlim caiu. Perdemos imaginação porque há uma ordem mundial, e ela é fundamentalismo de mercado, que é a razão para termos Trump. Os humanos são animais de imaginação e queremos reclamar isso de volta. Nos próximos dez anos, vamos ver uma mudança. Vamos tornar isso de esquerda, não vamos deixar a direita dominar.

Obrigada, Nadya.

A entrevista foi editada para maior clareza.

@PatrickBenjam

Tradução: Marina Schnoor

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